quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Maria Criseide, defensora DH, inocente, presa, estuprada n vezes por age...

INTERNAÇÃO, MORTE E ESQUECIMENTO Milena morreu dopada e espancada em uma comunidade terapêutica – o tipo de morte que o governo escolheu ignorar

 

Vestido que Dona Marli enviou para a filha Milena quando ela estava internada no centro Esdras. Foto: Yuri Rosat para o Intercept Brasil

Máquina de Loucos

Parte 2

A série revela como centros terapêuticos lucram com a internação de usuários de drogas sem oferecer um tratamento adequado para a reabilitação. Em alguns casos, há agressão aos internos, tortura, dopagem e prática de intolerância religiosa.


Dona Marli Alves estava desossando um frango na cozinha de sua casa, em São Roque, cidade do interior paulista, para fazer uma doação à igreja católica. Era antevéspera de Ano Novo e ela comemoraria a chegada de 2022 com o marido, uma de suas filhas e seu neto. Sua outra filha, Milena Eduarda de Paula Leocádio, estava internada em uma comunidade terapêutica evangélica na cidade de Cajamar, a 73 quilômetros de distância. Naquele 30 de dezembro, fazia exatos 33 dias que mãe e filha não se viam.

O telefone tocou e Kauê Dias Cercelo, supervisor do Centro de Assistência Social e Apoio Especializado Esdras, onde Milena estava internada, disse do outro lado da linha que Dona Marli precisava correr para o hospital. Milena, ele alardeava, havia sido internada por uma tentativa de suicídio. “Como que ela tentou um suicídio se eu deixei ela para vocês cuidarem?”, nos conta a mãe, relembrando o diálogo daquele fatídico dia. 

Quando Dona Marli chegou, o corpo de sua filha já estava no necrotério. Documentos médicos aos quais o Intercept Brasil teve acesso mostram que a paciente nem foi internada – ela já chegou sem vida à unidade médica. O laudo do Instituto Médico Legal apontaria que Milena morreu por “insuficiência respiratória e intoxicação medicamentosa” – foram encontradas oito substâncias diferentes em seu sangue. 

Ela também tinha marcas de agressão no rosto, cabeça, pescoço, punhos e pernas, conforme também indicaria o laudo do IML. Milena morreu com 22 anos. Ela havia sido internada para tratar o vício com álcool e cocaína. Deixou um filho pequeno, hoje com 7 anos, que passou a ser criado por Dona Marli.

Embora tenha morrido de forma violenta, a morte de Milena não consta em nenhum registro da secretaria de Saúde de São Paulo como tendo ocorrido dentro de uma comunidade terapêutica. Tampouco está documentada em algum arquivo do Ministério da Saúde, do governo federal. 

Foto de Milena Leocádio ainda adolescente, guardada pela mãe em porta-retrato. Foto: Yuri Rosat para o Intercept Brasil

Mortes em comunidades terapêuticas não têm registro

Ocaso dela não é o único. O Intercept pediu ao governo federal, via Lei de Acesso à Informação, o número de mortes ocorridas dentro de comunidades terapêuticas em todo país. A resposta dada pela pasta é que essa informação é inexistente. Fizemos o mesmo pedido à Secretaria de Saúde de São Paulo, que nem sequer respondeu ao nosso pedido.

As comunidades terapêuticas são reguladas pela Anvisa, órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Para funcionar legalmente, precisam de alvará e licenciamento sanitário do município e do governo do estado – no caso de São Paulo, o licenciamento é feito pelo Centro de Vigilância Sanitária, vinculado à secretaria estadual de Saúde. Muitas dessas comunidades terapêuticas recebem recursos públicos. 


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Entre 2017 e 2020, houve um investimento de R$ 560 milhões para financiar vagas de internação em 593 centros terapêuticos no país. A maior parte, R$ 300 milhões, foi bancada pelo governo federal. Atualmente, o governo Lula financia quase 15 mil vagas em comunidades terapêuticas. Só esse ano, já foram repassados mais de R$ 50 milhões do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. 

Apesar das mortes dentro desses espaços não serem catalogadas pelo poder público, a imprensa vem seguidamente reportando casos dessa natureza em vários lugares do Brasil – sejam em centros devidamente regularizados ou clandestinos. Só nos últimos cinco anos, encontramos 20 registros de mortes em comunidades terapêuticas em seis estados diferentes: Alagoas, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. 

