domingo, 24 de abril de 2022

‘Eu tenho medo de morrer de bala’, diz Davi Kopenawa, líder mundial na defesa da causa Ianomâmi

 

‘Eu tenho medo de morrer de bala’, diz Davi Kopenawa, líder mundial na defesa da causa Ianomâmi

Davi Kopenawa Yanomami, liderança indígena brasileira
Davi Kopenawa Yanomami, liderança indígena brasileira Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Daniel Biasetto
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RIO — Reconhecido internacionalmente por sua luta pelos direitos do povo Ianomâmi, Davi Kopenawa não vê motivos para comemorar os 30 anos da demarcação da maior terra indígena do país daqui a um mês e diz que este é o pior momento para os 30 mil ianomâmis que vivem nas comunidades invadidas em Roraima, onde há, segundo ele, muito mais garimpeiros. “Dentro e e fora de nossas terras, há mais de 100 mil garimpeiros”, diz o líder indígena, que acusa o presidente Jair Bolsonaro de incentivar a atividade ilegal.

Em São Paulo para a exposição do amigo fotógrafo Sebastião Salgado sobre a Amazônia, Kopenawa, que preside a Hutukara, associação ianomâmi que completa 66 anos, diz ao GLOBO que a floresta está destruída pelo garimpo e que se sente ameaçado. “Garimpeiros têm raiva de mim”, afirma o autor de A Queda do Céu, com o antropólogo francês Bruce Albert.

O senhor ajudou a denunciar à ONU, em 1992, o massacre de Haximu, quando 12 ianomâmis foram mortos por garimpeiros. A homologação da Terra Indígena Yanomami foi homologada melhorou a vida do seu povo?

Melhorou um pouquinho, mas os invasores retornaram com o garimpo forte desde 2016. Em 2022, há muita gente envolvida (com o garimpo), autoridades, grandes empresários. As autoridades brasileiras não estão preocupadas com a gente. Nem Funai e nem governo. Pelo contrário, (eles) querem tirar o ouro da terra ianomâmi.

Há crianças e mulheres em território Ianomâmi?

Garimpeiros que estão na terra ianomâmi não levam a mulher deles para usar lá. Eles abusam de nossas índias, estuprando, levando doença. Hoje é o mais grave momento do povo ianomâmi. Nas minhas contas, há mais de 100 mil garimpeiros.Nós denunciamos, mas as autoridades estão nos ignorando.

Há grande número de crianças desnutridas nas aldeias. O povo ianomâmi está passando fome?

Na minha comunidade não estão passando fome, porque não deixamos o garimpo entrar. Mas onde há garimpo, há fome. Nossos parentes de Roraima, onde estão os rios Uraricoera, Palimiú, Mucajaí e Apiaú, que hoje são contaminados, não têm peixe. É garimpeiro que está causando isso. Eles estão doentes, de malária e oronavírus. Jovem ianomâmi hoje está sendo enganado. A maioria está lutando, mas os que estão com o garimpo vão por dinheiro, por bebida alcoólica. Não vão ganhar nada, só doença.

O senhor vai a uma exposição sobre a Amazônia. Há solução para a floresta?

A solução passa por nós indígenas. A Floresta Amazônica é mesmo o pulmão da Terra, do planeta. Mas agora o pulmão está destruído. Para mim, para meu povo e para o amanhã dos brancos.

Com tantas denúncias, você se sente ameaçado?

Homem da floresta não tem medo. Mas eu só ando tranquilo dentro da Terra Ianomami. A cidade é muito perigosa para mim. Tem muita gente ligada a invasores, garimpeiros, fazendeiros, grileiros, que tem raiva de mim. Eu tenho medo de morrer de bala.

Você acha que as autoridades conhecem de verdade o drama dos povos indígenas?

Muito pouco. Os ministros do tribunal (STF) tinham que conhecer nossa realidade antes de julgá-la.

Você já buscou ajuda do presidente para a crise do povo ianomâmi?

Não convidaria o Bolsonaro para ir à terra ianomâmi. Eu convidaria um homem bom e honesto. Ele (o presidente) está deixando a nossa vida doente, deixando entrar garimpeiros, armas de fogo. É o pior governo de todos os tempos.

Fonte.Jornal Extra

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