PT elege prefeitos em 4 das 100 maiores cidades; PSOL governará Belém (PA) e PDT venceu nas quatro cidades que disputou.
Brasil de Fato - Partidos de esquerda e centro-esquerda elegeram prefeitos em 12 cidades de nove estados diferentes neste domingo (29). Ao todo, 57 cidades foram às urnas em 2º turno, e 25 delas com candidatos do campo democrático na disputa.
O PT, que hoje não tem nenhum prefeito entre as cem maiores cidades do país, saltará para quatro a partir de 2021: José de Filippi Jr., em Diadema (SP); Marília Campos, em Contagem (MG); Margarida Salomão, em Juiz de Fora (MG); e Marcelo Oliveira, em Mauá (SP).
Também no 2º turno, o PSOL elegeu Edmilson Rodrigues em Belém (PA) e foi derrotado com Guilherme Boulos em São Paulo (SP).
O PDT foi o único partido do campo progressista que venceu todas as prefeituras que disputou neste domingo. José Sarto triunfou em Fortaleza (CE); Edvaldo Nogueira, em Aracaju (SE); Sergio Vidigal, em Serra (ES); e Caio Vianna, em Campos dos Goytacazes (RJ).
O PSB elegeu João Campos no Recife (PE); João Henrique Caldas, em Maceió (AL), e Rubens Bomtempo, em Petrópolis (RJ). O PCdoB foi derrotado com Manuela D'Ávila em Porto Alegre (RS).
Para a cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Maria do Socorro Sousa Braga, a eleição 2020 marcou a reorganização do sistema partidário dois anos após a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido).
"Os partidos da direita neoliberal, PSDB, PP e DEM, tiveram um avanço significativo, enquanto a esquerda teve certa divisão, especialmente no 1º turno, apesar da unidade em algumas cidades”, analisa.
"O PT continua como partido mais importante do campo da esquerda, embora sem a mesma hegemonia de antes. O PSOL emerge com lideranças importantes, como o Boulos, mas o PT ainda tem uma capilaridade muito maior. Então, a tendência é uma oxigenação maior do campo da esquerda", finaliza.
O ex-juiz e ex-ministro passa a ser sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal (A&M), com sede nos Estados Unidos, para atuar na área de Disputas e Investigações”. A empresa administra a quebra a Odebrecht e OAS.
247 - A consultoria Alvarez & Marsal (A&M), com sede nos Estados Unidos e que administra a recuperação judicial da Odebrecht e OAS, anunciou na noite deste domingo (29) um novo sócio no Brasil: o ex-ministro e ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro.
“A contratação de Moro está alinhada com o compromisso estratégico da A&M em desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e seus próprios consultores a expertise de um ex-funcionário do governo brasileiro”, diz a nota da consultoria, após ressaltar que Moro será “sócio-diretor, com sede em São Paulo, para atuar na área de Disputas e Investigações”.
“Durante seu mandato, foi juiz presidente em processos criminais complexos, tanto nacionais como internacionais, incluindo a Operação Lava Jato, maior iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil. A Lava Jato gerou uma onda anticorrupção não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Tanto como ministro quanto como juiz federal, Moro colaborou com autoridades de países da América Latina, América do Norte e Europa na investigação de casos criminais internacionais relacionados a suborno, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e crime organizado”, diz ainda a nota.
Pensando na parcela das pessoas inseridas no Cadastro Único que têm algum tipo de deficiência, a Prefeitura de Nova Iguaçu criou o Núcleo de Atendimento à Pessoa com Deficiência (NAPD), que funciona no prédio da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). A exemplo do Núcleo de Atendimento ao Idoso (NAI), o NAPD tem como principal objetivo auxiliar os iguaçuanos que têm direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) desde seu requerimento até a concessão.
Mais do que auxiliar na adesão ao BPC, o NAPD também oferece orientação e atendimento social, inclusive auxiliando os usuários do serviço na busca por vagas de trabalho junto às empresas que oferecem postos para este perfil. Para isto, o NADP conta com uma equipe composta por um assistente social, um cadastrador, uma auxiliar administrativa e uma estagiária, a gestora Daniella Chaves e o diretor Marcos Paulo Pereira.
Segundo a secretária da SEMAS, Elaine Medeiros, a pessoa com deficiência que não estiver no Cadastro Único pode se cadastrar no NADP. No núcleo, a equipe verifica que outros tipos de atendimento o usuário pode necessitar e o encaminha ao Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) mais próximo de sua residência. “Além de um espaço físico para atendermos a demanda espontânea, também faremos um trabalho de busca ativa por meio de visitas domiciliares, telefonemas e envio de cartas às pessoas com deficiência que se enquadram no perfil do BPC”, explica a secretária.
Têm direito ao BPC-Deficiência pessoas que apresentam impedimentos de longo prazo (mínimo de dois anos) de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que impeçam a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Além disso, é necessário que a pessoa tenha como renda per capita familiar o máximo de um quarto do valor do salário mínimo, o que representa R$ 261,25. O valor do benefício mensal pago pelo INSS é de R$ 1.045.
Atriz Fernanda Paes Leme (Foto: Reprodução (Youtube))
"Meu voto no Guilherme Boulos é um voto pela mudança, por uma política que eu acredito não só pra mim, cidadã cheia de privilégios", afirmou a atriz Fernanda Paes Leme.
247 - A atriz Fernanda Paes Leme declarou apoio ao candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL).
"Meu voto no @GuilhermeBoulos é um voto pela mudança, por uma política que eu acredito não só pra mim, cidadã cheia de privilégios, mas principalmente para periferias, para movimentos sociais, para minorias que vão além do discurso raso de 'somos todos iguais'", escreveu a artista em sua conta no Twitter.
