Primeiro, Wanderlea dos Santos Silva, de 41 anos, ficou receosa. Depois, até que encarou a situação com bom-humor. Agora, no entanto, a dona de casa do Vale Ipê, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, parece estar cansada de falar sobre as cenas quentes que protagonizou com um rapaz de 27 anos no carnaval de Rio das Ostras, no Norte do Estado. Um vídeo em que o casal estaria fazendo sexo na praia caiu na internet e deu o que falar na última semana.
- Tô cansada, estressada, passando mal. Eu estou cansada das pessoas me criticando. O que eu tinha para falar, já falei: que não fiz sexo. Estou ganhando o quê? Nada. Só estou ganhando fama de safada, de mãe horrível - reclama Wanderlea, que tem um casal de gêmeos de 9 anos: - Ninguém tá me dando nada. Minha casa está aqui, com goteira. Então, para fazer entrevista comigo, agora, só pagando cachê.
Companheira de Johne Max Geraldo dos Santos (ou apenas Max), de 38 anos, com quem mora desde o fim do carnaval, a “Cicarelli de Rio das Ostras” também está na bronca com o homem que aparece no vídeo que a deixou famosa. Afinal, ele chegou até mesmo a desmenti-la, confirmando que os dois teriam mantido, sim, relações sexuais no mar.
- Por que ninguém procura também o cara que estava comigo? Só querem saber de mim, e dele, nada. Por que isso? - questiona Wanderlea.
Um morador de rua morreu em uma padaria próxima à praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na Zona Sul, do Rio, e teve o corpo coberto com um plástico preto por cerca de duas horas até que fosse recolhido. O fato de o estabelecimento ter permanecido aberto impressionou o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, que manifestou seu espanto numacrônica publicada no Globo neste domingo, 29.
"A morte é o novo banal. A prova é que ela agora estava jogada, também sem escândalo, entre os bolos e os sorvetes na padaria do quarteirão", criticou.
No texto, o autor relata que a morte súbita do homem ocorreu por volta das 8h da última sexta-feira, 27, quando ele apareceu para mais uma vez pedir um pouco de comida.
"O homem morto no chão da padaria era o mesmo que todo dia entrava para pedir que lhe pagassem um café com pão e manteiga. Era um mendigo, preto. Andava desaparecido, dizem que em tratamento contra a tuberculose", escreveu.
Além de cobrir o cadáver com um plástico preto, o jornalista contou que a padaria montou um cercadinho de cadeiras para mantê-lo afastado dos clientes. Um deles teria pedido que o ambiente fosse fechado, argumentando ser uma questão "sanitária e humanitária". O responsável pela loja, contudo, não atendeu a sua demanda.
“Ninguém teve humanidade quando ele estava jogado na rua”, respondeu o comerciante, de acordo com o jornalista. “Agora que morreu jogado na minha padaria querem que eu tenha humanidade”.
O tiro saiu pela culatra. O atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) acabou por "motivar" os eleitores anônimos e famosos a utilizarem o famoso chapéu Panamá para votação do segundo turno no Rio de Janeiro neste domingo, dia 29. Na sexta-feira, o candidato atacou o rival Eduardo Paes (DEM), afirmando que o rival usa “chapeuzinho de Zé Pilintra”, uma entidade da umbanda, durante os desfiles do carnaval carioca. A cantora Alcione escolheu uma roupa azul e colocou o seu adereço para exercer o direito de cidadã. Em uma publicação nas redes sociais, Marrom deixou claro o seu apoio a Eduardo Paes e homenageou "Seu Zé Pilintra". O gesto foi adotado também pela sambista Teresa Cristina e a porta-bandeira da Portela Lucinha Nobre.
Eleitor do ex-prefeito, o cantor Igor Kartnaller, de 32 anos, brincou que nem o melhor marqueteiro teria pensado em incentivar os apoiadores de Eduardo Paes a utilizarem o famoso chapéu. Em uma escola no bairro da Penha, no subúrbio carioca, o carioca fez uma selfie para registrar o momento em que votou com o adereço.
— Eu já votaria no Paes, mas muitos amigos foram induzidos a votar nele após a fala preconceituosa do Crivella. Tenho vários amigos de matizes africanas que se reuniram e combinaram de todos irem com o chapéu Panamá. É a nossa manifestação silenciosa. É inacreditável que, em pleno século XXI, um candidato trate de forma pejorativa qualquer adereço que faça parte de outra religião — diz.
