Diante da lente, uma mulher hopi envolve o filho nas costas, enquanto sua filha — de penteado elaborado — repousa ao lado.
Mas o que parece simples, é tudo menos isso.
O penteado da jovem, com laterais esculpidas em espiral, não era adorno estético.
Era uma linguagem visual ancestral: dizia que ela era solteira e em idade de se casar.
Cada traço do cabelo, cada dobra da roupa, cada gesto contava algo.
Falava de pertencimento. De um mundo onde o corpo também é voz.
A mulher, envolta em um manto tradicional, ergue o olhar direto à câmera.
Não sorri. Não se curva.
Seu olhar é sereno e desafiador.
Ali está a firmeza de quem carrega nas costas não apenas um filho, mas a continuidade de um povo.
Uma dignidade que sobreviveu à colonização, ao apagamento e à imposição cultural.
Em tempos de assimilação forçada e perda identitária, essa fotografia ergue-se como um grito quieto:
“Ainda estamos aqui.”
Os hopi — cujo nome significa “o povo da paz” — habitaram o altiplano do Arizona durante séculos.
Criaram uma cosmologia profunda, enraizada na harmonia com a natureza e na espiritualidade do cotidiano.
E mesmo quando o mundo tentou silenciá-los, eles resistiram com o que tinham: sabedoria, silêncio e raízes.
Hoje, ao olharmos para esta imagem, somos convocados a enxergar além do preto e branco.
A ver a cor da história.
A escutar as vozes que nunca deixaram de falar — mas que, por muito tempo, ninguém quis ouvir.
Preservar culturas indígenas não é olhar para trás.
É reconhecer que nelas vivem respostas para o presente.
E sementes de futuro.
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