Filho de Flordelis diz que recebeu texto pronto da mãe para confessar morte de pastor
Um dos filhos da deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, Lucas Cézar dos Santos, acusado de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo, fez revelações à Polícia Civil sobre uma carta escrita por ele mudando sua versão sobre o crime. Em depoimento à polícia, obtido pelo EXTRA, Lucas acusou sua mãe de ser a responsável por escrever a carta, e afirma que apenas copiou o texto dentro do Presídio Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio. Lucas afirma que reconheceu a letra de Flordelis no texto original e alega que o documento também estava assinado pela mãe.
Na carta, Lucas assumiu a responsabilidade pela morte do pastor e isentou de participação no assassinato seu irmão, Flávio dos Santos Rodrigues, também preso pelo crime no presídio Bandeira Stampa. O rapaz afirmou que o texto escrito pela mãe para que ele copiasse chegou ao presídio pela mulher de um preso.
“A carta veio pra mim na mão. Só copiei a carta. Foi minha mãe que mandou pra mim a carta da rua”, afirmou Lucas em seu depoimento, prestado à delegada Barbara Lomba, que era titular da Delegacia de Homicídio de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) na época, além de outros policiais.
A carta escrita por Lucas dentro do presídio, e que o rapaz afirma ter sido copiada, foi exibida por Flordelis no “Fantástico”, da TV Globo. No programa, a parlamentar afirmou que a correspondência, segundo ela enviada pelo filho, saiu do presídio pelas mãos da mulher de um preso.
Em seu depoimento à DH, ao ser questionado sobre o porquê de ter assumido a responsabilidade do crime, Lucas disse que não aguentava mais ver seu irmão Flávio “choramingando”. Mas o rapaz também admitiu que Flávio prometeu lhe ajudar quando ele fosse solto. Além disso, diz que “botaram um novo advogado”, Marcelo Pires, que passou a defendê-lo.
"Todo dia era um chororô no meu ouvido. Mas no dia da audiência, eu ia chegar e mostrar a carta com a assinatura dela (Flordelis) pro juiz", afirmou Lucas, demonstrando que tinha intenção de revelar a fraude à Justiça.
Irmão teria rasgado a carta original
Lucas também relatou que havia guardado a carta original, que segundo ele foi escrita por sua mãe, mas Flávio teria rasgado o documento. Segundo os relatos do rapaz, o texto que ele deveria copiar chegou às suas mãos na semana anterior à reconstituição do crime, feita em 21 de setembro do ano passado. Lucas disse ter ouvido de seu irmão Flávio que a carta com a nova versão do crime ajudaria a "quebrar a reconstituição".
Na carta, Lucas acusou dois outros irmãos — Wagner Andrade Pimenta, o Misael, e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan — de envolvimento na morte de Anderson. No texto, Lucas afirmou que Misael, na presença de Luan, lhe ofereceu vantagens para “dar um susto” no pastor. Ele relatou que pediu a um amigo para fazer o serviço. “O moleque já sabia o que ia fazer, mas deu ruim”, escreveu, justificando o fato de o pastor ter sido morto. Misael e Luan não tinham sido citados por qualquer outra testemunha como suspeitos de terem participado da morte do pastor Anderson.
Inquérito sobre fraude
Lucas foi chamado a prestar depoimento na DH em 17 de dezembro do ano passado, no inquérito aberto por determinação da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, após o surgimento de indícios de fraude na carta escrita pelo rapaz. O filho de Flordelis afirmou, em depoimento na Justiça, que não tinha sido o autor da carta, que foi apenas copiada por ele, conforme revelado pelo EXTRA.
Na primeira fase das investigações da morte do pastor Anderson, a Polícia Civil concluiu que Flávio foi o responsável por atirar ao menos seis vezes contra a vítima na garagem da casa da família, em Pendotiba, Niterói. Ele próprio confessou o crime à DHNSGI. Já Lucas, de acordo com as investigações, ajudou o irmão a comprar a arma usada no crime. O rapaz, no entanto, nunca havia confessado participação no crime.
Lucas surpreendeu os investigadores e também seu advogado à época, Valter Santos, com a notícia de que não participaria da reconstituição do crime. Após aquele dia, ele também afirmou que não queria mais ser defendido por Valter. Inicialmente, a Defensoria Pública assumiu seu caso, mas logo em seguida ele passou a ter um novo advogado, Marcelo Pires. Após a audiência na Justiça na qual Lucas já havia admitido não ser o autor da carta, Pires deixou o processo e Lucas voltou a ser atendido pela defensoria.
Fora da reprodução simulada
No depoimento na DH em dezembro do ano passado e ao qual o EXTRA teve acesso, Lucas ainda faz acusações contra dois advogados que defendiam seu irmão, Flávio Crelier e Maurício Mayr. O rapaz afirma que ambos estiveram no presídio Bandeira Stampa e o orientaram a não participar da reprodução simulada do crime, que aconteceria na semana seguinte. Lucas também diz que os dois advogados pediram para ele "seguir o que estava na carta". De acordo com Lucas, Mayr teria dito a ele que participar da reconstituição prejudicaria ele próprio, o Flávio e Flordelis.
Advogados se posicionam
Procurado, Crelier, que não defende mais Flávio, disse que não se pronunciaria. Já Mayr admitiu que esteve no presídio, mas alegou que foi apenas dar ciência a Flávio e Lucas que eles não tinham obrigação de participar da reconstituição, mas que poderiam estar presentes. O advogado ainda negou que tenha dado qualquer orientação sobre a versão apresentada por Lucas na carta. Mayr disse ainda que há divergências entre as versões apresentados por Lucas na Justiça e na delegacia.
Questionado sobre o fato de ter ido ao presídio conversar com um réu do mesmo processo de seu cliente, e que portanto poderia haver colisão de interesses, Mayr diz que agiu por uma "questão social".
- Nós tínhamos conseguido que a Justiça desse uma decisão facultando aos réus (Lucas e Flávio) a participar ou não da reprodução simulada. Mas eles poderiam assistir. Fomos visitar os dois para dar ciência dessa decisão por uma questão social. Não foi falado para eles não participarem, mas apenas dar ciência do Direito Constitucional de não produzir provas contra eles - alega.
O advogado de Flordelis, Anderson Rollemberg, não retornou aos contatos feitos pelo EXTRA.
Fonte. Jornal Extra
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