Gay não pode doar sangue
* Eugenio Ibiapino
Às vésperas da realização do carnaval, uma das festas mais populares do mundo, reacendo a polêmica sobre a proibição de doação de sangue de homens gays e bissexuais.
No Rio de Janeiro, a mídia tem noticiado constantemente que o HEMORIO está precisando da doação de sangue e a falta de sangue é algo preocupante não somente no Estado do Rio de Janeiro, mas em todo o país. Portanto há de se estranhar que em um país onde o Governo Federal chama uma conferência Nacional para se construir políticas públicas para o seguimento social LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e travestis), fato este que nunca aconteceu em nenhum outro país nem mesmo na Europa aonde a luta pelos direitos civis está bastante avançada. Em contrapartida a ANVISA (Agência nacional de vigilância sanitária) Órgão do Governo Federal, baixou a portaria de nº 153/2004 Que proibi doação de sangue de homens gays e bissexuais.
É lamentável que se mantenha uma proibição flagrantemente discriminatória em um país em que os hemocentros vivem com seus estoques de sangues vazios. Estudei a fundo a resolução 153/2004 da ANVISA e cheguei a conclusão de que esta decisão governamental afronta os princípios constitucionais de não discriminação contidos na carta magna do país. Porém, enquanto militante pela causa dos direitos humanos tenho o dever de esclarecer para a população alguns equívocos acerca da doação de sangue de gays e bissexuais.
A ANVISA parte do pressuposto de que ser gay / bissexual é um modo de vida promíscuo, porque mantém a lógica equivocada de que " existem grupos de risco'', haja vista que atualmente 75% das pessoas infectadas com HIV/AIDS são heterossexuais;
Por que estimular a mentira? Se o gay ou bissexual negar sua orientação sexual poderá doar sangue normalmente,pois a janela imunológica ( período de uma pessoa estando infectada, o sangue pode não detectar ) alegada pela ANVISA, é valida para qualquer pessoa independente de orientação sexual;
A proibição contraria o ato solidário de doar sangue. No Brasil somente cerca de 1 % da população é doadora de sangue, quando a ONU recomenda que o ideal seja que pelo menos 6% doe.Todavia já estou cansado de encaminhar pessoas gays para doar sangue e na hora essas pessoas são reprovadas pelo fato de afirmarem que são gays ao responderem ao questionário do estabelecimento de saúde. Gostaria também de registrar que esta atitude vexatória acontece não somente na baixada como em todo o país.
A resolução da ANVISA viola pelo menos três princípios constitucionais: O da igualdade, fazendo preconceituosa distinção entre homossexuais e heterossexuais para o fim da doação de sangue; O da liberdade, ao incitar forçosamente as pessoas escolherem parceiros heterossexuais, desestimulando a vivencia da homossexualidade, bem como o modo de ser e de viver, a partir do resgate da cidadania plena e do bem estar do individuo, constituindo um empecilho das pessoas que se descobrem homossexuais sem que nenhum direito individual ou social justifique a tal resolução.
Nas campanhas publicitárias não consta claramente a proibição de doação de sangue por homens gays e bissexuais, mas o constrangimento acontece na ato de doa-lo.Tal proibição se baseia numa visão obsoleta e contraria não somente a orientação do Ministério da Saúde como significa uma afronta a declaração Universal dos direitos humanos.
O carnaval já se aproxima e independente de qualquer norma governamental equivocada, o importante é usar o preservativo na hora na relação sexual, porque este é atualmente o meio mais eficaz de se prevenir das DSTS e da AIDS.
* Fundador do movimento homossexual da baixada fluminense.
presidente do grupo 28 de junho.
Ex seminarista católico.
Coordenador da parada LGBT de Nova Iguaçu
Fonte.eugenio28.blogspot.com.br.
Obs. Texto publicado em 2011.
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