quarta-feira, 6 de junho de 2012

Geórgia Bengston: a atriz transformista que politizava no Teatro de Revista e excursionava pela Baixada Fluminense em 1982


Geórgia Bengston: a atriz transformista que politizava no Teatro de Revista e excursionava pela Baixada Fluminense em 1982

Em 15 de março de 2006 criei uma "comunidade" no Orkut com o nome de Geórgia Bengston(ou Benghston). Tempos depois, saí do Orkut e, como a comunidade era/é moderada, ao retornar, não consegui reacessá-la. - Criei uma outra, com o mesmo nome, em 20 de novembro de 2009. Seu objetivo é o mesmo da anterior:

"A razão da existência desta comunidade é resgatar a trajetória pessoal e artística da impagável Transformista GEORGIA BENGSTON, atriz/escritora/diretora/produtora de teatro de revista (bonecas), a persona artística de JORGE ALVES DE SOUZA, esteticista, que começou trabalhando em circos e, depois, brilhou esplendorosamente em palcos como Rival, Brigitte Blair, SESC Meriti, entre outros, com textos criativos, hilários e acidamente críticos (social e politicamente, ainda em plena ditadura).

Também reunir pessoas que tiveram o privilégio de conhecer seu trabalho, talento e personalidade.

As fotos que estão na comunidade são de autoria de Regina Rito (Geórgia se caracterizando para o personagem Shirley, de Leopoldo Serran) e foram publicadas no Lampião da Esquina, nº 12, maio de 1979, página

Hoje, lendo uma mensagem no Twitter do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ),

 Jean Wyllys
O trabalho dos transformistas deve estar entre as artes vivas e deve ser contemplado pelas políticas públicas de estímulo à cultura.

me recordei de Geórgia e de meu esforço durante o mestrado (2004 a 2006), em busca de alguma informação a mais - fotos, textos de suas peças, algum depoimento pessoal de quem conviveu com ela, contracenou a seu lado...

Sim, deputado. O senhor está certo. No entanto, além de se efetuar ações concretas no sentido de valorizar o trabalho artístico daquelas que estão produzindo,é necessário igualmente recuperar as memórias/histórias das artes daquelas que tanto produziram e resistiram aos múltiplos processos de estigmatização. Daqui deste blog, sigo fazendo o que meus braços alcançam no momento - não apenas no que respeita às transformistas.

Geórgia e Marcos em Apoteose Gay II
Tive o prazer de assistir ao vivo diversas apresentações de Geórgia Bengston no Teatro do SESC de São João de Meriti, na baixada Fluminense, em 1982. Jamais conseguirei esquecer o talento, a capacidade interpretativa, a verve tanto cômica quanto dramática; sua capacidade de, embora ainda vivêssemos os rescaldos da ditadura, impregnar os textos de suas esquetes com abordagens políticas que os censores jamais poderiam imaginar, vindo de uma... Bicha!

Mas Geórgia, como ninguém, sabia transformar a crítica de costumes burlesca que era o teatro de Revista e de "bonecas" em um teatro igualmente crítico da situação social, da concentração de renda, do autoritarismo.

No mesmo dia em que criei a segunda comunidade (20/11/2009) postei o seguinte texto no seu "fórum":


O ESPETÁCULO É GEÓRGIA

“Num teatro com um som péssimo, instalações precárias e pagando aluguel de 40% à sua proprietária, Hugo Vernon montou o seu Big Star Gay no teatro Brigite Blair com grande sucesso de público. ... manter Geórgia Bengston trabalhando, o que faz com que todo o resto do pessoal se transforme em coadjuvante de luxo. Indiscutivelmente, o espetáculo é Geórgia. Suas cinco aparições levam a platéia ao delírio. ... só faz com que ele cada dia se firme como um dos maiores atores do Brasil (Fernanda Montenegro já disse isso). Seu número final talvez tenha sido um dos melhores já apresentados em shows do gênero. ...
A hilariante e sempre mal aproveitada Fugica completa o elenco juntamente com Nórika Himer, o melhor travesti surgido no Rio nos últimos cinco anos. Vale ver.” (BASTOS, José Fernando. Quando as bichas fazem o “show”. In: Lampião da Esquina, ano 3, nº 36, maio de 1981, p. 17.)
Tambem no mesmo dia, busquei sensibilizar alguem que tivesse conhecido a arte, a persona, a pessoa, não apenas de Geórgia, mas de tantas outras atrizes transformistas que praticaram sua arte décadas atrás, enfrentando toda sorte de discriminação:

Geórgia, Marisa Caveira, Nórika Himer, Fugika de Holliday

- Onde encontrar material sobre elas, para recuperar a memória de suas trajetórias de vida?
Se você sabe, possui, partilhe!
Visite o blog Memória MHB e dê a sua contribuição:
http://memoriamhb.blogspot.com/2009/11/brenda-lee-e-o-seu-palacio-das.html
Até a data de hoje ninguem se associou a essa comunidade - que ainda existe, lá no Orkut.  Eu tambem não consegui obter nenhuma fonte documental ou testemunhal a respeito de nenhuma delas. Mas agradeço ao deputado Jean Wyllys o haver me feito recordar de meu dever de seguir buscando.

