quarta-feira, 1 de maio de 2019

"Os organizadores do evento fizeram uma foto oficial e somente Maria não foi convidada. Deram presentes para todos, menos para ela", diz pai de atleta trans "




Maria Joaquina patinando (Foto: Acervo pessoal)

"Maria patina há 2 anos. Começou efetivamente os treinos para suas competições ano passado. Tivemos muita dificuldade no início. Depois de grande luta, Maria foi aceita com a surpresa que veio em ata, uma ressalva. No item 8 os tecnicos e dirigentes presentes votaram para proibir ela de usar o banheiro, qual banheiro fosse.
Depois de muita dificuldade conseguimos que a decisão em ata fosse revogada e Maria pode competir em nível nacional normalmente.


Mas diante deste campeonato sul-americano, nos deparamos novamente com o impasse do mesmo advogado, que agora tentava proibir Maria de partcipar uma vez que nos documentos consta nome de registro e sexo masculino.
Mesmo nós informando que existia um regulamento previsto pelo COI, e toda uma legislação sobre o assunto, nada foi feito.
No Brasil, é possível fazer a alteração documental para maiores de 18 anos. Já para menores, somente através de processo judicial. Ajuizamos ação, que foi deferida como favorável pelo ministério público, porém agora aguarda os trâmites seguintes serem realizados.

Maria e seu pai e treinador, Gustavo (Foto: Acervo pessoal)

Maria nos dizia que só queria participar, não importava o lugar que ficasse. Podiam deixá-la em último. Isso nos deu força para lutar.
Não estávamos preocupados com colocação, mas sim com sua aceitação. A cada dia que passava viámos o sofrimento de nossa filha e isso nos dava mais força para lutar. Os organizadores do evento fizeram uma foto oficial e somente Maria não foi convidada. Deram presentes para todos, menos para Maria. Isso machucou muito ela.
E no dia da competição, mesmo ela tendo liminar que garantia seu direito como todos no campeonato, ela foi a única atleta que não pode ter o reconhecimento de pista e a única atleta do Brasil que não tinha o uniforme da delegação.

Fiquei muito decepcionado com ambas as confederações que, justo em 2019, no ano que mais se fala de inclusão, fazem este tipo de tratamento com as crianças.
Maria também teve que enfrentar mudanças nas regras que foram criadas na última hora. Regras estas que não existiam até então.


Conforme a ordem de entrada na pista, emitida oficialmente pelo comitê técnico e enviada para a defensoria pública que acompanhava o caso, Maria seria a 17ª a competir (umas 9h30 da manhã). Aproximadamente às 7h25 informaram que mudaram o regulamento e ela seria a primeira  da categoria às 7h30.
Ela nem estava pronta ainda, pois na previsão tinha duas horas para preparar cabelo maquiagem. Fizeram de maldade. Porque mesmo questionado sobre esta mudança de regra, não apresentaram nenhum documento ou explicação plausível na hora.
Maria entrou chorando para competir, partiu meu coração. Ela não conseguiu sequer reconhecer a pista, nem adaptar o equipamento para o tipo de chão.
Conversando nos bastidores, nós descobrimos que as pessoas (principalmente, pais de algumas atletas) se incomodam por ela usar o banheiro feminino, o que pra mim é algo surreal, por se tratar de uma criança. Nós já soubemos também que muitos não a aceitam competindo com outras meninas, por ela ter nascido um menino e que já disseram que vão entrar com processo contra isso e contra a gente no ano que vem. Fiquei chocado! Estou esgotado! Em poucos dias, já engordei 10kg. Não durmo direito, tamanha tristeza e frustração.
Mas, tenho que ser forte! Ela nunca me viu chorando. Choro no banheiro escondido. Além de pai, eu também sou o professor dela! Tento a incentivar sempre e dar força pra ela seguir firme no esporte. Eu, mais do que ninguém, vejo a garra que ela tem pra competir e se firmar como uma grande atleta, seu grande sonho.
Agora a história se inverteu: é ela que nos dá força. Maria está se sentindo acolhida, amada. Muita gente abraçou a nossa causa nas redes sociais. Até o estilista Alexandre Herchcovitch nos mandou um recado dizendo que quer fazer um colã bem lindo para ela se sentir ainda mais linda e poderosa na pista de competição
Hoje, Maria nem se dá conta da grandeza que foi esta vitória. Ela está feliz por ter participado. Não gostou de ter sido privada dos amigos e momentos de união que o esporte oferece. Mas nenhum atleta ganhou o que nossa filha ganhou: amigos verdadeiros e a força de lutar, nunca desistindo dos seus sonhos!"

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