quinta-feira, 11 de junho de 2020

'Foi um desrespeito com meu filho', conta pai que recolocou cruzes em protesto


Márcio, pai de vítima do coronavírus, recoloca cruzes arrancadas por homens de protesto em memória dos que morreram em função da Covid-19 em Copacabana: 'Desrespeito'



O taxista Marcio Antônio do Nascimento Silva, de 55 anos, caminhava pela orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio, na manhã desta quinta-feira, para espairecer. Ele cumpre esse ritual solitário, de máscara, pelo menos uma vez por semana desde que perdeu o filho, Hugo Dutra do Nascimento Silva, aos 25 anos, vítima da Covid-19, no dia 18 de abril. Na praia, se surpreendeu quando viu um homem derrubando, aos berros, cruzes colocadas na areia pela ONG Rio de Paz, simbolizando cem covas rasas, em protesto pelas mortes em decorrência do novo coronavírus. No calçadão, outros homens debochavam da homenagem. Diziam que a praia era um espaço público e que o protesto estaria "criando pânico". Márcio se revoltou e foi para a areia recolocar as cruzes no lugar.

— Eu senti como se ele tivesse desrespeitado meu filho. Eu não tinha nada a ver com o protesto, moro em Copacabana, só saí de casa um pouco para caminhar. De repente, vi aquele gesto de falta de respeito, empatia, compaixão. Eles não tinham o direito de impedir a manifestação — conta o taxista, que também teve a Covid-19 e conseguiu se recuperar.

Márcio e o filho, Hugo
Márcio e o filho, Hugo

O filho de Márcio, Hugo trabalhava numa empresa de informática e foi liberado por conta das primeiras medidas de combate ao coronavírus. Além do expediente na firma, o jovem era professor de dança de salão — que aprendeu com o pai — e trabalhava como DJ em festas nos finais de semana. No dia 3 de abril, o jovem apresentou sintomas de febre e foi levado pelo pai para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Copacabana. No local, Márcio tirou uma foto com o filho, ambos de máscara, esperando por atendimento. O estado de saúde de Hugo piorou em uma semana, e ele teve que ser transferido para o Hospital Municipal Ronaldo Gazzolla, em Acari, unidade de referência no tratamento da Covid-19.

— Foi tudo muito rápido. Em duas semanas, ele morreu. Era jovem, saudável. Nunca teve doença nenhuma. Até hoje, estou em choque com o que aconteceu. Foi por isso que coloquei as cruzes de volta lá. Eles ficaram envergonhados e foram embora — diz Márcio.

Pai e filho na UPA
Pai e filho na UPA Foto: Álbum de família

Com o protesto, a ONG Rio de Paz buscou chamar a atenção para o número crescente de mortes em todo o país e apontou a falta de assistência para as comunidades mais carentes. O presidente da ONG, Antônio Carlos Costa, destacou o modo como a crise gerada pela pandemia no país tem sido conduzida. Ele apontou a falta de diálogo entre os três governos como um dos agravantes no combate ao coronavírus e a ausência de um cronograma na busca por soluções:

— O governo federal tem obrigação de apresentar metas e cronogramas para as áreas da saúde e da economia. Nós exigimos prestação de contas, transparência e a demissão daqueles que não alcançarem o objetivo dos prazos estipulados. O governo federal deveria ter assumido o protagonismo de organizar um gabinete de crise com governadores e prefeitos a fim de o Brasil ter uma política comum. O presidente da República precisa compreender que a população brasileira está vivendo um dos momentos mais dramáticos de sua história — afirmou Costa.

Via. https://extra.globo.com/


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