No Rio Grande do Sul, foram 11 mortes de uma só vez, após um incêndio dentro de uma comunidade terapêutica irregular na cidade de Carazinho. Outras três pessoas ficaram feridas. Em Santa Catarina, encontramos mais dois casos. Em São Paulo, também são dois registros – sem contar a morte de Milena. Nós procuramos diretamente a secretaria de saúde de cada um destes estados. Em nenhuma delas, havia registros dessas mortes ocorridas em comunidades terapêuticas. 

Eu mandei maquiar a minha filha. Paguei para tirar as marcas. Mas nem a maquiagem escondeu cinco dedos no pescoço dela.

Em 20 de outubro, o Ministério do Desenvolvimento do governo Lula publicou uma portaria estabelecendo regras de fiscalização em comunidades terapêuticas. O texto permite que as fiscalizações possam ser feitas por terceiros, desde que contratados por órgãos integrantes do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. Nessa portaria, as vistorias podem ser feitas até à distância, desde que sigam um questionário específico. Deputados federais do Psol apresentaram um Projeto de Decreto Legislativo para suspender a portaria por entender que a mesma afrouxa as regras de fiscalização nesses espaços.

Isso porque, além das mortes, há inúmeras denúncias também de maus tratos, agressões e torturas ocorridas nestes centros. Milena, por exemplo, estava internada no mesmo local que o Ministério Público de São Paulo fecharia mais de um ano depois, em janeiro de 2023. Depois de denúncias anônimas, o MPSP e a Polícia Civil foram ao local e encontraram 75 internas em situação degradante, sofrendo com agressão física, tortura, intolerância religiosa e sendo medicadas sem prescrição médica. 

O Intercept mostrou como era a vida das internas no Esdras e todos os horrores que sofreram durante a internação na primeira reportagem da série ‘Máquina de Loucos’. Os responsáveis pelo centro foram presos em flagrante durante a batida policial. Depois, a prisão foi convertida em preventiva.

Denúncia do MPSP destacando que os responsáveis pelo centro Esdras comandavam uma organização criminosa

Milena teria sido espancada dentro de centro terapêutico antes de morrer

Ocorpo de Milena foi transferido para São Roque e foi sepultado em sua cidade natal no primeiro dia do ano de 2022. “Eu mandei maquiar a minha filha. Paguei para tirar as marcas. Mas nem a maquiagem escondeu cinco dedos no pescoço dela. Todos viram no velório o quão machucada ela estava”, contou Dona Marli, às lágrimas.

Três dias após sepultar sua filha, Dona Marli conta ter recebido uma ligação de Talita Assunção de Paula Santana, uma das sócias do Esdras. “Ela morreu de infarto mesmo, né?”, Santana teria perguntado ao telefone. Dona Marli respondeu não saber, mas compartilhou suas suspeitas sobre o possível assassinato da filha. “Aqui não tem maus-tratos”, a dona da clínica teria respondido, na sequência. 

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Talita Santana foi uma das presas em flagrante durante a operação do MPSP. Ela segue detida desde então, assim como Marcos Gaudêncio Moglia, outro responsável pelo Esdras, mas que usava o nome da esposa para formar a sociedade.

Em sua denúncia, o Ministério Público de São Paulo é enfático em afirmar que Talita Santana e Marcos Moglia montaram uma “organização criminosa”, com o intuito de obter “vantagem econômica”, e os funcionários do centro, orientados pelos donos, atuavam de forma a manter o “terror interno” e a “lucratividade do negócio”.

Um boletim de ocorrência foi feito no mesmo dia da morte de Milena. Seu corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal para perícia. Foram realizadas análises das marcas, busca por substâncias no sangue e um espermograma, utilizado para detecção de estupro – não foi identificada violência sexual. 

No sangue da paciente foram encontradas oito substâncias diferentes. Milena tomava dois remédios controlados regularmente: clorpromazina, indicado para tratamento de psicoses e controle de ansiedade, e risperidona, utilizado em transtornos mentais como a bipolaridade. O centro Esdras sabia do uso da substância e a dosagem correta que deveria ser aplicada na paciente – a própria Dona Marli mandava os medicamentos via Sedex para a filha.

