Nem FHC, Lula ou Dilma interferiram na PF como faz Bolsonaro, afirma ex-delegado
De acordo com o delegado federal aposentado José Pinto de Luna, "o ex-ministro Sérgio Moro tem razão quando diz que no governo Lula — e aí estendo a Dilma e ao governo FHC — ninguém interferi". "No tempo em que eu estive na PF, ninguém nunca interferiu na nossa investigação"
O delegado federal aposentado José Pinto de Luna critica Jair Bolsonaro alegando interferência dele na Polícia Federal. "No tempo em que eu estive na PF, ninguém nunca interferiu na nossa investigação, e eu desconheço qualquer colega que tenha sofrido com ação política em suas ações", afirmou Luna em entrevista ao Uol.
"O ex-ministro Sérgio Moro tem razão quando diz que no governo Lula — e aí estendo a Dilma e ao governo FHC — ninguém interferiu. Na época do Lula e do FHC, havia tentativa de ingerência, sim, mas eles sempre rebateram esses assédios", acrescenta.
A entrevista concedida pelo delegado aposentado veio após Sérgio Moro apontar crimes de responsabilidade por parte de Bolsonaro. "O presidente me relatou que queria ter uma indicação pessoal dele para ter informações pessoais. E isso não é função da PF", disse o ex-juiz, que pediu demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, após Bolsonaro exonerar Maurício Freixo da Diretoria-Geral da PF.
Vale ressaltar que, em março de 2016, o delegado Igor Romário de Paula, que atuava na Operação Lava Jato, confirmou a independência da PF durante o governo do PT. Na ocasião, a Veja fez o seguinte questionamento: "O presidente Lula costuma dizer que a Polícia Federal foi fortalecida em seu governo. O senhor concorda?".
"Concordo. Do ponto de vista funcional, tivemos no governo do PT um avanço que hoje nos permite atuar com mais independência em determinados procedimentos, como o destino que se dá a um certo inquérito. Isso não deixa de ser paradoxal – o governo que nos deu mais autonomia para atuar é o mais atingido pelas investigações até agora", respondeu o delegado, que havia sido nomeado para ser o novo diretor de combate ao crime organizado da Polícia Federal.
O delegado aposentado Pinto de Luna continua suas críticas. "Vi uma entrevista do ex-ministro [da Justiça do governo FHC] José Carlos Dias, e concordo plenamente: nunca houve uma interferência como essa que Bolsonaro quer impor, com nomeação de superintendente, de diretor-geral. Isso é muito complicado", diz o delegado federal aposentado", disse ele, que chegou a se filiar ao PT em 2010 e se candidatou a deputado federal por Alagoas — onde encerrou a carreira como superintendente da PF no estado. Não se elegeu e deixou o partido em outubro de 2015. Depois de filiado ao PROS, disputou o governo de Alagoas em 2018, mas foi derrotado.
No caso do governo Dilma Rousseff, ele lembra que várias das operações miravam aliados. "A prova disso é que o ministro da Justiça à época [Eduardo Cardozo] manteve o mesmo diretor-geral até o final do governo, mesmo com muitas investigações em curso que expuseram o governo da presidente Dilma", afirma.
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