Prevenção da homofobia

PREVENÇÃO DA HOMOFOBIA

Arnaldo Domínguez

A "Homofobia" é uma doença que, na minha experiência profissional de abordagem psicossomática, tem cura.
Trata-se de um quadro neurótico caracterizado por um sintoma fundamental: o medo da homossexualidade. ( Seu oposto complementar chama-se "heterofobia", cuja terapêutica é semelhante, embora a sintomologia seja menos ostensiva).
O medo é um dos componentes principais da histeria, utilizado pelo aparelho psíquico do neurótico, como defesa a uma ameaça terrível que o cerca: a possibilidade do gozo máximo. Um gozo que se acontecesse o faria enlouquecer, dissolver-se ou desaparecer. Algo assim como a eliminação total das tensões, o incesto ou a morte.
Tanto faz se esse gozo for imaginado como o "prazer total", a agonia da dor dísica ou psíquica ou a própria morte. De todas as maneiras, este temor é infundado, pois tal possibilidade de gozo não existe.
Claro que o homofóbico projeta fundamentalmente este desejo recalcado de homoerotismo (relação sexual ou afetiva com outro indivíduo do mesmo sexo biológico), sobre a "figura social do homossexual", atacando-o de diversos modos, conforme sua necessidade de defesa e sua participação no sistema.
No extremo perverso, assassinando ou exterminando os gays, ou no bordelina com a perversão, já socializado, ironizando as paixões homófilas, ridicularizando os estereótipos, perpetuando os estigmas, seja pejorativamente mediante agressões verbais ou cientificamente proclamando o conceito do desvio sexual, como sendo um aspecto inerente da conduta de "todos" os indivíduos homoeroticamente orientados, denominados genericamente de homossexuais.
Conforme Melanie Klein, na fase esquizo-paranóide, combatendo para o lado de fora todo o "mal" que existe dentro e posteriormente na fase depressiva, percebendo a ambiguidade maniqueísta, tentando reparar o mal causado.
Conforme Reich, o desejo orgástico não pode ser sublimado, por isso a necessidade de defesas tão rígidas (couraças) para recalcá-lo.
Segundo Lacan não existe a relação sexual. Existe só a erotização fálica e a impossibilidade do Gozo, sendo o gozo o do Outro. Também disse que o caminho da "cura" é através da "feminilidade" tanto para os homens, como para as mulheres. Logo, na homofobia também há um elementoobsessivo, com idéias neuróticas que não aparecem como homoeróticas, evidentemente.
A homofobia é uma neurose complexa, que tanto acomete o heterossexual como o indivíduo "samesex oriented". E quando o componente obsessivo aparece predominante coloca o homofóbico em posição de "socialmente perigoso", pois desde esta arquibancada, seja política, jurídica, científica etc, emitiráconceituações moralistas e defensivas, com o objetivo fundamental de se proteger da ameaça do seu desejo recalcado, bloqueando a evolução da história humana, provocando séculos de inércia e sofrimento para os que estão elaborando uma "escolha".
E como toda nossa história sexual é filha do pecado, do delito e da doença, contará com o apoio do super-ego de todo o coletivo capitalista deste sistema social. (Todo brasileiro ou habitante deste país sabe muito bem de que estou falando, após o caos que os políticos fálicos-narcisitas provocaram na população, nas tentativas compulsivas de gozar).
Porém, devo esclarecer melhor o item em que expresso que o homofóbico tanto pode ser homo como heterossexual. Num primeiro momento, pode parecer contraditório afirmara que um indivíduo orientando sexualmente por outro de seu mesmo sexo biológico possa sofrer de homofobia, mas não é. Os homossexuais também heterossexista e homofóbica e internalizam estes valores mediante a repetição de tantas sanções de reprovação que os agentes e agências da sociedade se ocupam de lhes inculcar desde o nascimento.
Tendo que submeter-se, invariavelmente (conforme tantos relatos ouvidos), a inúmeras culpas e conflitos de inadequação, e, dificilmente antes dos trinta anos e sem ajuda terapêutica, conseguem resolver. E memso assim, nunca na totalidade. Por outro lado, como entendo que a heterossexualidade exclusiva também é uma neurose, merece, sem dúvida, ajuda terapêutica. E se vier acompanhada de homofobia, com mais razão.
O problema atual é alta incidência estatística de profissionais (médicos, psiquiatras, psicólogicos, etc...) que sofrem da doença homofóbica, muitos dos quais, sem assumí-la. Portanto, sem oportunidades de tratamento. Profissionais sem preconceitos são uma raridade ecológica. Proponho iniciarmos o debate, não para contra-atacar salomonicamente, mas para rediscutir a ética e a iatrogenia. E para alertar aos clientes, assim podem escolher melhor seus terapeutas, evitando o enrosco psico-social que ocasiona o recalcamento de ambos.
Trata-se, portanto, de uma questão de ética. E a vida é o valor ético fundamental.

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