Na pesquisa Datafolha, publicada nessa terça-feira (24), o líder do MTST apareceu com 45% dos votos e o prefeito São Paulo, Bruno Covas (PSDB), alcançou 55%.
Meu voto no @GuilhermeBoulos é um voto pela mudança, por uma política que eu acredito não só pra mim, cidadã cheia de privilégios, mas principalmente para periferias, para movimentos sociais, para minorias que vão além do discurso raso de "somos todos iguais". #boulos50
"O brutal assassinato de João Alberto, o Beto Soldador, ganhou o mundo porque as imagens bestiais foram gravadas e expostas", destaca o colunista Eric Nepomuceno. "Terrível é saber que essas mesmas imagens se repetem nas mãos da polícia a cada hora de cada dia em qualquer das favelas e subúrbios espalhados ao longo deste país destrambelhado e perverso"
O assassinato de João Alberto Silveira Freitas por dois seguranças, um deles da Polícia Militar, em um supermercado Carrefour em Porto Alegre teve um forte impacto mundo afora. Primeiro, por se tratar de uma cadeia comercial espalhada pelo mapa. E, segundo, por não ser a primeira vez em que o grupo aparece como cenário de violência contra negros.
Deveria servir também para uma cuidadosa investigação sobre as empresas particulares de segurança, infiltradas ou diretamente controladas por agentes policiais. Reúnem centenas de milhares de empregados, boa parte deles também das polícias, agem com violência desmedida – principalmente contra negros – e sem controle eficaz algum.
Leia a reflexão sobre Mateus 25,31-46, texto de Günter Wolf.
Boa leitura!
Mateus 25,31 contrapõe Jesus ao patrão da parábola anterior. Lá o patrão é o juiz; aqui Jesus é o juiz. Lá o patrão (sistema) julga, e aqui Jesus julga com outros critérios e medidas e a partir de outras propostas. Jesus julga a partir das vítimas do sistema econômico escravagista. Jesus julga nações inteiras por sua prática com as medidas baseadas no amparo, na solidariedade, na resistência e em favor dos fracos.
Na parábola anterior, somente o patrão julga pela prática do sistema contra o fraco e contra quem resiste ao sistema. No texto anterior, somente os escravos são julgados a partir de sua prática de apoio ou não ao sistema. Aqui todos são julgados a partir de sua prática a favor ou contra as vítimas do sistema, inclusive Roma com seu sistema escravagista. Ninguém escapa da justiça divina. Os que ajudaram as vítimas do sistema são justos e terão a salvação (v. 46). O critério para nossa ação é dado pelos que sofrem e não por nós mesmos. São os fracos que dizem o que nós devemos fazer. É salvo quem atende o seu chamado, tem misericórdia e é solidário. Aqui, se parte da prática automática da fé (em favor dos fracos) como critério de salvação.
Critério para ser justo (vv. 35-36.40) é o atendimento às vítimas do sistema, e com isso se denuncia o próprio sistema.
Maldito é quem não atende e não vai ao encontro das vítimas do sistema. Abençoado, salvo é aquele que não entra no sistema e pratica a diaconia, o serviço. Aqui nem se fala explicitamente da fé. A ação de solidariedade e acolhida decorre automaticamente como gesto de misericórdia. “Misericórdia quero e não holocaustos” (Mt 9,13). No texto anterior, era maldito aquele que não entra no sistema; aqui é o contrário.
Denúncia do sistema: O sistema traz e produz:
Fome – expulsa da terra, não tem trabalho, cria sem-terra.
Sede – havia multidões de andarilhos, sem lar e terra, percorrendo o país na paisagem desértica da Palestina.
Nudez – pobre não tem roupa, só trapos.
Prisão – quem resiste ao sistema ou não pode pagar as dívidas vai preso ou tem que roubar para viver.
Doença – pobreza e miséria trazem a doença.
Forasteiros – muitos vão para o exílio ou escravidão romana por falta de pagamento de dívidas ou revoltas. Também há os que vão para a Palestina. Há uma migração intensa. Forasteiros e migrantes eram, em sua maioria, pessoas das primeiras comunidades cristãs. São os paroquianos.
Como nos relata Aristides, cidadão romano (não cristão) de 125 d.C., que escreve sobre os cristãos:
“Eles andam em humildade e bondade. Não existe falsidade entre eles. Amam uns aos outros. Ouve-se que, se alguém dentre eles é preso ou oprimido por causa do nome de seu Messias, todos providenciam para suas necessidades, e, quando possível de ser liberto, eles o libertam. E se há alguém dentre eles pobre e necessitado, jejuam dois ou três dias para supri-lo com o alimento de que precisa. Eles não desviam sua atenção das viúvas, e os órfãos eles libertam de quem os violenta”.
O texto expõe a prática exigida aos batizados das primeiras comunidades. Essa é a prática de fé dos batizados, que confere com as exigências do texto.
Quem vive segundo o sistema diz que isso (os famintos e os sedentos) é o preço do progresso. Jesus diz que isso é resultado do sistema econômico escravagista romano opressor.
Os vv. 37 e 44 perguntam: “Senhor, quando foi que te vimos…?”. Jesus deixa bem claro que ele é o faminto, a vítima do sistema. Ajudando as vítimas do sistema, estar-se-á combatendo o sistema em si, pois se terá que atacar as causas do sofrimento. Como acabar com a fome? Devolvendo as terras aos camponeses, que o Estado romano deu a seus aliados. Quem não se solidariza com as vítimas do sistema também não o combaterá. Isso tudo é feito de uma forma espontânea, que brota da prática da fé.
