Luciano diz que um PM do Bope matou seu irmão
Luciano diz que um PM do Bope matou seu irmão Foto: Fabiano Rocha / Extra
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O defensor público Daniel Lozoya, do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, disse ao EXTRA, nesta quinta-feira, que recebeu denúncias graves de abusos por parte de policiais militares que vêm fazendo operações no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Por isso, procurou o plantão judiciário para pedir providências em relação à postura dos agentes. Os PMs estão à procura do traficante Nicolas Pereira de Jesus, o Fat Family, e os bandidos que o resgataram do Hospital Souza Aguiar, no último dia 19.
- Foi por causa desses relatos de abusos que a Justiça intimou a cúpula da Segurança Pública a dar esclarecimentos sobre as ações. Considero isso uma grande vitória. O que está acontecendo é que pessoas que não têm nada a ver (com crimes) sofram o efeito colateral dessas operações - disse ele.
Numa decisão desta quinta-feira, a juíza Angélica dos Santos Costa intimou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, o comandante do Bope, o comandante do Batalhão de Choque e o comandante geral da PM para prestarem informações sobre as ações na Maré. Ofícios foram enviados a eles.
A magistrada destaca ainda que apesar de não haver dúvidas sobre a necessidade de ações para cumprir mandados de prisão, especialmente após o resgate de Fat Family, “os órgãos de segurança pública devem adotar as devidas providências para preservar vidas e o direito de ir e vir das pessoas, buscando através de serviços de inteligência e planejamento minimizar os riscos a uma população tão sofrida e assustada pelos casos de violência. A população não pode ficar refém de operações sem planejamento e açodadas”.
Em sua decisão, ela ainda classifica como um “absurdo” que o Rio, “diante da violência dos últimos anos, esteja vivendo momentos de desordem e total insegurança pública sem o mínimo retrocesso dos índices de criminalidade”. A juíza também determinou o fim das ações noturnas na Maré - o que já é proibido.
- A medida visa a reduzir os danos. A preservação da vida é mais importante do prender ou matar traficantes e criminosos - disse Lozoya.
A assessoria de imprensa da PM informou que "A Polícia Militar planeja suas operações com informações do Setor de Inteligência e de denúncias de cidadãos para apreender armas e drogas e prender bandidos que cometem crimes cruéis contra a sociedade. A corporação não comenta decisões judiciais e a PM atua sempre dentro da Lei e cumpre as decisões judiciais".
Família denuncia morte e acusa PM
Também nesta quinta, a família do ajudante de pedreiro José da Silva, de 40 anos, acusa um policial do Bope de ter disparado o tiro que o matou durante uma ação na Favela Nova Holanda, que fica na Maré, nesta quarta-feira. Na ocasião, uma mulher foi ferida por bala perdida.
- Aquilo lá é um inferno. Quero vender minha casinha para poder ir embora e ficar longe disso. Não era assim que a gente imaginava nossa vida no Rio de Janeiro. Viemos da Paraíba em busca de uma vida melhor. Éramos dez irmãos. E agora vamos voltar com um a menos. Eu só quero acreditar que a pessoa que matou o meu irmão vá pagar pelo seu crime. Se não foi na Justiça dos homens, que seja na de Deus - disse o pedreiro Luciano da Silva, de 41 anos.
O ajudante de pedreiro José da Silva
O ajudante de pedreiro José da Silva Foto: Fabiano Rocha / Extra
Ele morava com José e os dois trabalhavam juntos numa obra na Nova Holanda. Após o trabalho ser encerrado, Luciano liberou o irmão para ir para casa. José tomaria um banho e encontraria outra irmã, também moradora da comunidade, para ir à igreja evangélica que frequentava.
- Ele era o mais carinhoso da família. Tinha seis filhos para criar. E agora, como é que eles vão ficar? - disse o irmão mais velho do ajudante de pedreiro, o taxista Tadeu da Silva, de 45 anos.
De acordo com ele, na Paraíba os irmãos trabalhavam em regime de semiescravidão num canavial. Por isso decidiram deixar o local:
- Mas qualquer coisa é melhor que esse barril de pólvora que é o Rio de Janeiro.
Tadeu contou que seu irmão tinha ficha criminal: há cerca de três anos, foi acusado de um assalto. Passou cerca de um ano preso.
- Eu não posso mentir: aconteceu. Foi uma acusação injusta. E ele saiu falando que nunca mais queria voltar para aquele inferno que é a cadeia. Meu irmão nunca na vida andou armado, nunca consumiu drogas. O que mais me dói é que ele foi morto e largado, sem documentos, no hospital. Parecendo um vagabundo. Mas ele era um trabalhador, do bem. Não posso deixar que seja lembrado como um vagabundo - disse o taxista.
Em relação às denúncias feitas pela família de José, a PM diz que "de acordo com o BOPE, o batalhão não foi acionado para socorrer nenhum ferido nesta operação"
Via Jornal Extra
Leia mais: http://extra.globo.com/casos-de-policia/relatos-graves-de-abusos-diz-defensor-sobre-acoes-da-pm-na-mare-19616823.html#ixzz4D5xtmGzw
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