Cecilia Meireles (1901-1964) - brilhante poeta, mulher extraordinária - como ela própria descreve
“Nasci três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família me deram, desde pequena, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.
Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas: silêncio e solidão. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.”
“Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas em seu rumo
HÁ UMA água clara que
cai sôbre pedras escuras e que,
só pelo som, deixa ver como é fria.
Há uma noite por onde
passam grandes estrêlas puras.
Há um pensamento
esperando que se forme uma alegria.
Há um gesto acorrentado
e uma voz sem coragem,
e um amor que não sabe
onde é que anda o seu dia.
E a água cai, refletindo
estrêlas, céu, folhagem...
Cai para sempre!
No misterio do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E no planeta um jardim
e no jardim um canteiro
no canteiro uma violeta
e sobre ela o dia inteiro
entre o planeta e o sem-fim
a
Comentários
Postar um comentário