O exame necroscópico encontrou a presença de apenas um dos medicamentos que Milena deveria tomar: o clorpromazina. Também foram detectados haloperidol, prometazina, levomepromazina, diazepam e clonazepam, além de nordiazepam e 7-amino clonazepam – metabólitos dos últimos dois medicamentos, respectivamente. 

Das drogas encontradas, três são antipsicóticos, dois são benzodiazepínicos e um é antialérgico. Ouvimos um psiquiatra que relatou que a lista de medicamentos encontrados demonstra um coquetel de sedação. Os antipsicóticos causam bastante sonolência, efeito também provocado pelo antialérgico. Já os benzodiazepínicos atuam na mesma parte do cérebro afetada pelo álcool – e, em doses mais altas, podem provocar insuficiência respiratória.

As pacientes do centro Esdras ouvidas pelo Intercept disseram que essa mistura de medicamentos era conhecida como “danoninho”. Os medicamentos, dizem, eram administrados de forma punitivista, como castigo às internas, pelo supervisor Kauê Cercelo. “O Kauê misturava com um pouco de água, e obrigava qualquer pessoa a tomar, desde que não seguisse as regras impostas por eles”, relembrou Jackeline Lopes, ex-paciente. Cercelo não possui qualquer certificação médica.

O laudo do IML apontou que a morte de Milena ocorreu “por quadro de depressão respiratória, após administração conjunta de drogas neurolépticas e depressoras do sistema nervoso central”. Ao responder aos requisitos médico-legais para afirmar a morte, o relatório do IML é direto: Milena morreu por “insuficiência respiratória e intoxicação medicamentosa”.

Quando foi morta, a filha de Dona Marli estava internada pela segunda vez no centro Esdras. Na primeira vez, em julho de 2021, a jovem ficou por 45 dias e foi retirada pelos seus pais. Depois disso, ela passou por outras comunidades terapêuticas, onde permaneceu por pouco tempo até voltar para sua casa. Em novembro de 2021, Milena foi novamente internada e o lugar escolhido foi novamente o centro Esdras.

Uma ex-funcionária do centro entrou em contato meses depois da morte de Milena para pedir perdão a Dona Marli. Ela contou ter sido a primeira pessoa a encontrar Milena, já morta, dentro do quarto. O Intercept teve acesso ao relato dessa ex-funcionária por meio de um áudio gravado no WhatsApp. Segundo ela, Milena estaria amarrada, machucada e com uma meia dentro da boca. 

A funcionária diz ter gritado e alertado Kauê Cercelo. Ele entrou no quarto e gritou para Milena parar de fingir, enquanto chutava a cabeça dela. Somente após as agressões e a falta de resposta de Milena, Cercelo a teria levado ao hospital. 

Dona Marli soube depois, por um enfermeiro do Hospital Municipal de Cajamar, que Cercelo chegou na unidade de saúde “fazendo um teatro”, dizendo que Milena “estava com uma respiração fraquinha” e pedindo ajuda médica. No entanto, segundo o próprio enfermeiro, ela já estava morta – o que seria constatado pelos médicos momentos depois. Hoje, o próprio funcionário é testemunha de Dona Marli no processo que investiga a morte de sua filha. 

Dona Marli busca na justiça punir os responsáveis pela morte de sua filha Milena. Foto: Yuri Rosat para o Intercept Brasil

Investigação da morte ficou um ano parada na polícia de Cajamar

OBoletim de Ocorrência registrado por Marli na noite da morte de sua filha ficou parado no 1º Distrito Policial de Cajamar por um ano. Foi só em janeiro de 2023 que o delegado responsável pelo caso, Odair Leitão Rocha, transformou o registro em inquérito policial. 

Não existe um prazo formal para a instauração do inquérito, estando a abertura da investigação a cargo do delegado responsável – com exceção apenas a casos de tráfico de pessoas. Segundo um perito criminal ouvido pelo Intercept, porém, a demora de um ano para emissão do laudo necroscópico e o acesso da delegacia ao mesmo documento não são procedimentos comuns.

O primeiro ouvido na delegacia foi o supervisor Kauê Cercelo. Nós tivemos acesso à documentação. Cercelo foi demitido por justa causa do Esdras um dia antes do seu depoimento à Polícia Civil, mas compareceu ao distrito policial com documentos internos da primeira passagem de Milena pelo centro. Ele alegou que “a paciente passou mal e foi socorrida ao Pronto Socorro do Hospital de Cajamar, onde foi internada e posteriormente faleceu”. 