Jesus Cristo continua não sendo reconhecido como estando presente em meio às pessoas. Assim como os judeus não o reconheceram como o Messias, assim também a comunidade cristã tem dificuldade para reconhecê-lo nos massacrados pelo sistema. Mas há sempre um grupo que, mesmo não o reconhecendo nos pobres, acolhe-o por sua prática de fé solidária e revolucionária. Jesus nasceu, morreu e continua sendo pobre e continua sendo vítima do sistema – essa é a revelação. Nós precisamos optar de que lado queremos ficar: ao lado de Jesus corre-se o risco do sistema nos julgar, e a partir daí faremos parte dos massacrados e vamos necessitar de solidariedade e acolhida – tomai a vossa cruz e sigam-me!
O v. 46 fala do castigo eterno para os causadores do sofrimento e aqueles que o apoiam e fortalecem. Justo é o que ampara as vítimas do sistema e não se enquadra em sua dinâmica, que é excluir e produzir pobres. Ai daqueles que não se solidarizam com as vítimas do sistema e não lutam contra o mesmo, que cria essas vítimas.
A diferença no final é que, no texto anterior, o pobre vai para o castigo e o sofrimento. Aqui vai para o castigo quem apoia o sistema e não se solidariza com os pobres. A salvação é para quem acolhe as vítimas do sistema, aqueles que passam fome e não têm terra e trabalho.
Não têm terra e trabalho porque os romanos não obedecem ao mandado de Deus. Eles agem como deuses que se apossam da terra. Antes a terra era de Deus (Lv 25,23); agora é do Estado, que a dá a seus aliados.
Com o objetivo de melhorar o atendimento aos usuários do sistema de transporte do município, oferecendo mais segurança e conforto, a Secretaria Municipal de Transporte, Trânsito e Mobilidade Urbana de Nova Iguaçu (SEMTMU) vai vistoriar os ônibus e micro-ônibus das empresas que operam na cidade. A ação acontece a partir desta segunda-feira (23) e vai até 1º de dezembro. Cerca de 400 coletivos devem ser vistoriados nas garagens das empresas ou em seus pontos finais, das 8h às 17h.
Os veículos deverão estar lavados e aspirados, com o layout de pintura do consórcio. No ano passado, trezentos e oitenta coletivos foram vistoriados, com cerca de 10% da frota sendo reprovada no momento da vistoria. Após as exigências serem corrigidas, esses ônibus voltaram a circular.
Agentes vão avaliar diversos aspectos durante a vistoria. Entre os itens estão como espelho retrovisor, parabrisa, buzina, extintor de incêndio, vidros das janelas, bancos, estofamento, cigarra, catraca, validador, iluminação interna e externa, elevador para cadeirante, setas, farol alto, luz de ré, pisca-alerta, freio, letreiro luminoso indicando a linha, motor, cinto de segurança e acessibilidade.
Caso os ônibus sejam reprovados, as empresas têm um prazo de até três dias para se adequarem. Eles passam por nova vistoria por uma equipe SEMTU, que confere se tudo foi acertado e legalizado. Se não for cumprido todas as exigências, o coletivo fica impedido de circular.
Confira as datas das vistorias dos veículos, de acordo com o calendário abaixo:
Vistoria: 23 de novembro / Código 01 – Viação São José Ltda (Res.de Tingua) 24 de novembro / código 02 – Viação Mirante Ltda (Res. de Tingua) 25 de novembro / código 03 – Linave Transportes Ltda (Res.de Tingua) 26 de novembro / Código 04 – Auto Viação Vera Cruz Ltda (Res. de Tingua) 27 de novembro / Código 05 – Cavalcante & Cia Ltda (Nilopolitana) (S.do Vulcão)
A cantora expôs falas racistas direcionadas contra ela durante toda sua carreira, incluindo as de alguns artistas.
247 - A cantora Ludmilla expôs uma série de declarações racistas direcionadas contra sua pessoa durante o Prêmio Multishow 2020, na última quarta-feira (11). Ao iniciar a performance de seu novo single, ‘Rainha da Favela’, Ludmilla mostrou o dedo do meio durante a emissão de áudios com os ataques racistas que já sofreu
Em 2017, Ludmilla foi chamada de “macaca” pelo apresentador Marcão do Povo, do SBT.
“Alguém me chama de macaca no vídeo, mas não sabemos quem foi a pessoa exatamente. Até quando isso? As coisas para mim e para a maioria dos brasileiros nunca foram fáceis. Com preconceito e julgamento pela cor da pele, vocês só complicam as coisas. A vontade de me diminuir é tanta que não pensam nas consequências dos atos”, relatou nas rede sociais”, reagiu a cantora nas redes sociais na época.
Benjamin "Beny" Steinmetz, defendido pelo ex-juiz Sergio Moro, é investigado por suspeitas de corromper governantes, lavar dinheiro, sonegar impostos e violar direitos humanos e leis ambientais.
247 - Ex-juiz da Lava Jato, ex-ministro de Jair Bolsonaro e suposto símbolo de combate à corrupção, Sergio Moro está trabalhando para um bilionário de Israel investigado por suspeitas de corromper governantes, lavar dinheiro, sonegar impostos e violar direitos humanos e leis ambientais, de acordo com revelação do site Intercept Brasil.
Benjamin "Beny" Steinmetz, cliente de Moro, atua na área de mineração e já foi preso na Suíça e Israel e investigado pelo FBI.
O serviço de Moro, requisitado pelo próprio bilionário, consiste na elaboração de um parecer jurídico, que, segundo o Intercept, trata-se de "um diagnóstico sobre uma questão legal ou do direito, das provas existentes num caso e das leis sob as quais ele será avaliado". O parecer elaborado por Moro lhe renderá R$ 750 mil
.O ex-ministro ainda fará mais dois pareceres, mas os clientes estão sob sigilo.
