"Na França todo mundo se uniu pra não deixar a nazista vencer, aqui ninguém deu a mínima em 2018", lembrou o cantor
RIO — Reconhecido internacionalmente por sua luta pelos direitos do povo Ianomâmi, Davi Kopenawa não vê motivos para comemorar os 30 anos da demarcação da maior terra indígena do país daqui a um mês e diz que este é o pior momento para os 30 mil ianomâmis que vivem nas comunidades invadidas em Roraima, onde há, segundo ele, muito mais garimpeiros. “Dentro e e fora de nossas terras, há mais de 100 mil garimpeiros”, diz o líder indígena, que acusa o presidente Jair Bolsonaro de incentivar a atividade ilegal.
Em São Paulo para a exposição do amigo fotógrafo Sebastião Salgado sobre a Amazônia, Kopenawa, que preside a Hutukara, associação ianomâmi que completa 66 anos, diz ao GLOBO que a floresta está destruída pelo garimpo e que se sente ameaçado. “Garimpeiros têm raiva de mim”, afirma o autor de A Queda do Céu, com o antropólogo francês Bruce Albert.
O senhor ajudou a denunciar à ONU, em 1992, o massacre de Haximu, quando 12 ianomâmis foram mortos por garimpeiros. A homologação da Terra Indígena Yanomami foi homologada melhorou a vida do seu povo?
Melhorou um pouquinho, mas os invasores retornaram com o garimpo forte desde 2016. Em 2022, há muita gente envolvida (com o garimpo), autoridades, grandes empresários. As autoridades brasileiras não estão preocupadas com a gente. Nem Funai e nem governo. Pelo contrário, (eles) querem tirar o ouro da terra ianomâmi.
Há crianças e mulheres em território Ianomâmi?
Garimpeiros que estão na terra ianomâmi não levam a mulher deles para usar lá. Eles abusam de nossas índias, estuprando, levando doença. Hoje é o mais grave momento do povo ianomâmi. Nas minhas contas, há mais de 100 mil garimpeiros.Nós denunciamos, mas as autoridades estão nos ignorando.
Há grande número de crianças desnutridas nas aldeias. O povo ianomâmi está passando fome?
Na minha comunidade não estão passando fome, porque não deixamos o garimpo entrar. Mas onde há garimpo, há fome. Nossos parentes de Roraima, onde estão os rios Uraricoera, Palimiú, Mucajaí e Apiaú, que hoje são contaminados, não têm peixe. É garimpeiro que está causando isso. Eles estão doentes, de malária e oronavírus. Jovem ianomâmi hoje está sendo enganado. A maioria está lutando, mas os que estão com o garimpo vão por dinheiro, por bebida alcoólica. Não vão ganhar nada, só doença.
O senhor vai a uma exposição sobre a Amazônia. Há solução para a floresta?
A solução passa por nós indígenas. A Floresta Amazônica é mesmo o pulmão da Terra, do planeta. Mas agora o pulmão está destruído. Para mim, para meu povo e para o amanhã dos brancos.
Com tantas denúncias, você se sente ameaçado?
Homem da floresta não tem medo. Mas eu só ando tranquilo dentro da Terra Ianomami. A cidade é muito perigosa para mim. Tem muita gente ligada a invasores, garimpeiros, fazendeiros, grileiros, que tem raiva de mim. Eu tenho medo de morrer de bala.
Você acha que as autoridades conhecem de verdade o drama dos povos indígenas?
Muito pouco. Os ministros do tribunal (STF) tinham que conhecer nossa realidade antes de julgá-la.
Você já buscou ajuda do presidente para a crise do povo ianomâmi?
Não convidaria o Bolsonaro para ir à terra ianomâmi. Eu convidaria um homem bom e honesto. Ele (o presidente) está deixando a nossa vida doente, deixando entrar garimpeiros, armas de fogo. É o pior governo de todos os tempos.
Fonte.Jornal Extra