"Já saí de cena bem para baixo", diz ator de 'Escrava Mãe'
Marcelo Batista interpreta Kamau em ‘Escrava Mãe’ (Foto: Antonio Chahestian/ Divulgação/Record)
Por Marina Bonini
O sorriso aberto e o alto astral característicos do ator Marcelo Batista ficaram de fora dos estúdios da Rede Record quando ele gravava as cenas da sofrida história de seu personagem Kamau para a novela “Escrava Mãe”. Interpretar o africano capturado e trazido como escravo para o Brasil teve um significado especial para ele, que tem origem africana.
“É um personagem que requer mais cuidado. Ele é um guerreiro, que luta pelas questões do seu povo. É um outro universo fazer uma novela de época que fala da história do Brasil e que tem tudo a ver com o meu povo”, conta ele, que se emocionou em muitas cenas ao vivenciar as crueldades a que os negros foram submetidos ao serem trazidos para o Brasil. "Além da maldade que eles enfrentavam, eram tratados de forma desumana e totalmente sem condições de higiene. Confesso que já saí de cena bem para baixo.”
O trabalho nas telinhas, que veio seguido do sucesso como José, o pai de Cirilo em"Carrossel”, tem emocionado também um fã ilustre, o seu irmão e cantor Mumuzinho. “Ele assiste todo dia e sempre me liga para elogiar uma cena bonita!”, revela em entrevista ao Yahoo Celebridades. ’
Yahoo: Como foi migrar de uma novela com o foco infantil como Carrossel para uma trama com uma história tão importante para o Brasil e para a raça negra?
Marcelo Batista: Adorei fazer o pai do Cirilo em Carrossel. Ele era um personagem forte, mas muito doce, religioso e bem família. Mas o Kamau, de 'Escrava Mãe’, é um personagem que requer mais cuidado. Ele é um guerreiro, que luta pelas questões do seu povo. É um outro universo fazer uma novela de época que fala da história do Brasil e que tem tudo a ver com o meu povo.
Y: Como foi a preparação para o seu personagem em 'Escrava Mãe’?
M.B.: Tivemos uma preparação com o Roberto Bomtempo, na Record, antes de começarmos a gravar a novela para nos ajudar na construção de nossos personagens, Além disso, fiz a minha preparaç��o pessoal. Fui buscar referências em livros, filmes e na história que é contada em Escrava Isaura, que é a filha da Escrava Mãe.
Y: Se emocionou como ator ao gravar alguma cena em especial?
M.B.: Me emocionei em muitas cenas de tortura e que mostravam as condições que os escravos viviam naquela época. Me lembro de uma cena em especial no navio negreiro quando fomos trazidos para o Brasil e extremamente massacrados. Foi muito forte. Além da maldade que eles enfrentavam, eram tratados de forma desumana e totalmente sem condições de higiene. Confesso que já saí de cena bem para baixo.
Y: Você já sofreu preconceito?
M.B.: Dizer que nunca sofreu preconceito é esconder os fatos que acontecem no nosso país ainda nos dias de hoje. Se você não sofre racismo, sofre por ser índio, por ser gordo etc. Eu nunca fui chamado de macaco imundo ou coisa do tipo, mas sinto o preconceito no olhar e nas atitudes das pessoas, mas não me abato. Luto sempre para que eu não me deixe levar por isso. Só quero respeito! Tenho pena dessas pessoas que não tiveram um boa formação. No final, quando morrermos, vamos todos para o mesmo lugar, para debaixo da terra. A única coisa que fica é a alma. Por isso, as pessoas têm que alimentar as suas almas de coisas boas e não de coisas fúteis.
Y: Como avalia o espaço que o negro tem hoje na TV?
M.B.: A maior parte da sociedade é formada por negros, mas falta a gente ver essa quantidade refletida na televisão. Então, acho que deveria ter mais espaço para os negros sim. O negro não precisa atuar só em novela de época. Ele pode ser protagonista, pode ser doutor, pode ser o garçom… A verdade é que deveria ter mais negros em todas as áreas da televisão. Somos capazes de atuar na parte artística, técnica, de produção, direção, de apresentar um programa… Já mostramos que temos competência.
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