Como ocorre nos crimes ambientais, a irresponsabilidade empresarial no assassinato de Beto Freitas prejudica o país inteiro, de acordo com o constitucionalista Lenio Streck e a advogada Camila Torres
Conjur - A vítima da "política de segurança" do Carrefour não é apenas João Alberto Silveira Freitas, 40, e sua família, mas toda a sociedade brasileira. Como ocorre nos crimes ambientais, a irresponsabilidade empresarial prejudica o país inteiro. Esse é o raciocínio do constitucionalista Lenio Streck e da advogada Camila Torres.
Lenio acrescenta: "Há casos de lesões e atos criminosos que transcendem aos valores individuais e às vítimas diretas. Porque ferem a consciência moral de uma coletividade e, no caso, todo um país. Nesse caso é razoável que se aplique a noção de dano moral coletivo. Mesmo que não haja precedente similar, o caso concreto demanda profunda reflexão e, por que não, uma nova forma de enxergar esse tipo de lesão, pelo seu caráter transcendente".
O fato de não haver precedentes nessa matéria, infere Lenio, antes de impedir, justifica — ante a gravidade do fato — a inauguração de uma nova cadeia decisória. "Se o crime traumatizou o país todo, não há que se falar em dano individual", conclui o professor de Direito Constitucional.
O crime hediondo deixou para trás o noticiário eleitoral e a epidemia da Covid-19. O Brasil parece ter-se olhado no espelho e não gostou do que viu.
Juridicamente, a discussão é sobre a responsabilização. O advogado Luís Henrique Machado explica que existem dois tipos de responsabilidade que devem ser atribuídas nessa tragédia: a penal e a cível. "Quanto à primeira, tanto o policial como o próprio segurança da loja responderão individualmente, na medida da sua culpabilidade. Em relação à segunda, o próprio estabelecimento poderá responder civilmente, a título de danos morais, tendo em vista que o segurança do estabelecimento teria gerado o fato causador da morte."
A Polícia Civil gaúcha autuou em flagrante por homicídio triplamente qualificado os dois seguranças que agrediram João até a morte.
Em nota, a Brigada Militar se manifestou e informou que prendeu todos os envolvidos. Também afirmou que o policial temporário Giovane Gaspar da Silva, um dos agressores de João, não estava em serviço. No texto, a instituição também "reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais, e seu total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo".
O outro homem envolvido nas agressões é o vigilante Magno Braz Borges. Em nota, a Polícia Federal anunciou que suspenderá a carteira nacional de vigilante de Magno.
Responsabilidade civil
Apesar de não haver jurisprudência consolidada no STJ, a Justiça em muitos casos tem decidido que supermercados são responsáveis por ato ilegal cometido por terceiros. Em 2018, por exemplo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul confirmou condenação de um estabelecimento onde um comprador foi agredido por outro no estacionamento.
Em artigo publicado na ConJur, os advogados Gustavo Diaz Rosa e Cláudia Fernandes Santos explicam que empresas devem sofrer as consequências jurídicas de ato ilícito praticado em suas dependências.
"Evidente está que a empresa deve prever que suas atividades cotidianas podem ocasionar atos ilícitos, descartando-se assim alegações de força maior ou caso fortuito", diz trecho do artigo.
Os especialistas também comentam que no caso do terceiro envolvido no crime ser funcionário da empresa "haverá um verdadeiro litisconsórcio passivo entre o agente causador do dano direto e a empresa responsável pela vigilância e segurança dos clientes que se encontram em suas dependências".
Os agressores de João trabalham para Vector Segurança Patrimonial, que presta serviço ao Carrefour. O fato de o autor do ato ilícito ser um funcionário terceirizado não exime a rede de supermercados de culpa.
Esse foi o entendimento da 3ª Turma do STJ, que decidiu que empresa que terceiriza serviço também responde por dano causado por funcionário da prestadora de serviço.
Repercussão
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) apresentou uma denúncia contra o Carrefour no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH). O parlamentar também apresentou voto de repúdio e lamentou o episódio em nota.
"Não é por acaso que, no Dia da Consciência Negra, o Brasil se choque com o assassinato brutal de uma pessoa negra, realidade cruel que reflete uma sociedade racista e um Estado que, omisso, estimula a barbárie. Nossa solidariedade à família da vítima. E condenação efetiva para os criminosos", afirmou.
A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial — grupo composto por representantes da sociedade civil, do ambiente empresarial e do poder público — também divulgou nota sobre o episódio e informou que o Carrefour está excluído por tempo indeterminado das atividades da entidade.
"Repudiamos com todas as nossas forças o assassinato do cidadão negro João Alberto Silveira Freitas. É criminoso um ambiente empresarial em que um cidadão entre para fazer uma compra e saia morto. E é conivente todos aqueles que se omitiram e não tomaram as medidas para que essa morte fosse evitada. Inclusive os que se calam", afirmou Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial.
Em nota técnica, o Grupo de Trabalho Políticas Etnorraciais da Defensoria Pública da União também se manifestou sobre o caso. Os defensores cobram "a apuração dos fatos pelas autoridades competentes e a imediata responsabilização dos agressores".
A loja do Carrefour onde o crime aconteceu foi fechada temporariamente. O comércio fica no bairro Passo D'Areia, na região norte de Porto Alegre. O Movimento Negro Unificado e outras 33 entidades farão um ato em frente à unidade.
Também foram convocados protestos em outras unidades da rede em São Paulo, Osasco, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
"Como é que, em pleno século 21, ainda escutamos tais discursos", questionou uma diplomata europeia que participou da cúpula do G20.
247 - Constrangimento, choque e indignação eram os sentimentos entre algumas delegações estrangeiras da ONU, após o discurso de Jair Bolsonaro na abertura da cúpula do G20, neste sábado (21), em que reclamou dos protestos contra o racismo no Brasil.