Questionado sobre as lesões e medicações encontradas no corpo de Milena, Cercelo disse ter tido acesso ao laudo necroscópico – que a própria Polícia Civil havia acessado apenas um dia antes do depoimento –, e que “as lesões apresentadas na vítima não tiveram relação com o Esdras e, possivelmente, com a instituição de origem”, se referindo à comunidade terapêutica Fator Humano, de Sorocaba, onde Milena estava internada anteriormente.

O argumento já havia sido utilizado por ele na noite da morte de Milena, e consta na ficha médica do hospital que recebeu a jovem. Em relação às oito substâncias identificadas no laudo do IML, Cercelo disse que “tais medicamentos não foram ministrados pela Clínica, exceto o medicamento Clorpromazina”. Novamente, ele responsabiliza o centro de Sorocaba pela aplicação exagerada das substâncias.

Para o delegado Rocha, foi o suficiente. “Nada mais disse nem lhe foi perguntado”, encerra o depoimento. Dois dias depois, o delegado pediu que os autos fossem remetidos à Sorocaba, numa tentativa de transferir a investigação da morte para outra cidade. O pedido foi negado pela justiça, após pedido do MP paulista.

Considerando que Milena deixou a clínica de Sorocaba em 25 de novembro de 2021, e seguindo a lógica do depoimento de Cercelo, as substâncias identificadas no exame estavam em seu organismo há pelo menos 36 dias quando ela morreu. O psiquiatra ouvido pelo Intercept é cauteloso quanto à possibilidade dos medicamentos estarem no organismo de Milena por mais de um mês, mas afirma que a chance é mínima. 

Todos os medicamentos ingeridos possuem meia-vida entre dez e 100 horas – incluindo os metabólitos. Isso significa que, se tomados em 25 de novembro, apenas 50% do nível de detecção dos medicamentos estaria disponível no sangue de Milena quatro dias depois. Seguindo esse cálculo, as medicações já não seriam detectáveis a partir do dia 5 de dezembro, 25 dias antes de sua morte. A única exceção é o antipsicótico clorpromazina, que ainda poderia ser detectado por algumas semanas.

Cercelo não prestou novo depoimento e segue até hoje sem ser localizado pela justiça. Ele também foi denunciado pelo Ministério Público por fazer parte da organização criminosa que era tocada na empresa.

A Polícia Civil teve 25 dias para convocar os responsáveis pelo centro Esdras para depor, considerando o dia em que foi aberto o inquérito até o dia em que a clínica foi fechada pelo MPSP. Nenhum dos envolvidos foi ouvido. O espaço também nunca foi visitado. Apesar do MPSP ter constatado que existiam muitas câmeras de vigilância no local, nenhuma imagem delas foi buscada ou anexada ao inquérito.

Em 11 de agosto, sem concluir as investigações, a Polícia Civil de Cajamar recebeu mais 90 dias de prazo, que se encerrou em 11 de novembro deste ano. Hoje, 12 meses após o início das investigações, o inquérito ainda não foi concluído. Procuramos a Polícia Civil, mas não houve retorno aos nossos questionamentos. Também tentamos contato com os advogados de Talita Santana e Marcos Moglia, sócios do centro Esdras. O primeiro não respondeu nossos contatos e o segundo não foi localizado.

Vestido que Dona Marli enviou para a filha Milena quando ela estava internada no centro Esdras. Foto: Yuri Rosat para o Intercept Brasil

Espancamento em comunidade terapêutica de São Paulo

Ocaso de Milena é trágico, mas não único. Em 26 de setembro de 2023, uma comunidade terapêutica exclusiva para homens foi fechada em Embu-Guaçu, município de São Paulo, após um paciente ter sido morto por cinco funcionários. 

Onésio Ribeiro Pereira Júnior tinha 38 anos e estava internado na Kairós Prime desde agosto. Testemunhas ouvidas pela reportagem da TV Globo afirmam que ele foi levado a uma sala e espancado, por cerca de três horas, com tacos de sinuca e pedaços de madeira. O motivo da agressão teria sido porque os funcionários teriam descoberto que ele planejava fugir.

Ele foi colocado em um carro e levado a uma Unidade Mista de Saúde de Embu-Guaçu, mas médicos ouvidos por guardas civis disseram que ele deu entrada no hospital já sem vida. Onésio tinha marcas de violência pelo corpo. 

