sábado, 29 de setembro de 2012

Militante gay questiona pregação religiosa no Hospital Emílio Ribas




Militante gay questiona pregação religiosa no Hospital Emílio Ribas

por Ricardo Rocha Aguieiras
militante do movimento gay


O fundamentalismo religioso esta na ordem do dia, cada vez mais presente no nosso cotidiano e, desde a última eleição, com o aval da Presidência da República.

Sou paciente do Instituto Emílio Ribas [entidade pública do Estado de São Paulo] desde 2005 e sempre admirei a forma como somos tratados lá, a organização, limpeza perfeita e médicos preocupados, estudos avançados e tudo isso acabou tornando o complexo hospitalar uma referência mundial em doenças infectocontagiosas. Mas...

Uma coisa sempre me incomodou lá dentro são as suas duas capelanias religiosas, a católica e a evangélica, esta última dirigida pela Igreja Presbiteriana do Brasil, de cunho homofóbico e que considera diversidade sexual como pecado e como possessão demoníaca e encaram a epidemia de Aids como consequência direta desta "perversão moral".

Antes a gente ainda via uns crucifixos em alguns lugares do hospital, hoje bem menos. Mas vejo as tais "voluntárias" religiosas sufocando pacientes com seus panfletos e imagina você: alguém doente é alguém numa situação de extrema fragilidade e carência, muitas vezes vem de longe, muitos não possuem informação e estudo para se defender e acabam sendo presas fáceis nas mãos de doutrinas oportunistas e sufocantes.

Já vi coisas absurdas lá, como tirarem as revistas destinadas aos pacientes dos cestos e colocarem em seu lugar os folhetos e jornais religiosos. São impositivos. Outro dia uma delas rangeu os dentes por que eu não quis o folhetinho delas, me xingou baixinho e depois falou o xingo maior: "Fica com Deus". Ora, muitas vezes não tem leitos disponíveis para doentes, ainda vão ter que achar espaço para deus?... risos...

A gente brinca, mas o assunto é sério. Ontem me chegou uma denúncia falando que estariam dificultando a entrada das Igrejas Inclusivas, lá, até mesmo para visitas pessoais a um ou outro paciente que já seja dessas igrejas.

Eu fico me perguntando: se o Estado é laico, cadê as outras religiões atuando lá dentro? Cadê os budistas, cadê os judeus, cadê as religiões de matrizes africanas? E outras? Cadê? Como pode só essas duas ficarem lá dentro, metidas e poderosas, barrando a entrada de outras? Aliás, como fazem fora, também, dominando e sufocando todos os espaços, inclusive no Senado e no Congresso Nacional. Percebem a gravidade?

Fui voluntário lá mesmo, no Hospital Emílio Ribas, há dois anos. Passamos por dois meses de treinamento antes de visitarmos pacientes internados, para levar livros, revistas, sabonetes e pastas de dente, ver se precisam de algo, avisar familiares e etc.

Antes de entrar nos quartos a gente tinha que lavar as mãos na ante sala e ao sair, idem. Passar o gel antisséptico também. Mas eu notava que membros das duas capelanias não faziam o mesmo...estranho, né?

Éramos orientados a não entrar num quarto quando havia enfermeiros, médicos ou outras visitas. Respeitávamos isso. Mas eles, não. Abriam a porta e iam entrando dando glórias a Jesus. Invasivos desde sempre.

Olhem só o que está escrito no livro da capelã-missionária da Igreja Presbiteriana, que comanda lá no Emílio Ribas, a Eleny Vassão de Paula Aitken:

"A ciência já descobriu que informar a sociedade sobre este mal é uma necessidade básica e urgente. Mas descobriu também que somente a informação não produz transformação de mentes e de hábitos sexuais. E o problema continua, então, crescendo a cada dia. Qual a missão da Igreja frente à Aids? Nós conhecemos o único meio pelo qual as pessoas que se envolveram em prostituição, homossexualismo, travestismo e drogas podem ter suas hábitos transformados, tornando-se novas criaturas: através do relacionamento com a pessoa de Jesus. À Igreja cabe o papel de contar à população as boas-novas do Evangelho, e assim participar desta batalha contra a Aids. Amar: Informando, evangelizando e consolando, está é a maneira pela a Igreja demonstra ser a luz do mundo e o sal da terra, impedindo o total apodrecimento."

Ou seja, para eles, somos podres, e Aids, castigo. Anos e anos lutando para fazer a sociedade ter menos preconceito e destroem tudo, em pouco tempo. Percebem a gravidade?

Este texto foi publicado


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