De acordo com reportagem de Jamil Chade, do UOL, uma parcela das delegações não entendeu imediatamente do que se tratava. Mas para quem acompanhava a situação do país, como uma negociadora de alto escalão de um país europeu a fala de Bolsonaro deixou ela e outros membros da delegação "em choque" ao ouvir a "tese de conspiração" sobre o racismo no Brasil. "Como é que, em pleno século 21, ainda escutamos tais discursos", questionou a diplomata, na condição de anonimato.
"Fontes ainda confirmaram que diplomatas estrangeiros trocaram mensagens comentando a atitude do brasileiro, enquanto outros, sem saber o motivo da declaração, buscavam entender do que Bolsonaro falava", contou Chade, destacand que uma delegação de uma das agências da ONU, a reação foi de indignação, chamando a atenção pelo fato de Bolsonaro não ter feito nenhuma referência sobre a vítima e nem sobre a necessidade de uma resposta que leve em consideração a Justiça.
Angolano avisou líder da igreja sobre crise na África e a
‘bola de neve’que poderá arruinar domínio de Macedo sobre templos no Brasil e o
mundo.
A REVOLTA DE BISPOS E PASTORES da Igreja Universal em Angola, que levou ao rompimento dos religiosos locais com Edir Macedo e sua cúpula, está no começo – e pode se estender para outros países, inclusive para o Brasil. Essa é a avaliação do bispo Felner Batalha, um dos líderes da insurgência angolana e um dos primeiros a desafiar o império religioso na África.
“Pode registrar a data e hora. O senhor vai assistir [a repetição desses fatos] em todos os países em que existe a Igreja Universal do Reino de Deus. Todos”, ele me disse, no final de setembro.
Batalha foi o primeiro bispo nomeado e um dos fundadores da Universal em Angola, há 29 anos. Também foi o primeiro a avisar o líder supremo da igreja sobre os problemas no país africano. No dia 12 de março de 2018, ele enviou uma carta a Edir Macedo, por e-mail, alertando-o sobre os problemas da Igreja Universal em Angola e sobre a possibilidade de uma cisão. Avisou ainda que essa ruptura poderia ter um efeito “bola de neve” e espalhar-se por todo o mundo.
Jamais recebeu qualquer resposta. Em vez disso, acabou punido e afastado do cargo a que havia acabado de ser indicado, na catedral da Universal do Rio de Janeiro. Daí em diante, seguiu apenas como membro da igreja, até ser alçado como uma dos líderes da chamada “reforma” angolana. O movimento de contestação dos bispos e pastores da Universal em Angola, iniciado com a divulgação de um manifesto, no final de 2019, explodiu com graves denúncias de abuso de autoridade, racismo, evasão de divisas, expatriação ilícita e lavagem de dinheiro.
Em junho deste ano, mais de 300 bispos e pastores – de um total de 455 – tomaram o controle de 85% dos 339 templos e locais de culto da igreja em Angola. Brasileiros em postos de comando foram afastados. E não foi por falta de aviso. Na carta que enviou a Edir Macedo há dois anos, o bispo elencou, um a um, os problemas do império religioso no país. Publicamos, a seguir, o texto da carta na íntegra, com todas as denúncias contra a igreja explicadas. A grafia do português angolano, mais parecido com o idioma falado em Portugal que no Brasil, foi mantida.
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) A/C do Digníssimo Líder Espiritual Senhor Bispo Edir Macedo Bezerra
São Paulo, Brasil
Luanda, aos 12 de Março de 2018
Assunto: Petição de Consideração
Digníssimo senhor Bispo Macedo, Os meus respeitosos cumprimentos.
Escrevo-lhe, de forma simples e sincera, para apresentar alguns pontos relacionados à realidade da Igreja Universal, mais especificamente em Angola, estando pouco acanhado de como poderá ser recebida esta missiva, mas confiando no seu carácter dotado de sapiência e discernimento espiritual, confirmado por Deus para esse tão grande Ministério. Encontro nesta via a forma mais oportuna de expressar a verdade que penso, e peço a sua paciência na leitura atenciosa das alíneas deste texto, escritas por um servo que é a Universal há …. anos, e que almeja que almas continuem a ser ganhas.
Instaurou-se um clima de medo e de insegurança na Igreja, medo de se expressar o que realmente se pensa ou se vive na Instituição, e por conta disso, muitos que estão dentro e até em determinadas altas posições hierárquicas fazem do Alfredo Paulo seu “porta-voz”, de outro modo, não se compreende como assuntos internos e às vezes confidenciais chegam até ele com uma velocidade de cruzeiro. Repito, este clima de medo e de insegurança abriu portas para a bajulação e a hipocrisia, ou seja, diante do Sr. Bispo Macedo, a expressão “Sim senhor” impera na boca de todos, mas nas suas costas murmúrios e reclamações, e poderá haver porquês para este crescente comportamento dos bispos e pastores e suas respectivas esposas. Poderá ser a falta de um ambiente aonde se possa falar livremente sem sofrer represálias ou outras razões que discorro neste texto.
Embora a Igreja Universal no país seja uma entidade 100% angolana – e registrada oficialmente em nome de religiosos nativos –, o controle sempre foi exercido pela representação brasileira. Na carta, Batalha questionou a razão de religiosos nativos não serem considerados aptos para liderar Angola. Também reclamou pelo fato de apenas pastores brasileiros ocuparem os cargos estratégicos na igreja e perguntou a razão de os bispos locais não terem acesso aos relatórios financeiros para a prestação de contas de igreja.
Batalha também contou que havia um clima de medo e insegurança na igreja. Por conta disso, afirmou, muitos religiosos – mesmo aqueles em altas posições hierárquicas –, teriam passado a utilizar um dissidente da igreja, o brasileiro Alfredo Paulo, ex-bispo da Universal, como porta-voz. Segundo ele, o clima de medo e insegurança “abriu portas para a bajulação e a hipocrisia.