As testemunhas ouvidas pela Globo disseram que o local onde Onésio foi espancado foi lavado em uma tentativa de dificultar uma possível perícia policial. As câmeras de vigilância foram retiradas do espaço onde ocorreu o espancamento. Elas também relataram que agressões eram frequentes na clínica. “Eles simplesmente espancavam mesmo. Eu apanhei também, assim que cheguei, porque reclamei da comida”, disse à reportagem da TV Globo uma delas.

Nós tentamos falar com a mãe de Onésio, mas ela disse que não tinha condições de dar entrevista. À Rede Globo, os familiares de Onésio disseram que, em ligação, os responsáveis pela clínica teriam dito para eles que o interno “estava passando mal e foi levado para o hospital”, mas ao chegar no hospital o médico que recebeu o corpo disse ao familiar que Onésio “estava morto há mais de uma hora”.

Os cinco funcionários envolvidos foram presos em flagrante e o caso foi registrado como homicídio, sequestro, cárcere privado e tortura. A clínica, que funcionava sem alvará, foi fechada no dia seguinte pela prefeitura de Embu-Guaçu. A Polícia Civil diz investigar a responsabilidade criminal do dono da clínica.

As autoridades parecem ter agido rapidamente, mas essa não era a primeira denúncia contra a Kairós Prime. Em março deste ano, seis meses antes do homicídio, três outros funcionários da clínica foram presos após um interno de 27 anos ser encontrado morto e com marcas de agressão. Nós tentamos contato com a Kairós Prime pelo telefone que consta no registro da Receita Federal, mas não fomos atendidos. Ueder Santos de Melo, dono da Kairós Prime, disse ao G1 logo após a morte de Onésio que agressões não fazem parte da política da clínica e que, como gestor, nunca tinha visto isso acontecer – mesmo com duas mortes violentas em seis meses. Melo foi preso preventivamente em 19 de outubro, por indícios de responsabilidade na morte de Onésio. Com ele, foram apreendidos armamentos com registro de CAC.

ULTRAJANTE! A repórter Schirlei Alves foi condenada a um ano de prisão aberta e multa de R$ 400 mil por ter revelado no Intercept Brasil a revitimização de Mari Ferrer por autoridades judiciais em seu processo de estupro.

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Fonte.https://www.intercept.com.br/


EMPRESA DE FILHO DE VICE-PREFEITO DESTRUIU SÍTIO ARQUEOLÓGICO PARA MONTAR ESCRITÓRIO NO ESPÍRITO SANTO

Sítio arqueológico na cidade de Anchieta remonta a civilização indígena de 600 anos.

Sem licença ambiental e autorização do Iphan, a construtora Tecfort avançou sobre área de sítio arqueológico indígena de 600 anos para construir escritório e galpão.

UM ESCRITÓRIO e um galpão metálico de 368 metros, usado como estacionamento, foram erguidos por uma construtora em cima do sítio arqueológico Bota Fora/Rio Una 1, na cidade de Anchieta, ao sul do Espírito Santo. A situação foi descoberta em setembro deste ano, quando fiscais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, encontraram  pedaços de cerâmicas coloridas, possivelmente de origem Tupiguarani, fragmentos de lanças, e solo antrópico perto da estação de tratamento de esgotos da Companhia Espírito-santense de Saneamento, a Cesan.

A empresa responsável pela obra é a Tecfort, uma construtora que tem como proprietário Ramon Albani de Souza. Ele é filho de Carlos Waldir de Souza, do MDB, atual vice-prefeito da cidade. O sítio Bota Fora/Rio Una 1 foi tombado há 10 anos pelo Iphan – ele representa uma civilização que viveu naquele local no período pré-colonial, de quase 600 anos atrás. 

Anos atrás, no local de construção do galpão, existia um lixão chamado Bota Fora. “Apesar do descarte irregular de resíduos ali, a matriz arqueológica do solo ainda estava presente. E de certa forma ainda está. Apesar desta atividade ter causado um impacto, não foi capaz de destruir completamente. Por isso houve um procedimento judicial, movido pelo Ministério Público Federal”, contou Yuri Batalha, técnico do Iphan. 

Em 2008, o governo do Espírito Santo recomendou o fechamento de todos os lixões e o aterro foi desativado. Só voltou a ser ocupado este ano pelo galpão da TecFort, que além de estacionamento também usa como depósito da construtora.

