Sorofobia: pessoas que vivem com HIV contam como enfrentam o preconceito e lutam para combater desinformação
Pessoas que vivem com HIV contam como enfrentam preconceito e lutam para combater desinformação — Foto: getty images
O Índice de Estigma, divulgado
pelo Unaids em 2019, indicou que 64% das pessoas vivendo com HIV ou Aids já
sofreram alguma forma de discriminação.
Por Thaís Espírito Santo, g1 Rio
20/10/2024 06h00 Atualizado há um dia
Pessoas que vivem com HIV contam
como enfrentam preconceito e lutam para combater desinformação — Foto: getty images
Pessoas que vivem com HIV contam
como enfrentam preconceito e lutam para combater desinformação — Foto: getty
images
“Leve esta garrafa de água
sanitária e, quando você sair do banheiro, desinfete todos os locais que você
utilizar.”
Foi isso que Vanessa Campos conta
que ouviu de uma enfermeira-chefe quando foi tomar banho na maternidade depois
do parto, em 2001. Na época, já tinha uma década que ela tinha sido infectada
pelo HIV.
Vanessa, hoje secretária nacional
de Comunicação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+
Brasil), considera que a sociedade ainda tem preconceito. A situação envolvendo
a infecção de transplantados no Rio reacendeu o debate sobre a sorofobia – o
preconceito contra pessoas que testaram positivo para o vírus da
imunodeficiência humana.
Vanessa foi diagnosticada em
1990, na adolescência. “Naquela época, ainda era uma sentença de morte”,
lembra.
“Estigma e discriminação
permanecem os mesmos desde o início da pandemia de Aids. O que mudou para
melhor foi a evolução do tratamento e o acesso a ele. O ativismo das pessoas
que vivem com HIV protagonizando a luta contra o estigma e a discriminação tem
dado bons frutos ao longo desses mais de 40 anos de epidemia”, continua ela.
Vanessa Campos — Foto: Arquivo pessoal
O episódio na maternidade,
infelizmente, não foi um caso isolado na trajetória dela. Anos antes, em 1993,
ela conta que um infectologista disse que era melhor ela fazer um aborto do que
engravidar. E situações como essa se repetiram e ainda se repetem. Não só com
Vanessa, mas com outras pessoas que vivem com o vírus.
Após 30 anos vivendo com o HIV,
Vanessa escreveu um livro sobre a sua trajetória. “SoroposidHIVa, uma mulher na
diáspora da Aids” foi lançado em março deste ano e pode ser lido gratuitamente
na internet nas redes do Soroposidhiva.
HIV x Aids
O caso de 6 pacientes infectados
com HIV em transplantes de órgãos no sistema público do RJ é investigado pela
polícia e outros órgãos. Quatro pessoas foram presas.
“Eu tenho certeza de que,
infelizmente, esses casos de infecções causadas nos transplantes vão trazer
mais à tona e aumentar o preconceito com pessoas que vivem com HIV, por conta
da desinformação”, afirma Walter Sabino, que é ativista e liderança jovem HIV/Aids
e interseccionalidade no Rio de Janeiro.
“A grande questão é que as
pessoas ainda têm um pavor quando escutam sobre infecção por HIV, ou somente
HIV. Grande parte da sociedade associa diretamente o diagnóstico de infecção de
HIV à Aids. Essa é uma questão importante. Ter um diagnóstico positivo para o
HIV não tem ligação de obrigatoriedade com desenvolver a síndrome”, explica o
carioca Ueverton Pessanha, que usa as redes sociais para falar sobre a
temática.
“Eu acredito que o pior
preconceito é aquele que vem de quem a gente espera que nos abrace , como a
nossa família e até mesmo de médicos e profissionais da saúde. Mas, às vezes, é
exatamente desses lugares que vem o preconceito”, emenda ele.
Sorofobia: pessoas que vivem com
HIV contam como enfrentam o preconceito e lutam para combater desinformação
Ueverton Pessanha usa as redes sociais para falar sobre a vivência com HIV e informar outras pessoas — Foto: Redes sociais
O Índice de Estigma, divulgado
pelo Unaids em 2019, indicou que 64% das pessoas vivendo com HIV ou Aids já
sofreram alguma forma de discriminação.