A partir deste ponto vou me focar apenas na Igreja em Angola, até porque foi esta a minha motivação de lhe escrever, e vou fazê-lo não em nome dos bispos, pastores, obreiros e membros, mas sim em meu próprio nome, apesar de refletir o pensamento da maioria deles.
No dia em que Batalha enviou o texto ao seu líder, fazia um mês que o site oficial da Igreja Universal havia publicado um vídeo do ex-bispo brasileiro João Leite, acompanhado de sua esposa, confessando o seu adultério. A igreja fez aquilo sem se dar conta de que Angola seria afetada pelo escândalo, criticou o bispo Batalha. Para ele, a Universal teria sido vista como uma instituição “não séria e imatura”, reclamou.
Hoje, 12 de Março, completa um mês que no site da Universal foi publicado o vídeo onde aparece o Bispo João Leite, acompanhado de sua esposa, a fazer a confissão de seu adultério. O bispo em causa era responsável da Igreja aqui em Angola, portanto, por dedução seria o lugar mais afetado com o escândalo. Aqui existem 13 (treze) bispos, mais de 600 pastores, quase 9.000 Obreiros e mais de 130.000 pessoas que frequentam a Igreja, mas ninguém, da direção da IURD em São Paulo-Brasil, nos informou absolutamente nada, fomos surpreendidos com o vídeo a rolar nas redes sociais.
Prezado Bispo Macedo, penso que seria mais coerente antes do senhor autorizar a publicação do vídeo consultar os bispos em Angola, que conhecem e vivem a realidade de um país tão atípico quanto este. A IURD em Angola foi exposta, humilhada e desmoralizada diante da sociedade e das autoridades angolanas. Estamos a ser vistos como uma instituição não séria, imatura e incapaz de resolver assuntos internos em fórum próprio. Os bispos e pastores de Angola não foram e nem são considerados pela direção geral da IURD, pelo menos é o que ficou explícito neste comportamento reiterado há muito, senão vejamos, aquando do incidente da Vigília do Estádio, em 2012, onde morreram dez pessoas, os bispos angolanos sugeriram que o Sr. Bispo Macedo endereçasse uma nota de condolências às famílias enlutadas, mas nós simplesmente fomos ignorados, talvez para o Brasil este acto é irrelevante, mas para Angola é muito relevante, e um mês após este incidente, quando as famílias ainda choravam os seus mortos e o Governo de Angola ponderava se devia ou não tomar uma atitude contra a IURD, o Sr. Douglas veio a Angola para lançar o livro “NADA A PERDER I” (e 150.0000 exemplares teriam que ser vendidos aqui, para bater a venda que havia sido feita no Brasil), e em virtude do clima de tensão contra a Igreja que se vivia em Angola devido às mortes do incidente da vigília, nós bispos em Angola sugerimos para não se lançar o livro, até pedimos ao Sr. Douglas que ligasse para o Sr. Bispo Macedo, mas infelizmente, e mais outra vez, fomos ignorados, e o resultado foi o histórico encerramento da Igreja por quase dois meses, período qual, milhares de almas se perderam sem possíveis resgates.
Batalha também questionou o fato de Edir Macedo não ter enviado condolências aos familiares de fiéis mortos em um acidente durante vigília em um estádio de futebol no país, em 2012, que havia reunido 150 mil pessoas. Trinta dias depois do acidente, o jornalista Douglas Tavolaro – então vice-presidente de Jornalismo da TV Record e atual presidente da CNN Brasil – visitou Angola para lançar Nada a Perder I, o primeiro volume da biografia oficial de Edir Macedo.
Na época, lembrou Batalha, os bispos angolanos recomendaram que o livro não fosse lançado – e chegaram a pedir que Tavolaro ligasse para Edir Macedo. A igreja foi fechada pelo governo em Angola por quase dois meses, enquanto era investigada a morte de fiéis durante o culto no estádio. Outras igrejas evangélicas brasileiras tiveram suas atividades suspensas no país na mesma época. O governo alegava a prática de “propaganda enganosa”, o aproveitamento de “fragilidades do povo angolano” e falta de reconhecimento do Estado.
No caso do vídeo da confissão do Bispo João Leite, a quantidade confirmada de almas escandalizadas cresce gritante e diariamente, sendo agora dos bispos de Angola o árduo trabalho de orientar muitos pastores e obreiros com vontade de abandonar a Obra e membros a abandonar à Igreja, que muito consideravam o Bispo Leite, então líder e embaixador da Universal em Angola ou se escandalizaram com a sua queda.
Trinta dias se passaram desde a publicação do vídeo e, com todo respeito que tenho pelo senhor, digo que temos sido almofadados (adormecidos) com o seu silêncio perante à Igreja (bispos e pastores). Estamos com uma nova liderança, na pessoa do Bispo Carlos, e até hoje ninguém nos disse nada sobre a nova liderança. Na vigência do Bispo João Leite o senhor fez duas vídeos-conferências, que seria a nossa sugestão, para pessoalmente o Bispo Macedo nos informar da situação do adultério do Bispo João Leite, onde penso que seria um momento de aplicar as boas práticas de gestão, que incluem a comunicação, a inclusão e o envolvimento da equipa – mesmo que seja esta de hierarquia inferior –, provendo assim a pluralidade de ideias, a iniciativa, a abertura, mais soluções, partilha e o aumento da confiança entre a equipa. Mais que isso, seriam aplicados os ensinamentos do nosso Mestre Jesus, sobre respeito, humildade, verdade, justiça e sã congregação.