Nos arquivos do Iphan, a partir de relatórios de pesquisa, o sítio arqueológico a céu aberto é caracterizado como relacionado aos indígenas tupiguaranis, “onde é possível observar a presença de artefatos míticos, cerâmica com decoração policromada ou plástica e restos humanos”, diz trecho do documento.  Registros arqueológicos costumam ser protegidos pelo Iphan para estudar o processo de ocupação humana em determinadas regiões.

Segundo a arqueóloga Loredana Ribeiro, que fez um reconhecimento do local, em 2006, o sítio arqueológico possui mais de 75 mil metros quadrados. “É uma área urbana, então os artefatos foram arrastados pelo movimento dos carros e das pessoas. Poderia ser uma aldeia menor ou maior, mas não há dúvidas de que era uma aldeia indígena bem grande. É inquestionável a relevância que este sítio poderia trazer como quantidade de informações a respeito daquele povo, como a vida cotidiana, alimentação, lazer, como essa aldeia se articulou com outras. Tem uma relevância científica, cultural, social absurda “, explicou.

Em Anchieta, às margens beiras do rio Benevente, há pouco mais de um quilômetro do galpão recém-construído, fica o Porto do Mandoca, tombado em dezembro, também com antigas construções com restos de moluscos, chamadas de sambaquis, além de vestígios de fornalhas primitivas utilizadas para a produção de cal. O processo de tombamento desse local está em análise. 

“Fazer uma intervenção destrutiva em um sítio arqueológico conhecido há décadas é muito grave, do ponto de vista de infração da legislação. Eu já havia denunciado a Prefeitura por conta do lixão Bota Fora. Quem define essa infração é o Iphan, já que, desde a década de 1960, o patrimônio arqueológico pertence à União”, diz Ribeiro.

O caso do galpão ainda está em análise, mas, segundo Batalha, o dono do galpão pode ser obrigado a custear algum projeto arqueológico, como a construção de um museu. Ou pagar uma multa em valor estabelecido pelo Ministério Público.

Prefeitura dispensou licença ambiental para empresa do filho do vice-prefeito

Mesmo com a área protegida, a Secretaria de Meio Ambiente da cidade dispensou a necessidade de licenciamento ambiental para a obra. A Secretaria de Infraestrutura municipal até solicitou à empresa Tecfort um parecer favorável do Iphan, mas liberou o início das obras, em 10 de janeiro, mesmo sem a presença deste documento – que até hoje não consta na documentação da empresa.

Uma semana antes, Souza, proprietário da Tecfort, levou uma multa da Secretaria municipal de Meio Ambiente ao ser flagrado retirando parte nativa da vegetação sem autorização. Ele, então, entrou com pedido de dispensa de licenciamento e foi prontamente atendido pelo órgão. 

Em resposta ao ofício emitido pelo Iphan, a prefeitura de Anchieta alegou que possui “fundadas dúvidas se a citada construção encontra-se dentro dos limites dos sítios arqueológicos”. Segundo eles, houve “falha na comunicação entre as secretarias [de Meio Ambiente e Infraestrutura] municipais”. 

Mais do que isso. A Secretaria solicitou que se fosse para estabelecer algum tipo de compensação ao dano, que fosse tratado “exclusivamente de forma administrativa”, sem o embargo da obra ou recuperação da área.  E chegou a dizer que o estrago ambiental já foi feito, e “sob o ponto de vista ambiental a área edificada não mais poderá ser prospectada”.

Mesmo antes da construção do galpão, em 2014, o Ministério Público Federal já tinha proposto uma ação pública para avaliar os danos causados ao sítio arqueológico em outras intervenções urbanas.  Na ação, o MPF cobra do município um compromisso de contratar uma empresa para manutenção e estudo dos artefatos arqueológicos. Segundo o laudo de vistoria do Iphan, a última movimentação do processo era “justamente o resgate do sítio arqueológico que agora encontra-se parcialmente destruído”. 

Empresa Tecfort vence todas as licitações de Anchieta, acusa vereadora

Além da construção irregular, a Tecfort é acusada pela vereadora de oposição Márcia Assad, do Podemos, de vencer todas as licitações municipais desde o início da atual gestão, de Fabrício Petri, do PSB. Além dela, outra empresa também estaria sendo favorecida nas disputas: a SP Engenharia, que pertence a  Thesley de Souza Porto, sobrinho do dono da Tecfort. 

