Homofóbico? Sexista? Violento? MMA segue gerando debates
Depois de quase duas décadas de
batalhas fora dos ringues e octógonos, buscando convencer o grande público de
que o MMA não se tratava de uma mera "rinha humana" (para usar o
termo favorito dos críticos), o esporte finalmente conquistou seu espaço.
Porém, sua consolidação num cenário de destaque acompanha uma constante
preocupação com a manutenção de uma imagem positiva, explorada através do lado
da competição saudável e da disciplina inerente à prática das artes marciais.
Quando se pisa em ovos, por mais cuidado que se
tome, há a chance de alguns quebrarem. Nesta semana, a Anheuser-Busch,
cervejaria dona da Budweiser e uma das principais anunciantes do UFC, emitiu
uma nota repreendendo a organização pelo comportamento de alguns atletas. A
companhia etílica entendeu que alguns dos empregados do Ultimate passam
mensagens sexistas e homofóbicas.
"Nós comunicamos a dirigentes
do UFC nosso desagrado com declarações dadas por alguns
de seus lutadores e eles prometeram resolver esta questão. Se
os incidentes continuarem, nós vamos agir", avisou a A-B em
comunicado, sem entrar em detalhes sobre possíveis ações. Um trecho
da carta ainda afirmava que a empresa "abraça a diversidade e não
tolera comentários insensíveis e depreciativos endereçados
a qualquer etnia, raça, religião, orientação sexual, identidade
de gênero, deficiência etc" .
Ao tomar ciência da reclamação da cervejaria, o
Ultimate respondeu em tom político. "Com mais de
425 atletas em nosso elenco, tem havido, infelizmente,
casos em que alguns deles fizeram comentários insensíveis ou
inadequados. Nós não toleramos este comportamento e de modo
algum é reflexo da visão da nossa empresa ou de
seus valores".
Na contramão, ao mesmo tempo em que condena um
comportamento sexista, a própria A-B se vale desse tipo de
"filosofia" em uma ação publicitária típica de fabricantes de
cerveja. No vídeo, Ariany Celeste, Ring Girl do UFC, deleita-se, explicitando
quase uma nudez completa, numa piscina cheia de limões para promover uma bebida
da Budweiser com um sabor diferente. A peça não foi veiculada na televisão dos
lares norte-americanos, tendo sua divulgação restrita ao Youtube e ao Facebook.
Nessa mesma linha crítica da cervejaria, o Comitê
Nacional de Defesa à Violência Doméstica e Sexual (NCDSV, sigla em inglês) dos
EUA publicou uma carta no dia 10 de janeiro repudiando o Ultimate.
"Acreditamos que a UFC contribui para uma cultura de
violência contra as mulheres, lésbicas, gays, bissexuais e
transexuais", dizia um trecho do documento, endereçado a parlamentares do
estado de Nova Iorque, onde é proibida a prática do MMA. Outra passagem dizia
que "as crianças, em particular, não devem ser expostas a
um linguajar de conteúdo homofóbico, misógino e violento, que
é permitido pelo UFC".
Coincidência ou não, a NCDSV tem uma série de
vídeos publicados no site unitforchildren.org (unidos pelas crianças, na
tradução literal), endereço eletrônico mantido pelo sindicato de profissionais
da culinária de Las Vegas (EUA), que teve barrada sua ação de tentar
sindicalizar os empregados dos cassinos dos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta
(sócios majoritários do UFC).
Os casos citados como exemplo são três:
1 — Quinton Rampage Jackson constrangendo mulheres
repórteres com brincadeiras de cunho sexual e gravando vídeos no Japão
ensinando pessoas dizerem em inglês que eram homossexuais.
2 — Rashad Evans afirmando que deixaria o
adversário (no caso, ele se referia a Phil Davis) pior do que as vítimas de
Jerry Sandusky, homem envolvido em um caso de abusos sexuais no estado da
Pensilvânia.
3 — Joe Rogan, comentarista das transmissões do
UFC, defendendo a liberdade do uso da palavracunt,
usada na língua inglesa para se referir a uma mulher como prostituta.
Como o próprio UFC argumentou, é difícil controlar
a opinião de tantos empregados de uma empresa que hoje é global. O Ultimate dá
mostras de que realmente se preocupa com sua imagem, já tendo demitido um
lutador por fazer uma piada sobre estupro. "Se uma van do estupro
fosse chamada de van da surpresa, mais mulheres não se importariam em andar
nela. Todo mundo gosta de surpresas", publicou Miguel Torres em dezembro,
uma semana depois de Forrest Griffin, ex-campeão da organização, ter feito uma
piada sobre o mesmo tema.
"Miguel Torres foi cortado do UFC e sua
carreira conosco agora acabou. Ele disse que não tinha ouvido o que aconteceu
com Forrest. Sério? Onde você mora? Em que tipo de negócio você está? Como você
não ouve sobre essas coisas? Você deveria ter prestado mais atenção. Eu não
posso defender Miguel Torres. Eu não posso defender o que disse. O que ele
disse não faz sentido a não ser quando diz: 'Foi uma piada'. Bem, não acho que
isso é uma piada engraçada. Eu acho que é preocupante" disse o Dana White,
presidente do UFC.
Porém, como em toda empresa, há empregados que dão
retorno financeiro. Torres, que é um lutador consagrado, emitiu em seu site um
pedido de desculpas, doou dinheiro para um centro de auxílio a pessoas que
sofreram estupro e o visitou como voluntário. Depois de sofrer quase um mês na
geladeira, ele foi readmitido pelo Ultimate. "Ele lidou com suas ações
como um homem", argumentou o "compreensivo" Dana White.
Como não poderia ser diferente devido à recente
popularidade alcançada, o MMA também atingiu a esfera pública brasileira. Há
duas semanas, os jornalistas José Trajano e Roberto Assaf, que assumidamente
não gostam de lutas, debateram com o colega Luciano Andrade, comentarista do
Canal Combate e defensor do esporte, a super exposição das Artes Marciais
Mistas na mídia nacional. O encontro aconteceu no programa Observatório de
Imprensa, da TV Brasil, em que foi discutida a regulamentação da prática no país,
o apoio da TV Globo e o projeto de lei do deputado federal José Mentor, que
deseja proibir a transmissão e eventos na televisão.
Fonte; Yahoo.
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