Bolsonaro compartilha texto que classifica país de 'ingovernável fora de conchavos'
O presidente Jair Bolsonaro enviou, nesta sexta-feira, para contatos pessoais e grupos no WhatsApp um texto de autoria desconhecida que diz que o Brasil é "ingovernável fora de "conchavos" O texto, que já circulava nas redes sociais pelo menos desde segunda-feira, remete a pressões sofridas pelo governo. O texto foi revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmado ao GLOBO pelo porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros. Leia a íntegra do texto no fim desta matéria.
"Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto", diz o texto, que menciona o risco de a medida provisória (MP) que reorganiza o governo perder a validade e o número de ministérios voltar a ser 29, como no governo do ex-presidente Michel Temer.
A mensagem também afirma que o Brasil está "disfuncional", mas que isso não é culpa de Bolsonaro, porque "ele não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou".
Questionado sobre o texto, Bolsonaro divulgou uma nota dizendo que "a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas". O presidente diz que quer "contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do futuro promissor".
O envio da mensagem ocorre em meio a desafios enfrentados pelo governo, como protestos contra os cortes na Educação, a investigação envolvendo o filho do presidente Flávio Bolsonaro e a dificuldade de aprovar no Congresso a MP que reorganiza o governo. Na semana passada, o presidente chegou a dizer que o governo iria enfrentar um "tsunami" nessa semana, mas não explicou a que se referia.
Mensagem circula desde segunda
O GLOBO encontrou registros de compartilhamento do texto em três redes sociais diferentes. No Facebook, o primeiro registro data da última segunda-feira, 13 de maio. A publicação foi feita por uma página de apoiadores do presidente que moram em Belém do Pará, já com a identificação do autor como desconhecido. No Twitter, há menções registradas a partir da mesma data. No Whatsapp, o texto está circulando pelo menos desde quarta-feira, 15 de maio.
Há também um registro de publicação do texto na seção de comentários de um blog chamado "Tribuna da Internet — Sob o signo da liberdade". O comentário foi feito na quinta-feira, 16 de maio, por uma internauta que se identificou como Maria Lúcia Fernandino. Ela replicou o texto com a atribuição a um autor desconhecido.
Confira a nota de Bolsonaro
"Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do futuro promissor. Que Deus nos ajude!"
Leia o texto compartilhado pelo presidente:
"TEXTO APAVORANTE - LEITURA OBRIGATÓRIA
Temos muito para agradecer a Bolsonaro.
Bastaram 5 meses de um governo atípico, "sem jeito" com o congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores. Sejam eles de esquerda ou de direita.
Desde a tal compra de votos para a reeleição, os conchavos para a privatização, o mensalão, o petrolão e o tal "presidencialismo de coalizão", o Brasil é governado exclusivamente para atender aos interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento público.
Não só políticos, mas servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados nas teias de poder. Os verdadeiros donos do orçamento. As lagostas do STF e os espumantes com quatro prêmios internacionais são só a face gourmet do nosso absolutismo orçamentário.
Todos nós sabíamos disso, mas queríamos acreditar que era só um efeito de determinado governo corrupto ou cooptado. Na próxima eleição, tudo poderia mudar. Infelizmente não era isso, não era pontual. Bolsonaro provou que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável.
Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto.
Nem uma simples redução do número de ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer.
Isso é do interesse de quem? Qual é o propósito de o congresso ter que aprovar a estrutura do executivo, que é exclusivamente do interesse operacional deste último, além de ser promessa de campanha?
Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar os ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos. Historinha com mais de 500 anos por aqui.
Que poder, de fato, tem o presidente do Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas no congresso e na justiça, apostaria que o presidente não serve para NADA, exceto para organizar o governo no interesse das corporações. Fora isso, não governa.
Se não negocia com o congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na visão dos "ana(lfabe)listas políticos"?
A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios.
O moribundo-Brasil será mantido vivo por aparelhos para que os privilegiados continuem mamando. É fato inegável. Está assim há 519 anos, morto, mas procriando. Foi assim, provavelmente continuará assim.
Antes de Bolsonaro vivíamos em um cativeiro, sequestrados pelas corporações, mas tínhamos a falsa impressão de que nossos representantes eleitos tinham efetivo poder de apresentar suas agendas.
Era falso, FHC foi reeleito prometendo segurar o dólar e soltou-o 2 meses depois, Lula foi eleito criticando a política de FHC e nomeou um presidente do Bank Boston, fez reforma da previdência e aumentou os juros, Dilma foi eleita criticando o neoliberalismo e indicou Joaquim Levy. Tudo para manter o cadáver procriando por múltiplos de 4 anos.
Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.
Na hipótese mais provável, o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações. Que sempre venceram. Daremos adeus Moro, Mansueto e Guedes. Estão atrapalhando as corporações, não terão lugar por muito tempo.
Na pior hipótese ficamos ingovernáveis e os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil. Teremos um orçamento destruído, aumentando o desemprego, a inflação e com calotes generalizados. Perfeitamente plausível. Claramente possível.
A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado, sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada. Não se sabe como será reconstruído. Não é impossível, basta olhar para a Argentina e para a Venezuela. A economia destes países não é funcional. Podemos chegar lá, está longe de ser impossível.
Agradeçamos a Bolsonaro, pois em menos de 5 meses provou de forma inequívoca que o Brasil só é governável se atender o interesse das corporações. Nunca será governável para atender ao interesse dos eleitores. Quaisquer eleitores. Tenho certeza que esquerdistas não votaram em Dilma para Joaquim Levy ser indicado ministro. Foi o que aconteceu, pois precisavam manter o cadáver Brasil procriando. Sem controle do orçamento, as corporações morrem.
O Brasil está disfuncional. Como nunca antes. Bolsonaro não é culpado pela disfuncionalidade, pois não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou. Ele é só um óculos com grau certo, para vermos que o rei sempre esteve nu, e é horroroso.
Infelizmente o diagnóstico racional é claro: "Sell".
Autor desconhecido"
Fonte. Jornal Extra
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