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quarta-feira, 3 de junho de 2009

há uma santa com seu nome

HÁ UMA SANTA COM SEU NOME?

Carlos André F. Passarelli

Tento pensar aqui a identidade sexual. O que faz de alguém idêntico? Idêntico a quem ou a quê? Se transitamos no terreno da anatomia, as coisas parecem um pouco melhor definidas do que nas ditas ciências humanas. Homem tem pênis. Mulher não tem. Ou seja, pode-se falar de uma identidade sexual que se garante geneticamente, fenotipicamente caracterizada pela posse ou não de um orgão.
Porém, ao propor estas formulações nestes termos -- esta premissa genética -- percebo que meu discurso está impregnado de uma ética, a saber, aquela que elege o binômio ausência/presença do orgão masculino como definidor de uma identidade psíquica ou sexual. Se ética, tal definição é cultural, e o corpo de que falo é um corpo falado e falante , imerso em linguagem e não mas em líquido amniótico -- transcendemos a biologia. Ou seja, homem e mulher são construtores lingüísticos -- ora imaginários, ora simbólicos, nunca inscritos no real -- significantes que se colam e deslocam dos corpos desfigurados pela palavra.
Quase todo discurso da e obre a homossexualidade parece negligenciar estas metáforas e deslocamentos a que os papéis de gênero estão sujeitados, que nos desviam daquilo que queremos querer para aquilo que queremos ser, na tentativa de identificarmo-nos com o desejo do Outro. Procura-se desesperadamente definir e diferenciar este corpo homossexual, encontrar outros iguais e daí dizer: " isto é homossexual! ". Constrói-se um altar e coloca-se a estátua da Santa, nem homem, nem mulher, nem lá, nem cá, e sempre além ou aquém do prazer. " Viva a Múmia do Tyrol! " gritam os idênticos, " Nossa Senhora dos Gays, rogai por nós".
Estou dizendo que não existe identidade homossexual? Acho que estou, na mesma medida em que digo que não existe identidade sexual masculina ou feminina, enquanto rótulos capazes de definir uma forma de estar no mundo, comum a todos aqueles que se abrigam no conforto de suas identidades: são inumeráveis as maneiras de ser mulher, homem, criança, gay, lésbica, animal, planta e até mineral. E se a pergunta vinha: "eu sou neguinha?", ela vinha para todos, dado que Zeus, ao dividir-nos em duas metades, apontou-nos para o sempre e mesmo corte: o sexo. A terra prometida de desejo não é prioridade de nenhum povo eleito. É terra de ninguém.
No entanto, uma grande romaria de fiéis marcha, aos trancos e barrancos, para a Meca do prazer, e nesta peregrinação, cruzam com outros grupos que dizem que, eles sim é que estão se dirigindo para a verdadeira Meca, formando um alvoroço tamanho que ninguém encontra mais uma bússola que defina um Norte qualquer. O desejo desorientou-se, principalmente quando algumas pessoas começaram a aventar que talvez exista mais de uma cidade sagrada. Estava deflagrada a guerra santa, onde não se sabe bem ao certo qual o teritório que se pretende ocupar.
Enquanto isto, peregrinos errantes se apossam de terrenos provisórios. De um lado temos a supremacia da normalidade, invadindo nossas casas através da pequena tela onde se estampam beijos coloridos entre a mocinha fálica e o mocinho que parece egresso da capa de uma revista gay, a perseguição sexual das gatas e ratos dos enlatados norte-americanos, a estereotipia dos galãs viris e das divas dóceis, os longos passeios na orla da praia do jovem casal -- ele e ela -- de mãos dadas. Às vezes um desvio, para fazer rir ou chocar, mas logo voltar à conformidade da monogamia heterossexista.
E seguimos adiante, acreditando que nossas vidas não diferem muito daquelas que desfilam na nossa frente, depois que o Cid Moreira anunciou uma tragédia e, sorrindo, disse " boa noite ".
E nos outros territórios, estes que vemos nos programas sensacionalistas da madrugada e nas capas da imprensa marrom, lugares públicos que "não são de ver para crer -- estão na cara" -- lá circulam os zumbis dos parques proibidos, roçando seus corpos sem se tocar de verdade; pegando em paus que crescem em meio ao cheiro de urina dentro dos banheiros, também públicos; nas caixas escuras de sons ensurdecedores e anestésicos; nas clínicas -- estas clandestinas -- onde pênis se transformam em vaginas; nas ruas, onde aquela que você jura que é uma mulher mais perfeita que Eva exibe um grosso e enorme pau para um senhor idoso e bem casado, camuflado no seu grosso e enorme carro importado, provido da mais High Tec que um japonês pôde sonhar e realizar.
Aí estão eles: os pervertidos, devassos, sadomitas, pederastas, criminosos, doentes, bichas-loucas, desajustados, imorais, invertidos, sapatões, aberrações da natureza, estes que não gozam como a maioria, que usam ouros buracos. E, na urgência de se afirmar como alguma coisa, pois a sociedade sempre nos quer idênticos a algo, buscam um coro dos contrários, onde, em uníssono, podem gritar: "eu sou homossexual! ". Mesmo que à noite todos sonhem com a idéia de liberdade veiculada pelas imagens da telinha, entre a propaganda de cigarros ( " alguma coisa a gente tem em comum " ) e a novela das oito.
Nesta trama perversa, que prioriza um desejo em detrimento de tantos outros, não consigo perceber nenhuma outra identificação possível que não esta construção ideológica que vem a se chamar " identidade heterossexual ", sendo a " identidade homossexual " mais outra construção que só tem sentido ontológico quando se toma a primeira como referência: a luz e sua sombra.
Assim, penso que uma mesma orientação sexual não define uma identidade psíquica comum a um certo número de mortais desejantes, pois orientação sexual, isto é , o desejo, é uma questão clínica, ou seja, particular, que se resolve na cama ou no divã, conforme o gosto do freguês.
Agora, se se trata de reivindicar o direito que sempre foi negado a uma minoria (?) de realizar suas práticas (homo?) eróticas, aqui saímos da esfera da psicanálise, e passamos a questão política, que implica na necessidade de se organizar este grupo social, que não mais caracterizar-se-ia por uma igualdade na identidade psíquica ou sexual, mas cujos integrantes têm em comum o estigma da exclusão por parte de uma sociedade marcadamente heterossexista, homofóbica, intolerante em relação à diferença.
Este processo pede a desconstrução do altar -- o "desmonte" da Santa -- que permitiria o afloramento das diferenças e dos desejos em meio à procissão. Uma pluralidade de hinos, crenças e, por que não dizer, de novas e outras santas teria voz e vez e, numa festa alegre (gay), ocuparia os espaços da cidade (polis), revertendo a maldição do Deus único ("oniprepotente"), bem-dizendo o prazer.
E desculpem se abuso de Caetano Velloso, mas termino com palavras dele:
Minha identificação, registro geral, carece de revisão
Cara, careta, dedão, isso não é legal, em frase de transição
Sou celacanto do mar, adolescente solar
Não pensem que é um papo torto, é só um jeito de corpo
Não precisa ninguém me acompanhar.

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