domingo, 21 de maio de 2023

Como Deus surge dentro da nova visão do universo

 

Galáxia
Galáxia (Foto: Reuters)


Leonardo Boff

Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996, Dabar, México 1996

Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência.

 Esta questão de Deus dentro da moderna visão do mundo (cosmogênese) surge quando nos interrogamos: o que havia antes do antes e antes  do big-bang? Quem deu o impulso inicial para  a aparição daquele pontozinho,menor que a cabeça de um alfinete que depois explodiu? Quem  sustenta o universo como um todo para continuar a existir e a se expandir bem como cada um dos seres nele exsistentes, o ser humano incluido?  

O nada? Mas do nada nunca vem  nada. Se apesar disso apareceram seres é sinal de que Alguém ou Algo os chamou à existência e os sustenta permanentemente.

  O que podemos sensatamente dizer sem logo formular uma resposta teológica, é: antes do big bang existia o Incognoscível e vigorava o Mistério. Sobre o Mistério e o  Incognoscível, por definição, não se pode dizer literalmente nada. Por sua natureza, o Mistério e o Incognoscível são antes das palavras, antes da energia, da matéria, do espaço, do tempo e do pensamento.

 Ora, ocorre que o  Mistério e o Incognoscível são  precisamente os nomes pelos quais as religiões, também o judeo-cristianismo, significam Deus. Deus é sempre Mistério e Incognoscível. Diante dele mais vale o silêncio que a palavra. Apesar disso, Ele pode ser  intuido pela razão reverente e sentido pelo coração inflamado. Seguindo Pascal diria: crer em Deus não é pensar Deus mas senti-lo a partir da totalidade de nosso ser. Ele emerge como uma Presença que enche o universo, se mostra como entusiasmo dentro de nós (em grego: ter um Deus dentro) e faz surgir em nós o sentimento de grandeza, de majestade, de respeito e de veneração. Essa percepção é típica dos seres humanos. Ela é inegável, pouco importa se alguém é religioso ou não.

 Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência. Naturalmente nos surgem as perguntas: 

 Quem fez tudo isso? Quem se esconde atrás da Via-Lactea e comanda a expansão do universo ainda em curso? Em nossos escritórios refrigerados ou entre quatro paredes brancas de uma sala de aula ou numa roda de conversa solta, podemos dizer qualquer coisa e duvidar de tudo. Mas inseridos na complexidade da natureza e imbuídos de sua beleza, não podemos calar. É  impossível desprezar o irromper da aurora, ficar indiferentes diante do desabrochar de uma flor ou não quedar-se pasmados ao contemplar uma criança recém-nascida. Ela nos convence de que, sempre que nasce uma criança, Deus ainda acredita na humanidade. Quase que espontaneamente dizemos: foi Deus  quem colocou tudo em marcha e é Deus que tudo sustenta. Ele é a Fonte originária e o Abismo alimentador de tudo, como dizem alguns cosmólogos.Eu diria: Ele é aquele Ser que faz ser todos os seres.

 Outra questão importante vem simultaneamente suscitada: por que exatamente existe este  universo e não outro  e nós somos colocados nele? Que Deus quis expressar com a criação? Responder a isso não é preocupação apenas da consciência religiosa, mas da própria ciência.  

 Sirva de ilustração Stephen Hawking, um dos maioress físicos e matemáticos, em seu conhecido livro Breve história do tempo (1992): “Se encontrarmos a resposta  de por que nós e o universo existimos, teremos o triunfo definitivo da razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus”(p. 238).  Ocorre que até hoje os cientistas e sábios estão ainda  se interrogando e buscando o desígnio escondido de Deus.

 As religiões e o judeo-cristianismo ousaram uma resposta, dando,com reverência, um nome ao Mistério chamando-o por mil nomes, todos insuficientes: Javé, Alá, Tao, Olorum e principalmente Deus.  

 O universo e toda a criação constituem um como que espelho no qual Deus mesmo se vê a si mesmo. São expansão de seu amor, pois quis companheiros e companheiras junto de si.Ele não é solidão, mas comunhão dos divinos Três – Pai,Filho,Espírito Santo – e quer incluir nesta comunhão toda natureza e o homem e a mulher, criados à sua imagem e semelhança.

 Dizendo isso, descansa o nosso cansado perguntar mas  face ao Minstério de Deus e de todas as coisas, continua o nosso perguntar, sempre aberto a novas respostas.

Fonte.Brasil247.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um pouco sobre Maria Bonita

  Maria Bonita nasceu no dia 17 de Janeiro de 1910 em Malhada da Caiçara, no atual município de Paulo Afonso, na Bahia. Era filha de José Go...