Faleceu hoje, aos 92 anos, Maria Lírian Tabosa Machado, mais conhecida como Lírian Tabosa — uma das vozes mais marcantes da literatura e da militância cultural na Baixada Fluminense. Cearense de nascimento e iguaçuana por escolha, Lírian dedicou a vida à poesia, à justiça social e à construção de memória por meio da palavra.
Nascida em 1933, na cidade de Limoeiro do Norte (CE), Lírian mudou-se jovem para o Rio de Janeiro, estabelecendo-se em Nova Iguaçu, onde floresceu como poeta, educadora e ativista. Sua trajetória foi atravessada por momentos intensos: perseguição política durante a Ditadura Militar, exílio na Bolívia e retorno ao Brasil com renovado vigor para a luta cultural.
Durante o exílio, viveu de perto a ebulição revolucionária latino-americana, tendo, segundo relatos, encontros com figuras históricas como Che Guevara. Essa experiência moldou sua visão de mundo e aprofundou sua convicção na força transformadora da arte e da política.
De volta ao Brasil, Lírian transformou sua dor em palavras. Em 2014, lançou o livro “De lá pra cá – poemas e memórias”, uma obra que entrelaça lirismo, crítica social e lembranças afetivas. Também publicou dezenas de textos no portal Recanto das Letras, abordando temas como ditadura, infância, ancestralidade, amor e resistência feminina. Sua escrita era firme, sensível e visceral.
Além da produção literária, Lírian foi articuladora cultural e educadora popular. Organizou oficinas, coletivos, rodas de leitura e participou ativamente de eventos como o Baixada Literária e iniciativas da Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (Fenig). Inspirou jovens poetas, sobretudo mulheres, a reconhecerem sua própria voz como ferramenta de luta.
Em 2014, foi homenageada pela escola de samba Império de Cabuçu com o enredo “Lírian Tabosa: Luta, Poesia e Luz”, e também retratada pela série “Nossa Gente”, da Prefeitura de Nova Iguaçu. Participou de podcasts, programas de rádio e encontros que reforçavam seu compromisso com uma literatura viva e engajada.
“Escrever é minha forma de respirar. E enquanto houver fôlego, haverá luta”, dizia Lírian — e foi assim que viveu até seus últimos dias.
Sua partida deixa um imenso vazio, mas seu legado segue aceso na memória da Baixada Fluminense e de todos que encontraram em sua poesia uma forma de existir e resistir. Lírian Tabosa agora integra o panteão das grandes vozes brasileiras que não se calaram diante da injustiça — e que, mesmo ausentes, continuam a falar alto.
Fonte.https://portalc3.net/
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