Bispo Macedo, sugerimos que reveja como tem conduzido a Igreja fora do Brasil, sob pena de ser surpreendido com uma sisão (sic) e que pode ter efeito “bola-de-neve” por todo mundo, aqui já começa-se a questionar o seguinte: Porquê que nos lugares decisivos e estratégicos da Igreja só se colocam pastores ou esposas brasileiros? Porquê que nenhum dos bispos nativos tem acesso aos relatórios de contas da Igreja? Porquê que ainda se faz evasão de divisas (dólares americanos) para o exterior do país sendo que aqui a Igreja tem que recorrer a Banca para honrar os seus compromissos? Porquê que após 27 (vinte e sete) anos a IURD em Angola não tem discípulos nativos considerados capacitados para liderar o país? Porquê que as decisões que se tomam na instituição, nós não somos antes consultados e quando surgem problemas em razão disso, nós é que temos que responder diante as Autoridades governamentais? Porquê que se está a remover os pastores seniores do Condomínio que têm filhos, pastores estes que há mais de 15 anos labutam na obra de Deus e até ajudaram literalmente a construir o Condomínio?
Sr. Bispo Macedo, peço que a sua fonte de informação não seja apenas o líder do país, que crie outros mecanismos de comunicação. Talvez chegou aos ouvidos do senhor que os pastores angolanos não gostam ou não aceitam viajar para o exterior do país, não é verdade, porque depois do Brasil, Angola é o país que mais exporta pastores. Também dizem que os bispos e pastores angolanos querem tomar a Igreja, isso não é verdade, nós somos a maioria e estamos em casa e bastaria um pronunciamento nosso e o Governo e os membros nos dariam todo apoio. E porquê que isso nunca ocorreu? Porque primeiro: nunca houve essa intenção, apesar de não faltarem motivos e ser oportuno que se estabeleça em cada país líderes nativos, para que se antecipe a possíveis sisões (sic), pois como já referi anteriormente, se algo dessa natureza acontecesse em um dos países o efeito será “bola-de-neve” em todo mundo; Segundo: cremos na liderança do Sr. Bispo Macedo como ungido de Deus, mesmo vendo algumas atitudes que sabemos que não vem do Espírito Santo, e sabemos separar as coisas, pois o senhor tem as suas humanidades e isso nós compreendemos.
Almejando que o assunto em epígrafe, mereça o bom acolhimento do senhor Bispo, agradeço pela sua atenção e aguardo o seu pronunciamento como irmão em Cristo. Deus abençoe o senhor abundantemente em Nome do Senhor Jesus.
Cordialmente, Felner Batalha
‘Uma ditadura religiosa’
Dois anos depois, a previsão se cumpriu. A cisão de fato aconteceu em Angola e Batalha continua reafirmando o alerta a Macedo que a revolta de bispos e pastores se espalhará pelos templos da Universal em vários países e chegará ao Brasil “porque ninguém quer viver sob uma ditadura, subjugado e controlado”, disse, em entrevista ao Intercept, no dia 24 de setembro.
“Angola é o primeiro país. Vai acontecer em Portugal, na Espanha, Argentina, África do Sul, Moçambique, Estados Unidos. Vai acontecer em todos os países”, garante. Por que tanta certeza? O bispo angolano explica: “O nativo é oprimido. Ele não tem voz. E o ser humano, Deus o criou para ser livre”, afirmou. “Então, quando o indivíduo está na sua própria terra e é dominado por alguém, um estrangeiro, é só uma questão de tempo”.
Para Felner Batalha, não há dúvidas de que a Igreja Universal criou um regime ditatorial. “É uma ditadura religiosa. Ninguém quer viver debaixo de uma ditadura. Eu disse isso ao bispo Macedo. Isso me dá uma certeza de que o movimento de reforma vai acontecer em todos os países. Em todos os cantos onde o bispo Macedo tem autoridade plena, sente-se essa ditadura”, avalia.
Batalha me disse ter ouvido rumores de que um movimento semelhante estaria começando na África do Sul, e que os angolanos têm recebido apoio e manifestações de bispos e pastores da Universal em atividade no Brasil. “Temos recebido mensagens de solidariedade de pastores brasileiros da Universal aí do Brasil, que ligam e dizem que nos dão muita força e coragem porque querem que a reforma chegue no Brasil. Não assumiram que eles vão ser os promotores da reforma, mas estão desejosos que alguém tenha a coragem que os angolanos tiveram. E são muitos os que ligam. Pedem anonimato, mas são solidários”.
‘A Universal, para ele, tornou-se materialista. Na igreja, os fiéis estariam agindo como se fizessem uma permuta.’
O bispo também me disse que não tem informações concretas sobre movimentos do tipo – mas que, se eles acontecerem, virão sem sinais ou avisos antecipados de religiosos. “Quando o processo de reforma começou em Angola, nós tratamos com o maior sigilo possível, para que não houvesse fuga de informações e o processo, ainda embrionário, fosse neutralizado. Eu acredito que se está a acontecer em outros países, guarda-se a sete chaves esse tipo de informação”.
Batalha não soube dizer se líderes antigos da Universal – entre eles o bispo Romualdo Panceiro, o ex-número dois da instituição, que chegou a ser apontado por Edir Macedo como o seu sucessor mas acabou afastado e, recentemente, fundou a sua própria denominação, a Igreja das Nações do Reino de Deus, na capital paulista –, poderiam apoiar no Brasil um movimento semelhante ao ocorrido em Angola.
“Eu não sei a visão desses bispos que saíram da Universal. Porém, ex-bispos têm apoiado, dado apoio moral. Não seria muito correto dizer os nomes sem ter a permissão dos mesmos. Não tenho o aval. Mas, no Brasil, se existir um movimento de reforma, acredito que esses bispos que estiveram lá dentro e simpatizam com a Universal poderiam dar todo o apoio. Quem esteve na Universal, quem está, sabe das práticas internas”, diz o bispo.
Batalha garante que a “reforma” em Angola veio para melhorar a Igreja Universal, e não destruí-la. Seu movimento, afirma, pretende resgatar valores básicos do cristianismo. A Universal, para ele, tornou-se materialista. Na igreja, os fiéis estariam agindo como se fizessem uma permuta, critica. “As pessoas dão um dinheiro e a igreja dá uma benção. Mas isso não é o conceito, não é a essência do cristianismo. Não é isso o que a Bíblia apregoa”, observa. “Aqui em Angola, em particular, muitos dos nossos obreiros e membros já nos questionavam: ‘Pastor, sempre que vou à igreja recebo um envelope para colocar dinheiro. Eu quero orar pela família, quero fazer um propósito pela minha vida espiritual, quero uma benção no meu trabalho, mas sempre tenho de pôr dinheiro no envelope”.
Ex-Bispo Felner Batalha em coletiva, no dia 23 de agosto de 2020.
Foto: Reprodução/Youtube
Instituição globalizada, impositiva e autoritária
Para o cientista de religião Leonildo Silveira Campos, autor do livro “Teatro, Templo e Mercado: Organização e marketing de um empreendimento neopentecostal” (Editora Vozes), a Igreja Universal assumiu a posição de uma instituição globalizada – ao se espalhar por mais de 90 países –, e imaginou ser fácil controlar as igrejas locais onde se instalou. Mas enfrenta agora os mesmos problemas que as igrejas evangélicas brasileiras fundadas após a vinda de missões americanas viveram no Brasil, entre o final do século 19 e começo do século 20, especialmente a Presbiteriana. Na época, houve uma grande tensão no país entre os missionários americanos e os religiosos brasileiros.
A mesma situação se repetiu depois com missionários batistas e metodistas. Os metodistas conseguiram a nacionalização no Brasil. A Igreja Presbiteriana acabou se dividindo. “O que os angolanos vivem e experimentam hoje é uma coisa normal, quando uma missão é impositiva e muito autoritária, e não abre muito espaço para a contestação por parte do clero emergente, nacional”, avalia Campos, um ex-professor de programas de pós-graduação em Ciências da Religião das universidades Mackenzie e Metodista.
Ele diz ter dúvidas se o movimento de bispos e pastores angolanos se repetirá com a mesma intensidade em outras partes do mundo. Em sua avaliação, nem todos os países terão a mesma disposição para enfrentar grupos empresariais fortes como o liderado por Edir Macedo e a Igreja Universal do Reino de Deus. “Angola tem o apoio de um governo autoritário, que se dispõe a enfrentar a riqueza do bispo Edir Macedo. Em países onde há uma democratização maior, com a pluralidade do poder econômico e religioso, é mais difícil acontecer o que está ocorrendo em Angola”, avalia.
‘A gente acreditava que era uma instituição pura, que fosse um trabalho sério, honesto. Mas, o dinheiro começou a entrar’.
Campos acredita, entretanto, no surgimento de dissidências em várias regiões do mundo. “Líderes podem conseguir rachar a instituição. Pode haver uma igreja ligada à uma confederação mundial da Universal do Reino de Deus seguindo uma outra denominação à parte, nacionalizada”. Para o estudioso, isso dependerá também da disputa interna para a sucessão de Edir Macedo. Em sua avaliação, dificilmente a igreja escapará de uma cisão no Brasil devido à resistência dos bispos mais antigos à ascensão do genro de Macedo, Renato Cardoso, escolhido como o sucessor no comando da instituição. “Como existe desconfiança, há um terreno fértil para uma divisão significativa”.
Com a experiência de quem atuou por 36 anos na Igreja Universal, o ex-pastor da instituição Davi Vieira também acredita que a revolta iniciada em Angola irá se espalhar. “Mas vai depender de as pessoas terem o conhecimento da verdade. Elas precisam buscar as informações”, ressalva. “As pessoas hoje estão tendo acesso a informações que antigamente não tinham. Sobre a vasectomia forçada, a questão da evasão de divisas, as humilhações, o racismo em Angola, por exemplo. As informações estão aí. A internet é uma ferramenta para levar as pessoas ao conhecimento. Por isso, tudo isso estourou em Angola”, acredita. “O Macedo morrendo hoje, eu não sei o que vai acontecer. Nessa hipótese, vai ter um monte de Universal diferente aí: Universal Renovada e Universal não sei o quê”, prevê.
Vieira foi pastor durante cinco anos. Saiu da igreja em 2008. Hoje, mantém um canal no You Tube – com 35 mil seguidores –, no qual faz críticas à Universal. Paralelamente, trabalha como vendedor de óculos num shopping no Rio de Janeiro. Diz ter orgulho por ajudar as pessoas a enxergarem a realidade. “Quando cheguei à igreja, com minha família, a gente acreditava que era uma instituição pura, que fosse um trabalho sério, honesto. Mas, o dinheiro começou a entrar e começou-se a mudar a cabeça, a perder os valores”, critica.
O ex-pastor acha importante o movimento em Angola que tem o bispo Felner Batalha como um dos líderes. Mas não o considera suficiente. “Não adianta acontecer uma reforma se continuarem os mesmos procedimentos. Se a instituição não mudar radicalmente sua forma de trabalho, não adianta. Eles possuem um método agressivo de arrecadação, de obrigação, de imposição religiosa. Tem de mudar totalmente a filosofia da instituição. Não adianta tirar o Macedo e colocar outro igual a ele”, adverte. “Vou aguardar, pois só tempo irá dizer”.
A Igreja Universal foi questionada sobre as acusações. Até o momento, não enviou resposta.