“Eu tenho feito requerimentos à prefeitura e aos secretários desde 2021 para obter mais informações sobre esses contratos. Não tem nada nem no Portal da Transparência. Aqui temos duas empresas que monopolizam as licitações, sempre dominando  as principais obras da cidade. Construção de escola por R$ 12 milhões, reforma de praça por mais R$ 4 milhões”, disse Assad ao Intercept Brasil.

Entramos em contato com Ramon Albani de Souza, dono da construtora, mas ele não se manifestou sobre nossos questionamentos. Apenas encaminhou o contato de Flávio Simões, assessor de comunicação da Prefeitura. Por telefone, Simões repetiu a justificativa dada pela gestão municipal em ofício ao Iphan. Disse ainda que “os processos de expedição de licenças e alvarás são muito rápidos em Anchieta”e que “não houve nenhum beneficiamento por se tratar da empresa do filho do vice-prefeito”.

ULTRAJANTE! A repórter Schirlei Alves foi condenada a um ano de prisão aberta e multa de R$ 400 mil por ter revelado no Intercept Brasil a revitimização de Mari Ferrer por autoridades judiciais em seu processo de estupro.

A reportagem levou a uma lei nacional, à censura do juiz e desencadeou um debate nacional que os membros do judiciário não querem ter. Esse é o impacto de nosso trabalho.

Agora eles querem nos silenciar. Nos ajude a resistir e a cobrir os custos legais de Schirlei e de todos os nossos jornalistas.

Fonte.https://www.intercept.com.br/



Morre jovem negro que teria sido baleado por policiais após ser confundido com assaltante

Segundo familiares, Wesley Barbosa da Conceição foi baleado duas vezes no abdômen na região central da capital paulista

Ato contra o racismo

Ato contra o racismo (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil).

Por Brasil de Fato | São Paulo (SP) - O jovem Wesley Barbosa da Conceição, de 29 anos, alvo de tiros que teriam sido disparados por um policial militar, morreu nesta quinta-feira (28), em São Paulo (SP). 

Segundo familiares, o rapaz foi baleado duas vezes no abdômen, na noite do último dia 21, na Avenida 23 de Maio, na região central da capital paulista. Wesley trabalhava vendendo doces no semáforo.

Em relato ao Brasil de Fato, o irmão do jovem – que terá o nome preservado – disse que a polícia teria confundido o rapaz com um suspeito de assalto. 

"O meu irmão estava trabalhando, e vieram uns moleques de outras comunidades e roubaram no farol. Meu irmão é mais preto do que eu – ele é preto, preto mesmo”, enfatiza. “Os moleques correram. Ele [Wesley] estava andando, e os policiais confundiram ele com o ladrão e atiraram", relatou à reportagem no dia do ocorrido.

Em nota enviada ao Brasil de Fato, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou que "todas as circunstâncias relativas aos fatos são investigadas por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pela Polícia Militar". Ainda segundo a pasta, a arma do policial e os carregadores foram apreendidos.

O SSP também informou que agentes utilizavam Câmeras Operacionais Portáteis (COP) no momento da ocorrência e que "as imagens estão sendo minuciosamente analisadas".

Segundo o irmão da vítima, Wesley foi socorrido após uma espera de aproximadamente duas horas, e a família teve notícias dele somente no dia seguinte. O jovem passou por cirurgia e permaneceu internado.

Ainda de acordo com familiares do rapaz, policiais militares estiveram no hospital e chegaram a entrar no centro cirúrgico, sem explicar o motivo. 

Jovens negros são os principais alvos de violência policial em São Paulo 

Se confirmado que os tiros partiram da PM, a morte de Wesley Barbosa se soma às estatísticas de letalidade policial. 

Segundo o levantamento "Pele Alvo: a bala não erra o negro", elaborado pela Rede de Observatórios, 63,9% dos mortos por agentes de segurança no estado de São Paulo são negros. 

Na capital paulista, das 157 mortes registradas nessas circunstâncias, 108 pessoas eram pretas ou pardas. Jovens com idade entre 18 e 29 anos são a maioria das vítimas. Eles representam 53,94% do total.

Fonte.Brasil247.com 









Nova Iguaçu realiza Dia D Vacinação contra a gripe

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