sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Deputado Hélio Lopes e a vergonha que os bolsonaristas não se cansam de passar

 Lamento que o deputado Hélio Lopes exerça a sua polivalência funcional da pior forma possível.

Hélio Lopes
Hélio Lopes (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)
E os bolsonaristas não se cansam de passar vergonha. Prestes a ver o líder da quadrilha ser preso por tentar roubar joias do Estado brasileiro, o que já deveria fazê-los desistir do discurso moralista e conservador que define as suas, digamos, ideologias, políticos que professam tão estúpida fé em seu mito seguem feitos lobos correndo em círculos e acionando o apito de cachorro para alimentar a matilha do fascismo terraplanista brasileiro. Enquanto os escândalos se sucedem em torno de Bolsonaro, que já viu a tão decantada heterossexualidade dos filhos 01, 03 e 04 ruir nos noticiários de fofoca da mídia nacional – Logo ele, um machão homofóbico de alta patente do exército defensor da família tradicional brasileira – um de seus fiéis escudeiros, o deputado federal Hélio Lopes, também conhecido como Hélio “Bolsonaro”, Hélio Negão e negão do Bolsonaro, tentou protagonizar um embate com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante uma sessão das Comissões de saúde, previdência e assistência da Câmara dos Deputados.

Há um tempo, talvez os dois estivessem um pouco mais alinhados. Principalmente, em suas opiniões com relação às cotas raciais no ensino superior. Hélio, apesar de negão, sempre se posicionou contra, e Nísia estava entre os 113 intelectuais brasileiros que assinaram o manifesto contra tal política inclusiva em 2008. Passados 15 anos, alguns dos ilustres anti cotas, entre eles, o compositor Caetano Veloso e a antropóloga Lilia Schwarcz, que hoje em dia é tida como uma sumidade africana (mesmo sendo branca) quando o assunto é racismo, já manifestaram publicamente o seu arrependimento por terem subscrito o manifesto. Mesmo não o tendo feito de maneira pública, devo supor que a atual ministra da saúde também tenha se arrependido. Voltando ao deputado Hélio Lopes, que raramente se manifesta verbalmente em seu mandato, ficou nítido que quando ele se manifesta mantém o nível de retórica e dialética que caracteriza os parlamentares bolsonaristas. Sobretudo, quando tentam acusar a esquerda de destruir a família. E, agora, em defesa da agenda woke. Segundo o “bolsonarício” deputado.

Usando aquela velha narrativa desbotada ou coisa assim, Hélio Lopes começou dizendo que não iria questionar, mas questionando, o fato de Nísia Trindade não ser médica e estar à frente do ministério da saúde. Em seguida, classificou a resolução 715 do Conselho Nacional de Saúde, que traz 59 novas orientações para a área da saúde pública no país, como um projeto de destruição da família. O clímax da grita do deputado bolsonarista, são os pontos referentes à legalização do aborto e da maconha, as políticas de saúde para a população LBTQIA+ e a inclusão das religiões de matriz africana no contexto da saúde pública no Brasil. O que, na visão de Hélio Lopes, é uma agenda woke. Como bom capitão do mato a serviço da casa grande que é, o negão do Bolsonaro tinha que se revoltar contra o termo “woke”, que surgiu dentro da comunidade afro-americana e ganhou destaque com o movimento Black Lives Matter, para denunciar a violência e a brutalidade policial cometida contra a população afrodescendente nos EUA. Originalmente, “woke”, que é o passado do verbo “Wake”, que significa “acordar” ou “despertar”, sugere “estar alerta ” para os problemas sociais e raciais da sociedade.

Acusando a ministra de estar ideologizando o ministério que administra, o deputado perguntou à Nísia Trindade se ela já havia perdido algum parente para as drogas e revelou que já perdeu três sobrinhos. O mais recente, segundo ele, morto em fevereiro por envolvimento com o tráfico. Uma prova de que os bolsonaristas não conseguem convencer nem aos próprios parentes. Mas querem ser vistos como um “bom exemplo” para a sociedade brasileira. Declarado fã de Margareth Thatcher, a ex “dama de ferro” do imperialismo britânico, Hélio reforçou o seu alinhamento com a casa grande, ao reclamar do que ele chamou de “SUS negro”, que, na verdade, trata-se do artigo 41 da resolução, que prevê a efetivação de uma política nacional de saúde integral para a população negra, em face do racismo estrutural (que ele nega existir) que muitas vezes faz com que os negros não tenham amplo acesso à saúde pública no Brasil e a um tratamento digno dentro dela. Já seria o suficiente para que ele ganhasse o troféu vergonha alheia do dia, porém, o irmão preto de Bolsonaro, como ele também gosta de ser chamado, resolveu filosofar e disparou que “para ser mãe tem que ter útero”, criticando mulheres que defendem o aborto. Não entendi Bolsonaro, digo, bosta nenhuma do que ele quis dizer. Mas, enfim...

A tristeza de Hélio também se abriga no fato de cristãos evangélicos terem votado no PT, sabendo do potencial destrutivo que as ideias do partido representam para a família cristã brasileira. Uma família que não se abala em saber que o seu messias, além de ter contribuído com a morte de setecentas mil pessoas durante a pandemia, ainda é um ladrão de jóias do Estado brasileiro. Família cristã essa que via seres humanos na fila do osso ou catando restos de comida pelas ruas, por causa da política elitista e aporofóbica implementada pelo “enviado” de Deus para libertar o país do bicho papão do comunismo, e nunca percebeu que aquilo sim era a destruição de milhares de famílias brasileiras. Controlar o acesso ao ânus alheio, impedir o direito que o outro tem de fumar o seu baseado e proibir que mulheres e adolescentes abortem frutos de estupros, geralmente praticados por conservadores hipócritas, era mais importante e agradável à Deus. Perda de tempo dizer para bolsonaristas que não existe família que resista à fome, à miséria, a opressão, ao racismo, à homofobia, à precariedade da saúde pública, à violência das forças de segurança e a todo e qualquer tipo de injustiça e desigualdade racial e social que a “cultura woke” condena. Até Deus deixaria de existir diante de tudo isso.

Não deveria, por saber que parte da nossa classe média e elite que ajudou a eleger Bolsonaro, é do atraso e portadora de uma ignorância ímpar, mas ainda me assusto com o despreparo, para não dizer limitação cognitiva, da maioria dos parlamentares bolsonaristas. É um show de estupidez e burrice, que atenta contra a vida de milhões de pessoas que não elegeram essas bestas como seus representantes. Lamento que o deputado Hélio Lopes exerça a sua polivalência funcional da pior forma possível, como capitão do mato, puxa saco de Bolsonaro, negacionista e bobo da corte bolsonarista. A nossa sorte é que o governo Lula vem fazendo uma boa gestão e trabalhando para que a pauta dita woke seja prioritária. E tem que ser mesmo. O mundo mudou, continuará mudando e precisa mudar ainda mais, sobretudo, no avanço das pautas raciais, progressistas e inclusivas. E que o fascismo bolsonarista seja defenestrado da nossa sociedade. 

Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

Fonte.brasil247.com



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