quinta-feira, 30 de junho de 2016

" Relatos graves de abusos', diz defensor sobre ações da PM na Maré

Luciano diz que um PM do Bope matou seu irmão
Luciano diz que um PM do Bope matou seu irmão Foto: Fabiano Rocha / Extra
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O defensor público Daniel Lozoya, do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, disse ao EXTRA, nesta quinta-feira, que recebeu denúncias graves de abusos por parte de policiais militares que vêm fazendo operações no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Por isso, procurou o plantão judiciário para pedir providências em relação à postura dos agentes. Os PMs estão à procura do traficante Nicolas Pereira de Jesus, o Fat Family, e os bandidos que o resgataram do Hospital Souza Aguiar, no último dia 19.
- Foi por causa desses relatos de abusos que a Justiça intimou a cúpula da Segurança Pública a dar esclarecimentos sobre as ações. Considero isso uma grande vitória. O que está acontecendo é que pessoas que não têm nada a ver (com crimes) sofram o efeito colateral dessas operações - disse ele.
Numa decisão desta quinta-feira, a juíza Angélica dos Santos Costa intimou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, o comandante do Bope, o comandante do Batalhão de Choque e o comandante geral da PM para prestarem informações sobre as ações na Maré. Ofícios foram enviados a eles.
A magistrada destaca ainda que apesar de não haver dúvidas sobre a necessidade de ações para cumprir mandados de prisão, especialmente após o resgate de Fat Family, “os órgãos de segurança pública devem adotar as devidas providências para preservar vidas e o direito de ir e vir das pessoas, buscando através de serviços de inteligência e planejamento minimizar os riscos a uma população tão sofrida e assustada pelos casos de violência. A população não pode ficar refém de operações sem planejamento e açodadas”.
Em sua decisão, ela ainda classifica como um “absurdo” que o Rio, “diante da violência dos últimos anos, esteja vivendo momentos de desordem e total insegurança pública sem o mínimo retrocesso dos índices de criminalidade”. A juíza também determinou o fim das ações noturnas na Maré - o que já é proibido.
- A medida visa a reduzir os danos. A preservação da vida é mais importante do prender ou matar traficantes e criminosos - disse Lozoya.
A assessoria de imprensa da PM informou que "A Polícia Militar planeja suas operações com informações do Setor de Inteligência e de denúncias de cidadãos para apreender armas e drogas e prender bandidos que cometem crimes cruéis contra a sociedade. A corporação não comenta decisões judiciais e a PM atua sempre dentro da Lei e cumpre as decisões judiciais".
Família denuncia morte e acusa PM
Também nesta quinta, a família do ajudante de pedreiro José da Silva, de 40 anos, acusa um policial do Bope de ter disparado o tiro que o matou durante uma ação na Favela Nova Holanda, que fica na Maré, nesta quarta-feira. Na ocasião, uma mulher foi ferida por bala perdida.
- Aquilo lá é um inferno. Quero vender minha casinha para poder ir embora e ficar longe disso. Não era assim que a gente imaginava nossa vida no Rio de Janeiro. Viemos da Paraíba em busca de uma vida melhor. Éramos dez irmãos. E agora vamos voltar com um a menos. Eu só quero acreditar que a pessoa que matou o meu irmão vá pagar pelo seu crime. Se não foi na Justiça dos homens, que seja na de Deus - disse o pedreiro Luciano da Silva, de 41 anos.
O ajudante de pedreiro José da Silva
O ajudante de pedreiro José da Silva Foto: Fabiano Rocha / Extra
Ele morava com José e os dois trabalhavam juntos numa obra na Nova Holanda. Após o trabalho ser encerrado, Luciano liberou o irmão para ir para casa. José tomaria um banho e encontraria outra irmã, também moradora da comunidade, para ir à igreja evangélica que frequentava.
- Ele era o mais carinhoso da família. Tinha seis filhos para criar. E agora, como é que eles vão ficar? - disse o irmão mais velho do ajudante de pedreiro, o taxista Tadeu da Silva, de 45 anos.
De acordo com ele, na Paraíba os irmãos trabalhavam em regime de semiescravidão num canavial. Por isso decidiram deixar o local:
- Mas qualquer coisa é melhor que esse barril de pólvora que é o Rio de Janeiro.
Tadeu contou que seu irmão tinha ficha criminal: há cerca de três anos, foi acusado de um assalto. Passou cerca de um ano preso.
- Eu não posso mentir: aconteceu. Foi uma acusação injusta. E ele saiu falando que nunca mais queria voltar para aquele inferno que é a cadeia. Meu irmão nunca na vida andou armado, nunca consumiu drogas. O que mais me dói é que ele foi morto e largado, sem documentos, no hospital. Parecendo um vagabundo. Mas ele era um trabalhador, do bem. Não posso deixar que seja lembrado como um vagabundo - disse o taxista.
Em relação às denúncias feitas pela família de José, a PM diz que "de acordo com o BOPE, o batalhão não foi acionado para socorrer nenhum ferido nesta operação"
Via Jornal Extra







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