domingo, 10 de abril de 2022

Quase um ano e meio após sofrer racismo em shopping do Rio, mulher ainda aguarda Polícia e Justiça identificarem agressor

 


Gravações comprovam caso de racismo
Gravações comprovam caso de racismo Foto: Reprodução
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Quase um ano e meio após o episódio, a Polícia Civil e a Justiça do Rio ainda não identificaram o homem que agrediu com ofensas racistas a professora Monica Rosa e seu sobrinho na cafeteria Starbucks do Barra Shopping, Zona Oeste do Rio, no dia 25 de outubro de 2020. Neste domingo, o Fantástico, da TV Globo, mostrou que, apesar do shopping e da loja terem enviado as imagens das câmeras de segurança às autoridades em maio e junho do ano passado, respectivamente, o agressor ainda não foi identificado.

Imagens das câmeras do shopping obtidas pelo Fantástico mostram o momento em que o agressor aponta o dedo para o rosto do sobrinho de Monica. O homem teria perguntado: "Por que você sorriu? Você passou por mim e ficou rindo da minha cara, eu quero saber por quê". Apesar do rapaz argumentar que estava de máscara e de costas, o agressor iniciou uma sessão de ofensas enquanto Monica ainda tentava conversar.

— (Ele disse) "você não sai daqui hoje se eu não furar você. Hoje eu te furo todo aqui". Aí eu começo a ficar nervosa: "moço, pelo amor de Deus, o que você tá falando?". E ele me chama de vagabunda e diz que vai quebrar a minha cara: "você é uma preta imunda, sua vagabunda, sai daqui”. Aí quando ele fala isso, eu saio da loja e começo a gritar — detalha a vítima, acrescentando ainda que o agressor dizia que era de um condomínio de luxo da Barra e que aquilo que ele estava fazendo era para que eles aprendessem a não voltar mais àquele espaço, “que aquele espaço não era nosso”.

Havia vários clientes acompanhando toda a situação, quando a professora saiu da loja para chamar a segurança com testemunhas. Os agentes chegaram ao local mas nada fizeram para que o homem parasse com os xingamentos.

Ao assistir um vídeo enviado pelo shopping, ela identificou uma senhora branca que, ao ver a situação, a teria questionado: "O que você fez pra esse homem?". E ela respondeu: "Eu não fiz nada. Eu existo, a minha existência incomoda a ele, a senhora não está vendo?".

Uma testemunha que estava na cafeteria disse ao Fantástico que “todo mundo ficou muito assustado, porque era um homem grande, um homem alto gritando descontroladamente”. A pessoa diz não se lembrar do teor dos gritos, mas sim do desespero da professora: “Ela e o sobrinho estavam acuados num cantinho”, contou a testemunha, que disse ter tirado uma foto dos seguranças.

Em outro vídeo enviado pelo shopping para a polícia, é possível ver que o agressor vai para a outra porta da loja e, entre dois seguranças, fica gesticulando. Em seguida, as imagens mostram que ele vai para o lado de um deles, tira a blusa e diz a um dos seguranças “Traz eles pra cá".

— Como que num shopping como aquele uma pessoa tira a blusa, manda trazer as pessoas que estão atrás da pilastra, e ninguém faz nada? Eu me senti violentada de todas as formas. Todo mundo olhava, todo mundo viu — relata a professora.

Scheila de Carvalho, advogada de Direitos Humanos, questiona se não haveria nenhuma intervenção da segurança do shopping se aquela violência tivesse sido contra um consumidor branco.

— A gente vê poucas pessoas que ali no final tentam de uma certa forma conciliar e mediar, e não numa perspectiva de conciliar e mediar com o agressor. E sim com quem ta sendo agredido, do tipo não faz nada, deixa disso, não provoca. Não teve consequência daquele circuito social, porque ninguém ali se impôs contra ele. Não teve uma consequência direta do aparato de segurança privada que estava ali pra proteger eles e não protegeu — ressalta.

Na época, Monica prestou queixa na polícia. O caso voltou à tona na última segunda-feira, quando as imagens da câmera da cafeteria foram publicadas no blog da coluna do Ancelmo Gois, no GLOBO.

— Um shopping é um lugar que você vai e acha que vai ficar segura naquele lugar, e que tinha segurança, só que aquela segurança não era pra mim. Eu não tenho o direito de ser protegida dentro de um shopping contra alguém que nega a minha existência — lamenta.

De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), o homem que aparece nos vídeos pode responder pelo crime de injúria racial, quando se ofende a dignidade de alguém por causa de sua raça ou cor, e também crime de ameaça. Mas, para o processo seguir, é preciso que o homem seja finalmente reconhecido.

— Nós temos duas possibilidades de identificação desse autor. a primeira é alguém identificá-lo mediante as imagens. a segunda possibilidade é verificar de que forma ele paga o consumo dentro da loja e, se ele pagou por algum meio eletrônico, fornecer os dados dessa pessoa pra que a polícia possa identificá-lo — diz o promotor Marcos Kac

Fonte. Jornal Extra

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