Por isso eu trago para cá essa história. Na tentativa de ampliar o alcance de meu pedido de ajuda para recuperar essas histórias tão magníficas e tão invisibilizadas.

O deputado Jean Wyllys tambem informa, em seu TT que 

 Jean Wyllys
Soube que atriz Leandra Leal está fazendo um documentário sobre transformistas cariocas que mantêm essa arte acesa. Excelente iniciativa!

Concordo! E, em mais um movimento na tentativa de conseguir contagiar, inspirar, de modo que mais e mais pessoas venham se somar nesses exercícios de catar as peças desse quebra-cabeças das histórias apagadas, trago um trecho de minha dissertação:
[...] Em São João de Meriti, o Sesc local, inaugurado em 1978, atua como grande catalisador: seu excelente teatro, com quatrocentos lugares e ótimas condições técnicas, recebe em sua estréia exatamente o texto Sacos e Canudos, que havia arrebatado o Molière em 1977, ao lado de nomes como Fernanda Montenegro e José Wilker. Ali, em temporada de dois meses, é assistido por algo como doze mil espectadores. Um acontecimento notável, se levarmos em consideração que a maioria jamais havia tido oportunidade de entrar em um espaço teatral, ou mesmo assistir a uma peça.
Posteriormente, sobem ao seu palco nomes que vão de Gonzaguinha, João do Vale, MPB-4, Quinteto Violado, até a ousadia talentosa de Geórgia Bengston. O primeiro ator-travesti a se apresentar nos palcos de uma região representada nos meios médios como apenas produtora de violência e inculta, Geórgia trazia para a Baixada Fluminense sua crítica social aguda e bem-humorada, embalada com alguma sutileza nas mil possibilidades do Teatro de Revista, que ele/ela tão bem sabia percorrer.[...]
 [...] Por essa mesma época [setembro de 1982] se dá a vinda de Geórgia Bengston e elenco, para temporada no teatro do SESC-Meriti.
 Jorge Alves de Souza era Geórgia. Ator de teatro e transformista, viabilizava seus projetos artísticos por intermédio da profissão de esteticista que desempenhava durante o dia como Jorge Alves. Escrevia, dirigia e produzia suas próprias peças, geralmente compostas por vários esquetes com altas doses de humor, crítica social e política, num redimensionamento do teatro de revista, tornando-o integrado ao de seu momento histórico e região geográfica. Era no expediente noturno aos finais de semana que desde os idos de 1959 fazia surgir no palco sua persona versátil, talentosa (Rito, 1978, 9).
Geórgia e Marcos, contracenam em Meriti - 1982
Geórgia foi o primeiro ator transformista a ousar se apresentar nos palcos da Baixada Fluminense, então representada no imaginário médio carioca como região apenas constituída pela miséria, sujeira e violência. Durante os primeiros ensaios de seu show Apoteose Gay no palco do Sesc Meriti ele/ela conheceu Marcos. Com seu extremado senso de oportunidade, Marcos, consegue ser submetido a um teste para integrar o elenco (Álvaro, 04/10/04). Versátil, múltiplo, dotado de uma verve humorística singular, logo é integrado ao grupo. A primeira montagem do Apoteose exibe em sua filipeta, ao lado das ‘stars” Norika Hayner, Tânia Letieri, Fernanda, Cristina, Cher e os bailarinos Renato Benini e Washington, o “Ator: Marcos”. O talento de Marcos cai no gosto do público, o que lhe assegura a sua manutenção no elenco. O show é reencenado em 1983 com o nome de Apoteose Gay II.

Eis a nota de rodapé que consta à página 197 de minha dissertação:
[1] Além de Mauro Julião e Toca, Geórgia também é falecida. Segundo pude apurar, seu óbito se deu aproximadamente em 1996. Todas as tentativas realizadas até o presente momento para a obtenção de maiores informações sobre sua trajetória resultaram vãs. Embora tivesse contado com a disponibilidade generosa de Anuah Farah, então dirigente da Turma Ok (2004), suas buscas nos arquivos da Turma resultaram nulas. As pessoas que ele e Marcos me indicaram, contactadas, lamentavelmente também não dispunham de informações ou fontes (documentais ou iconográficas). Criei na ferramenta de relacionamentos virtuais Orkut, uma comunidade para ela e divulguei-a na página da comunidade da Turma Ok. Ainda aguardo por notícias. Embora três pessoas já tenham aderido, ainda não houve acréscimo de informação.
FONTE; Dra Rita Colaço.



Um comentário:

  1. EU DESENHEI MUITO PARA GEORGIA BENGSTON, EPOCA QUE ELA FAZIA A MULHER BEBADA, ELA ERA AMIGA DE OLIVAN CARNEIRO (SHIRLEY MONTENEGRO, MINHA BOA AMIGA (DANUZA TRUSSAR BRAZIL), DE KIRIAKI, E MARIA LEOPOLDINA..............SAUDADES,MUITAS SAUDADES

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