Repúdio tardio

Para o deputado federal Carlos Sampaio, do PSDB paulista, a ficha parece ter caído aos poucos. Na manhã do dia 9, ele escreveu no Twitter que entendia e compartilhava a “indignação de milhões de brasileiros que consideram a eleição de Lula como um retrocesso absoluto”. Somente quatro horas depois, por volta do meio-dia, ele voltou ao Twitter para se contrapor ao absurdo dos acontecimentos de forma mais enfática e escreveu que “violência e depredação de patrimônio público não são aceitáveis”.

Já o deputado Joaquim Passarinho, do PL do Pará, aparentemente demorou para entender o que claramente estava acontecendo – atos terroristas contra um governo eleito democraticamente. Pouco antes da invasão começar, ele tuitou que “o povo na rua é democracia em essência”. Somente perto das 17h, o deputado repudiou a “invasão de prédios públicos e depredação”, lamentando que os golpistas estivessem “produzindo provas contra eles mesmos”.

O Coronel Chrisóstomo e o Gerenal Girão, respectivamente do PL de Rondônia e do Rio Grande do Norte, só fizeram um pronunciamento enfático contra o terrorismo após a reportagem do Intercept, que apontou os 46 deputados federais que apoiaram ou minimizaram os atos golpistas. Os nomes deles constam no levantamento.

O coronel postou um vídeo cerca de três horas depois que a reportagem foi publicada, dizendo que não apoia nem concorda com vandalismo. Até então, ele tinha apenas comparado os atos terroristas com manifestações da esquerda e dito: “a direita do Brasil sempre terá meu apoio total. Contem comigo”.

General Girão defendeu ‘aplicação rígida da lei’ contra vândalos, mas só depois de criticar a existência de medidas de segurança no dia 8.

Na tarde do dia 8, pouco antes de ter início a depredação, o General Girão não parecia tão contrário às manifestações golpistas, pois criticou as medidas de segurança que eram adotadas naquela ocasião e escreveu no Twitter que estavam “transformando a proximidade da Praça dos Três Poderes/Brasília numa fortaleza medieval. E tudo porque precisam afastar o povo, o verdadeiro soberano do Brasil”. As imagens que todos acompanharam mostram que a segurança, na verdade, foi insuficiente.

Após a publicação da reportagem do Intercept, o discurso do general mudou e ele até defendeu a “aplicação rígida da lei contra quem vandalizou e depredou os Três Poderes”, mas continuou passando pano para quem estava “há 70 dias acampadas pacificamente nos quartéis” – outro ato golpista.

O levantamento do Intercept ainda mobilizou seis parlamentares citados a se manifestarem publicamente. A deputada Bia Kicis, do PL do Distrito Federal, o Coronel Meira, do PL de Pernambuco, e o Tenente Coronel Zucco, do Republicanos do Rio Grande do Sul, repudiaram a inclusão de seus nomes entre os defensores ou simpatizantes disfarçados e alegaram que nunca defenderam depredação e atos de vandalismo. A classificação, porém, foi feita com base em manifestações públicas dos próprios parlamentares.

Todos os citados da reportagem defenderam, incentivaram ou ao menos tentaram justificar de alguma forma os atos terroristas – com ou sem violência e depredação, ainda se tratava de uma manifestação antidemocrática, pois pretendia invalidar uma eleição legítima.

Fonte

Nayara Felizardonayara.felizardo@​theintercept.com@nayarafelizardo
https://theintercept.com/