terça-feira, 28 de outubro de 2014

‘Sapatão é uma palavra acolhedora para mim’, diz colunista estreante do PPQO

MÔNICA SALDANHA* - Em agosto de 1989, sob o signo de leão, nasceu uma sapatão. ‘Opa! Mas, assim, sapatão?! Por que não lésbica, mulher gay ou qualquer outro termo mais leve? Qual a necessidade de ser agressiva assim?’ Calma que eu já explico. Vamos continuar a história. Então, o fato é que nasceu a sapatão. Naquela época, era só uma menina quase careca, com uns três fios de cabelo branco e a carinha rosada de bebê Johnson. Ninguém sabia que ela era sapatão. A menininha foi crescendo, muito diferente das amigas em algumas coisas, e parecida em tantas outras. Ela resolveu que queria ser veterinária, depois atleta, psicóloga. Professora. Aos 17, descobriu que era sapatão. Descobriu também que o mundo não gostava muito disso. Percebeu que essa palavra, mesmo tão acolhedora, seria usada contra ela por todo o resto da sua vida. ‘Acolhedora? Sapatão, uma palavra acolhedora?’. Sim. Acolhedora porque representava todas as outras meninas que se sentiam do mesmo modo que ela. Não é fácil crescer acreditando que se é a única pessoa do mundo que se sente fora de lugar. Reconhecer-se sapatão era, finalmente, fazer parte de um grupo. Era finalmente encontrar iguais. Seria ótimo se as pessoas não insistissem em usar essa palavra contra ela, pronunciada com nojo e desdém. Mas depois de alguns anos ela entendeu o que precisava fazer pra parar essa agressão: ela precisava deixar de lado a vergonha de ser quem era, a sapatão. E foi o que ela fez. Entenderam agora por que eu a apresentei assim? Tomando a palavra para si, ninguém pode usá-la novamente como arma. Essa menina, agora já quase adulta, acabou escolhendo mesmo a profissão de educadora. Fez Letras, acreditando que ficaria rica escrevendo best sellers. Não era verdade, porém nem tudo estava perdido. Na sala de aula, ela percebeu que havia muito mais meninas como ela, tentando se encontrar, sentindo-se isoladas, estranhas, erradas. Havia outros, diferentes dela, mas também necessitados de informação, orientação e apoio. Quando o amor pela sala de aula encontrou a necessidade de apoiar essas meninas, fez-se a luz: era preciso levar a elas, e a tantas outras pessoas perdidas na própria sexualidade, as informações que faltavam. Era preciso primeiro compreender a sexualidade humana para ajudar outros a se encontrarem e se sentirem bem consigo mesmos. Em fevereiro de 2014, a menina entrou pela primeira vez na sala onde aprenderia que Educação Sexual é muito mais do que colocar camisinha num pênis de borracha, é entender o ser humano em uma das suas características mais elementares. É ética. É amor. É a forma como nos relacionamos com o mundo. E lá ela conheceu um jornalista simpático chamado João, diretor de um site sobre sexo, o Pau Pra Qualquer Obra. Agora, quase um ano depois, veio o convite pra me juntar a esse grupo tão diversificado de ‘profissionais do sexo’. O convite pra dividir com vocês as minhas dúvidas e experiências e pensamentos. Eu não sou mais a menininha careca de 89, mas o espírito e a vontade de crescer são os mesmos. Para mim, é um prazer estar aqui. Espero que seja também para vocês. *Mônica Saldanha, 25 anos com carinha de 13 e altura de dez. Professora por formação e por força do destino, a paixão (pela sala de aula) a pegou, ela tentou escapar mas não conseguiu. Resolveu estudar sexualidade e conseguiu o emprego dos sonhos: falar de sexo o dia todo sem ser julgada por isso. Fonte. http://www.paupraqualquerobra.com.br/

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