Jovem teria sido jogado no Rio Guandu, segundo moradores de condomínio ‘Minha casa, minha vida’
O corpo de Ellerson Markus Ferreira Loureiro, de 19 anos, desaparecido após ser entregue por síndico de condomínio a milicianos, teria sido jogado no Rio Guandu. Segundo o relato feito por uma testemunha aos agentes, moradores a avisaram que os milicianos “teriam amarrado pedras no corpo de Ellerson e jogado no Rio Guandu”. No momento da prisão, o síndico acusado de ter levado o jovem aos milicianos, Julio Cesar Lima Duarte, de 34 anos, chegou a afirmar que cada morador paga, mensalmente, uma taxa de R$ 70 ao condomínio “Minha casa, minha vida”, mas negou que a quantia seja repassada à milícia.
No relatório do inquérito, o delegado Alexandre Herdy, responsável pelo caso, afirma que “no condomínio Aveiro há forte influência de grupos milicianos, de modo que a lei do silêncio impera na localidade, dificultando a identificação de seus integrantes e de seus atos ilícitos”. As investigações continuam para identificar aos milicianos responsáveis pelo crime.
— Já sabemos que a milícia que age naquele local é a maior do Rio. Mas as investigações não param por aí. Agora, o objetivo é descobrir o paradeiro do corpo, para que a família possa enterrá-lo, e chegar até os responsáveis diretos pela execução — afirmou.
Ellerson saiu da casa da mãe, na Região dos Lagos, após se assumir homossexual em meados do ano passado. Logo se mudou para a casa de parentes beneficiados num condomínio do programa federal “Minha casa, minha vida”, na Estrada dos Palmares, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. No novo lar, a rotina do jovem esbarrou na cartilha da milícia que dá as cartas no condomínio. Após ser acusado de furtar R$ 600 da casa do síndico do prédio, Julio Cesar, em janeiro, Ellerson não foi mais visto. Para a Divisão de Homicídios (DH), o jovem foi amarrado pelo síndico dentro do conjunto habitacional e entregue aos paramilitares. O corpo não foi encontrado até hoje.
Na manhã desta quarta-feira, vinte agentes da especializada prenderam Júlio Cesar em seu apartamento, dentro do conjunto habitacional. O síndico vai responder pelo homicídio e pela ocultação de cadáver de Ellerson. A prisão acontece um mês depois de o EXTRA revelar que todos os 64 condomínios do “Minha casa, minha vida” destinados aos beneficiários mais pobres — a chamada faixa 1 de financiamento — no município do Rio são alvo da ação de grupos criminosos. Na ocasião, a série de reportagens “Minha casa, minha sina” mostrou que, na Zona Oeste, alguns síndicos funcionam como um “braço” da milícia dentro dos condomínios, cobrando o pagamento de taxas de segurança e levando aos paramilitares moradores que não cumprem à risca as regras.
O EXTRA teve acesso, com exclusividade, ao inquérito que investiga o desaparecimento de Ellerson. Segundo o depoimento de um parente, o dinheiro furtado por Ellerson seria usado por Julio Cesar para pagar a taxa mensal cobrada pelos milicianos. “O dinheiro que ele furtou era para pagar a milícia. Ele confessou que havia furtado, eu apenas o amarrei e o entreguei para a milícia dar um corretivo nele. Não sei o que eles fizeram com ele, mas a milícia não costuma deixar vestígios, não”, teria afirmado o síndico à testemunha. Na ocasião, Julio Cesar ainda pediu desculpas à família. Ele não sabia que Ellerson tinha parentes no condomínio.
Fuzil, pistola e granada
Ameaça - Segundo o depoimento do parente de Ellerson, Julio Cesar teria tentado convencer a família a não procurar a polícia para comunicar o desaparecimento. "Não adianta ir na delegacia denunciar, que eles acham vocês onde estiverem", teria afirmado o síndico.
Apreensões - Durante a operação para a prisão do síndico, os agentes da DH também apreenderam, num local próximo ao condomínio, um fuzil, pistolas e granadas. Dois homens foram presos. Os agentes também estouraram um depósito de máquinas caça níquéis.
Série de reportagens - Em março, a série “Minha casa, minha sina”, publicada pelo EXTRA, mostrou nos condomínios do "Minha casa, minha vida" destinados aos beneficiários mais pobres no Rio, moram 18.834 famílias submetidas a situações como expulsões, reuniões de condomínio feitas por bandidos, bocas de fumo localizadas dentro de apartamentos, interferência do tráfico no sorteio dos novos moradores, espancamentos e homicídios.
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/jovem-teria-sido-jogado-no-rio-guandu-segundo-moradores-de-condominio-minha-casa-minha-vida-16149740.html#ixzz3bG9gwp7u
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