Ser gay não é profissão
Eugenio Ibiapino.
No dia 29 de agosto, a cidade de Nova
Iguaçu parou por causa da 7ª Parada LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais). Segundo estimativas compareceram mais de 150 mil pessoas,
consolidando assim um importante avanço do movimento social LGBT na cidade e
região que teve essa grandiosa vitória sem o apoio do executivo como acontecia
em anos anteriores.
A parada Gay, como é popularmente
conhecida, se tornou um evento que vai constar no calendário oficial
da cidade, pois é o maior evento popular da cidade de Nova Iguaçu e tem apoio
da população, haja vista a quantidade de pais que comparecem com seus filhos
para prestigiarem o acontecimento.
Quanto à segurança, nunca tivemos
reclamação das autoridades policiais sobre alguma irregularidade que precisasse
ser registrada nas delegacias de policia. O que ocorre são pequenos transtornos
como em qualquer grande evento, tais como: embriaguez ou pequenos
desentendimentos. Com isso, podemos afirmar, categoricamente, que em Nova
Iguaçu realizamos a Parada mais segura do Estado do Rio de Janeiro. Outro fator
importante é o trabalho de informações sobre saúde e direitos humanos, que
acontecem neste evento, adquirindo assim um caráter pedagógico tão importante,
não somente para a comunidade homossexual, como também como para toda a
população, pois quando se combate o preconceito, todo mundo sai ganhando.
Infelizmente este evento já perdeu a sua identidade política e social em varias
cidades do Brasil e do mundo, porque muita gente vai para esta atividade, não
para prestigiar a luta contra a homofobia, mas para praticar atos obscenos,
usar drogas, fazer "arrastão" dentre outros atos ilícitos. Tal
realidade é comprovada pelas autoridades policiais em várias paradas do Estado
do Rio de Janeiro.
As paradas acontecem desde 1969,
quando cansados de sofrer violência policial um grupo de homossexuais de Nova
Iorque decidiu enfrentar a repressão da polícia em um bar chamado Stonewal
e a partir deste dia o mundo todos sai às ruas para denunciar a homofobia e a
discriminação aos homossexuais. Como este evento virou um meio de muita gente
ganhar dinheiro e até ficar rica, o calendário das paradas dura o
ano inteiro no Brasil.
Muita gente chama o dia 28 de junho
dia do orgulho gay, embora eu não concorde com esta afirmação, pois ninguém é
melhor ou pior devido a sua orientação sexual. O mais importante numa pessoa
não é a sua orientação, mas o seu caráter, o trabalho social que esta pessoa
está fazendo para transformar a sociedade e o mundo atual.
Cabe ainda lembrar, que a cada dois
dias uma pessoa é executada no Brasil por causa da homofobia, sem que os
culpados sejam punidos; que os adolescentes LGBTS estão sendo expulsos de casa
pelos próprios pais e sendo jogados na rua da prostituição e no mundo das
drogas; que a maioria das lésbicas da Baixada não conseguem um emprego formal
por causa do preconceito, que os homossexuais da Baixada Fluminense não
conseguem sequer acabar o ensino fundamental por motivo de homofobia dos
professores e colegas de classe. O que em muitos países é apenas uma simples
diferença, no Brasil causa tanto exclusão social e dor.
As paradas não conseguem mais
retratar essa triste realidade. Claro que não queremos fazer um evento triste e
chato, queremos sim, luxo, glamour, plumas e paetês. Mas não podemos mascarar
uma realidade vivida pela maioria dos homossexuais trabalhadores.
Como nem tudo na vida são flores, a
7ª parada LGBT de Nova Iguaçu, também serviu de palco para políticos
oportunistas, que nunca fizeram nada em prol da causa LGBT, subirem nos trios e
descaradamente realizarem suas campanhas eleitorais, com a conivência dos
responsáveis desses trios elétricos e a inércia do tribunal eleitoral da
cidade, haja vista que solicitamos a fiscalização para o dia do evento e
recebemos da justiça o silêncio como resposta.
Para nós militantes sociais, não
basta ser gay, heterossexual ou bissexual, o importante é buscar a sua
cidadania plena enquanto é tempo, lutar por uma moradia digna, voltar a
estudar, fazer um bom curso, ter um bom emprego e assim ser respeitado. O cantor
Gonzaguinha já dizia que, sem o seu trabalho o homem não tem honra, e é
exatamente por esta honra que precisamos lutar cotidianamente.
Não queremos também, que a população
acredite que nossa luta principal é por casamento homossexual, casamento é uma
questão que fica no campo da religião, e cada um tem os seus dogmas. O que
buscamos é o respeito aos nossos direitos civis, inclusão do termo
"orientação sexual" na Constituição Federal, inserção da homofobia
(ódio, pavor, contra os homossexuais) no Código Penal como crime inafiançável
equivalente ao racismo.
Finalizando, gostaria de lembrar aos
políticos e à população em geral que os homossexuais já somam mais de dez por
cento da sociedade contemporânea, que vota, paga imposto e se encontra em todos
os lugares.
Fundador do movimento LGBT da Baixada;Coordenador
Geral da Parada LGBT de Nova Iguaçu;Vice presidente do grupo 28 de junho.Email.
Grupo28dejunho@yahoo.com.br
autorizo publicação; Eugenio Ibiapino
Nenhum comentário:
Postar um comentário