Segundo Igor, a revolta na sua "bolha" foi tamanha que muitos amigos que iriam anular o voto no segundo turno das eleições municipais mudaram de opinião e optaram por Eduardo Paes. E, claro, todos com o "chapéu de Zé Pilintra" na cabeça.
— Aqui no subúrbio, o chapéu Panamá significa representatividade. Todos fomos ofendidos. Saí aqui na feira e vi muita gente usando o mesmo chapéu. Nenhum marqueteiro pensaria uma coisa tão genial quanto essa. Crivella acabou ajudando a dar mais votos ao Eduardo Paes — diz o cantor.
Chapéu como apoio e proteção contra o sol
O sol não foi o único motivo que fez Arcindo José, conhecido como Soca, tirar o seu chapéu no estilo Zé Pilintra do armário. Presidente da escola mirim da verde e rosa, a Mangueira do Amanhã, Soca afirmou que não perdeu uma palavra do debate na última sexta-feira e, após o acessório ser usado como uma forma de ataque de Crivella a Paes, resolveu colocar seu chapéu verde em homenagem à escola de samba, para manifestar seu apoio a Paes. De acordo com ele, o prefeito não tem respeito à religião alheia e deixou a cidade entregue à própria sorte.
— Resolvi usar por total apoio ao Paes contra a imundice que está aí. A cidade está entregue à própria sorte. Não tem remédio, clínica da família. Professor não recebe salário. Crivella não tem respeito à religião dos outros. E ainda tem os Guardiões do Crivella.
Aos 72 anos, dona Anita Nobre não precisaria votar, mas resolveu sair de casa mesmo com o calor e no meio da pandemia para votar no candidato do DEM. Essa é a terceira vez que ela sai do seu isolamento. Com o chapéu na cabeça como manifestação de apoio ao Eduardo Paes, ela foi acompanhada de sua filha, a porta-bandeira da Portela Lucinha Nobre, de 44 anos, que também usava o acessório.
— Somos do carnaval, apoiamos o Paes. Não podemos apoiar intolerância religiosa — declarou Lucinha.
O chapéu já fazia parte do guarda-roupa do fonoaudiólogo Reinaldo Lopes, de 53 anos, mas, neste domingo, ele também resolveu tirar o acessório do armário para se manifestar:
— Vi o debate, foi ridículo. O prefeito precisa sair, ele vai destruir o Rio. Quando tem o ruim e o péssimo, a gente vai no ruim. Eu já tinha esse chapéu e, quando vi, pensei que precisava usar para expressar meu repúdio ao Crivella.
Selfie de chapéu bomba nas redes
O morador da Rocinha Jorge Mariano, de 52 anos, disse que fez questão de ir votar com chapéu de “Zé Pilintra” após a declaração de Marcelo Crivella no debate da TV Globo. Ele afirmou que espera que a próxima gestão da cidade respeite mais a cultura e o espírito carioca.
— Ele (Crivella), como religioso, jamais poderia ter usado a palavra para um ataque desse tipo. Isso mostra o desespero dele. Não tinha o que fazer a não ser atacar. Mas não jogo esse preconceito só nas costas dele não, grande parte da sociedade pensa assim— disse o autônomo, que declarou voto em Eduardo Paes. — Não tem nem com eu esconder em quem vou votar, né?
Também morador da Rocinha, Jorge Kadinho foi outro eleitor a se manifestar politicamente pelo uso do item.
— A gente está numa sinuca de bico, porque o Crivella foi um péssimo gestor. Nesse momento, o Rio precisa dar 300 passos atrás, que é eleger o Eduardo Paes, pra daqui a quatro anos a gente colocar alguém melhor — explicou.
O EXTRA visitou duas escolas que funcionam como zona eleitoral na manhã deste domingo. Na primeira delas, na Barra da Tijuca, o movimento ainda era fraco no início da manhã e não apresentava filas nas seções. A segunda, na Zona Sul da cidade, já apresentava um movimento mais intenso, apesar do forte calor da cidade. Os cariocas foram às urnas munidos de roupas frescas, óculos de sol e variados chapéus.
Nas redes sociais, o comentário foi entendido como um ato de intolerância religiosa. Como resposta, os moradores da capital fluminense que apoiam Eduardo Paes usaram o chapéu e publicaram fotos nas redes sociais com a hashtag #zepilintra. A cantora Teresa Cristina compartilhou uma foto com um chapéu nas cores da Portela: azul e branco, sua escola do coração, e com o seu nome. Ela deixou claro que votaria em Paes e usaria o adereço neste domingo. Já pela manhã, a cantora publicou uma selfie com o chapéu e o comprovante do voto.
Veja as publicações compartilhadas nas redes sociais: