Veja quem são os vereadores de SP que assinaram pedido de CPI contra ONGs e padre Júlio Lancellotti na Câmara; PSDB lidera lista
Vereadores de São Paulo que assinaram o pedido de CPI contra o padre Júlio Lancelotti e as ONGs que atuam no Centro de SP. — Foto: Montagem/Rede Câmara
Proposta foi protocolada no dia 6 de dezembro de 2023 pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil). Oposição nega ter acordo para que investigação seja aprovada e vê 'perseguição injustificada para atrair voto.
No dia 6 de dezembro de 2023, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) protocolou um pedido de CPI para investigar ONGs e entidades que fazem trabalho social com pessoas carentes e dependentes químicos na Cracolândia.
A proposta tem como foco principal o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Igreja Católica em São Paulo.
(Correção: O g1errou ao informar que o vereador Danilo do Posto de Saúde (Podemos) assinou o pedido de CPI. Na verdade, a assinatura é do vereador Atílio Francisco (Republicanos). A informação foi corrigida às 19h58)
Por causa do documento, a Arquidiocese de SP – órgão máximo da Igreja Católica Romana no Estado – emitiu uma nota de repúdio se dizendo perplexa com os vereadores de São Paulo pelo pedido de investigação contra um membro da igreja que dedica à vida em fazer caridade e apoiar as pessoas pobres.
O g1 teve acesso ao pedido de CPI protocolado na Câmara Municipal de São Paulo e traz em primeira mão a lista dos vereadores que assinaram o pedido de CPI.
No total, foram 24 assinaturas no documento registrados no site da Câmara Municipal. Mas a reportagem identificou que o nome do vereador Xexéu Tripoli (PSDB) aparece duas vezes no documento.
Desistência do apoio
Em contato com o g1, Xexéu Tripoli disse que vai retirar o apoio dele do documento. Segundo o parlamentar, ele não tinha conhecimento que se tratava de um CPI para investigar o padre Júlio Lancellotti.
"No início, o proponente alegou que se trava de um CPI para investigar ONGs que atuavam irregularmente no Centro de SP. Nunca foi dito o nome do padre Júlio, que é uma pessoa idónea que tem um trabalho que eu admiro e apoio. Há um equívoco e anuncio publicamente a retirada do meu apoio a essa propositura", disse o vereador.
Os vereadores Thammy Miranda (PL) e Xexéu Tripoli (PSDB): enganados pelo propositor da CPI. — Foto: Rede Câmara
O vereador Thammy Miranda (PL) também se disse "indignado" com o que ele chama de “desvirtuamento político” do documento que Rubinho Nunes (União Brasil) pediu para que os colegas parlamentares assinassem.
“Nós fomos enganados e apunhalados pelas costas. O documento de CPI nunca citou o padre Julio e usou de uma situação séria para angariar apoio. 90% dos vereadores que assinaram esse pedido não sabiam desse direcionamento político desse vereador [Rubinho]. Eu estou do mesmo lado do padre Julio, de cuidar das pessoas. Lamento essa politização que o vereador fez do assunto e já pedi para minha assessoria jurídica acionar a casa e retirar meu apoio desse projeto”, afirmou.
Além deles dois, outros cinco parlamentares - Sidney Cruz (Solidariedade), Milton Ferreira (Podemos), João Jorge (PSDB), Beto do Social (PSDB), Dr. Nunes Peixeiro (MDB) e Sandra Tadeu (União Brasil) - também disseram que não apoiam qualquer investigação contra o pároco que atua na região central de SP (leia mais aqui).
Requerimento de CPI assinado por 25 vereadores da cidade de São Paulo e protocolado por Rubinho Nunes (União Brasil). — Foto: Reprodução
Outras três assinaturas não estão legíveis e a reportagem pediu à Câmara Municipal a lista completa dos apoiadores da investigação, mas não recebeu retorno até a última atualização.
No total, ao menos 22 vereadores que assinaram o pedido foram identificados pela reportagem. O PSDB foi o partido que mais teve assinaturas no documento, com ao menos seis vereadores apoiando a CPI, seguido pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos e o União Brasil, com três assinaturas cada uma.
Na oposição, os partidos negam acordo entre as bancadas para que a CPI seja instalada na casa. No PT, principal bancada de oposição ao governo Ricardo Nunes (MDB) na Casa, os vereadores dizem que Rubinho Nunes está perseguindo o padre injustificadamente, em busca de votos da extrema direita na eleição de outubro (leia aqui).
Veja abaixo a lista dos vereadores que assinaram o pedido de CPI:
- Rubinho Nunes (União Brasil)
- Adilson Amadeu (União Brasil)
- Sandra Tadeu (União Brasil) - retirou apoio
- Thammy Miranda (PL) - retirou apoio
- Fernando Holiday (PL)
- Isac Felix (PL)
- Xexéu Tripoli (PSDB) - retirou apoio
- Fábio Riva (PSDB)
- João Jorge (PSDB) - retirou apoio
- Gilson Barreto (PSDB)
- Beto do Social (PSDB) - retirou apoio
- Rute Costa (PSDB)
- Bombeiro Major Palumbo (Progressistas)
- Sidney Cruz (Solidariedade) - retirou apoio
- Rodrigo Goulart (PSD)
- Atílio Francisco (Republicanos)
- Jorge Wilson Filho (Republicanos)
- Sansão Pereira (Republicanos)
- Dr. Nunes Peixeiro (MDB) - retirou apoio
- Marlon Luz (MDB)
- Dr. Milton Ferreira (Podemos) - retirou apoio
- Rodrigo Goulart (PSD)
- Não identificado
- Não identificado
- Não identificado
Repúdio da Arquidiocese de SP
A Arquidiocese de São Paulo divulgou nesta quinta-feira (4) uma nota de repúdio contra a proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos vereadores de São Paulo para investigar ONGs que fazem trabalho social na região da Cracolândia, especialmente o Padre Júlio Lancellotti.
O que diz autor do pedido de CPI
O vereador Rubinho Nunes negou que tenha objetivos eleitorais com a proposta e tergiversou quando questionado sobre a conquista dos 28 votos necessários em plenário para a instalação da comissão.
“Não posso abrir a tratativa interna, fica complicado. Eu apresentei o protocolo com 25 assinaturas. Precisa de 28 para abrir a CPI. Já conversei na Casa e levantei mais de 30 apoiamentos. Com o final das CPIs em dezembro [de 2023], a expectativa é que, voltando em fevereiro, sejam abertas novas CPIs. E essa CPI é uma das que entra na lista de preferências. (...) Até fevereiro, tudo pode mudar. Mas hoje eu tenho 30 votos necessários para aprovar a criação da medida”, disse.
“O objetivo da CPI vai além das demandas eleitorais. Existem indícios sérios contra diversas ONGs. E isso é de interesse público e da Câmara de SP”, declarou.
O vereador Rubinho Nunes (União Brasil), ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). — Foto: André Bueno/Rede Câmara
Questionado sobre o motivo de investigar o padre Júlio, que não faz parte do quadro societário e decisório de nenhuma ONG, Rubinho negou que esteja perseguindo o padre ou a Igreja Católica.
“O padre Júlio não é uma igreja. É uma pessoa que explora a miséria no Centro de SP. Inclusive ele não é uma unanimidade dentro da Igreja Católica. É uma figura controversa. Ele atua diretamente ligado a essas ONGs. Mas só que, assim como alguns picaretas à moda antiga, que se baseiam em laranjas e empresas de fachada, ele se vale de pessoas que tocam as ONGs”, declarou.
O que diz padre Júlio Lancellotti
Confira a íntegra da nota do padre:
"A instalação da CPIs é uma prerrogativa do poder Legislativo, sendo legítimas em suas atribuições. As CPIs devem ter um objetivo delimitado em sua criação, sendo que neste caso, pelo que se tem notícias, o abjeto que trouxe base para criação desta CPI seria a investigação/fiscalização das "Organizações Não Governamentais ONGS) que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a Cracolândia". Ou seja, seria a fiscalização do cumprimento de convênios estabelecidos entre o Poder Público e as organizações conveniadas.
Esclareço que não pertenço a nenhuma Organização da Sociedade Civil ou Organização Não Governamental que utilize de convênio com o Poder Público Municipal. A atividade da Pastoral de Rua é uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma às atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão."
A Arquidiocese de São Paulo , também em nota, informou que acompanha "com perplexidade as recentes notícias veiculadas pela imprensa sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que coloca em dúvida a conduta do Padre Júlio Lancellotti no serviço pastoral à população em situação de rua".
E complementou: "Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade. Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade".
O que diz a Craco Resiste
Por meio de nota, o movimento A Craco Resiste salientou que “não é uma ONG”, mas “um projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia”.
“Atuamos na frente da redução de danos, com os vínculos criados com as atividades culturais e de lazer. E denunciamos a política de truculência e insegurança promovida pela prefeitura e pelo governo do estado. Quem tenta lucrar com a miséria são esses homens brancos cheios de frases de efeito vazias que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais. Não é o primeiro e sabemos que não será o último ataque desonesto contra A Craco Resiste”, disse a entidade.
“Inspiramos nossa coragem no fluxo - essas pessoas que sobreviveram ao sufocamento das prisões, à fome, ao racismo e à violência policial. Respeitamos a sabedoria das e a arte das calçadas. Escutamos com atenção as rimas de esquina, os sambas de cachimbo e as ladainhas de palavras certeiras. A multidão negra existe e vive apesar do Estado genocida impulsionado pelo ódio branco. Não dependem de caridade ou projetos sociais. São a própria potência de vida de pé contra os projetos de morte”, completou a entidade.
- Veja também: Padre Julio Lancelotti fala sobre situações desafiadoras que enfrenta nas ruas
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