Por Thaís Espírito Santo, g1 Rio
20/10/2024 06h00 Atualizado há um dia
Pessoas que vivem com HIV contam
como enfrentam preconceito e lutam para combater desinformação — Foto: getty images
Pessoas que vivem com HIV contam
como enfrentam preconceito e lutam para combater desinformação — Foto: getty
images
“Leve esta garrafa de água
sanitária e, quando você sair do banheiro, desinfete todos os locais que você
utilizar.”
Foi isso que Vanessa Campos conta
que ouviu de uma enfermeira-chefe quando foi tomar banho na maternidade depois
do parto, em 2001. Na época, já tinha uma década que ela tinha sido infectada
pelo HIV.
Vanessa, hoje secretária nacional
de Comunicação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+
Brasil), considera que a sociedade ainda tem preconceito. A situação envolvendo
a infecção de transplantados no Rio reacendeu o debate sobre a sorofobia – o
preconceito contra pessoas que testaram positivo para o vírus da
imunodeficiência humana.
Vanessa foi diagnosticada em
1990, na adolescência. “Naquela época, ainda era uma sentença de morte”,
lembra.
Fonte.G1.com
“Estigma e discriminação
permanecem os mesmos desde o início da pandemia de Aids. O que mudou para
melhor foi a evolução do tratamento e o acesso a ele. O ativismo das pessoas
que vivem com HIV protagonizando a luta contra o estigma e a discriminação tem
dado bons frutos ao longo desses mais de 40 anos de epidemia”, continua ela.
Vanessa Campos — Foto: Arquivo
pessoal
Vanessa Campos — Foto: Arquivo
pessoal
O episódio na maternidade,
infelizmente, não foi um caso isolado na trajetória dela. Anos antes, em 1993,
ela conta que um infectologista disse que era melhor ela fazer um aborto do que
engravidar. E situações como essa se repetiram e ainda se repetem. Não só com
Vanessa, mas com outras pessoas que vivem com o vírus.
Após 30 anos vivendo com o HIV,
Vanessa escreveu um livro sobre a sua trajetória. “SoroposidHIVa, uma mulher na
diáspora da Aids” foi lançado em março deste ano e pode ser lido gratuitamente
na internet nas redes do Soroposidhiva.
HIV x Aids
O caso de 6 pacientes infectados
com HIV em transplantes de órgãos no sistema público do RJ é investigado pela
polícia e outros órgãos. Quatro pessoas foram presas.
“Eu tenho certeza de que,
infelizmente, esses casos de infecções causadas nos transplantes vão trazer
mais à tona e aumentar o preconceito com pessoas que vivem com HIV, por conta
da desinformação”, afirma Walter Sabino, que é ativista e liderança jovem HIV/Aids
e interseccionalidade no Rio de Janeiro.
“A grande questão é que as
pessoas ainda têm um pavor quando escutam sobre infecção por HIV, ou somente
HIV. Grande parte da sociedade associa diretamente o diagnóstico de infecção de
HIV à Aids. Essa é uma questão importante. Ter um diagnóstico positivo para o
HIV não tem ligação de obrigatoriedade com desenvolver a síndrome”, explica o
carioca Ueverton Pessanha, que usa as redes sociais para falar sobre a
temática.
“Eu acredito que o pior
preconceito é aquele que vem de quem a gente espera que nos abrace , como a
nossa família e até mesmo de médicos e profissionais da saúde. Mas, às vezes, é
exatamente desses lugares que vem o preconceito”, emenda ele.
Ueverton Pessanha usa as redes
sociais para falar sobre a vivência com HIV e informar outras pessoas — Foto:
Redes sociais
Ueverton Pessanha usa as redes
sociais para falar sobre a vivência com HIV e informar outras pessoas — Foto:
Redes sociais
O Índice de Estigma, divulgado
pelo Unaids em 2019, indicou que 64% das pessoas vivendo com HIV ou Aids já
sofreram alguma forma de discriminação. A mesma pesquisa indica que a forma
mais comum de rejeição no Brasil é a partir de comentários preconceituosos,
assédio verbal e perda de fonte de renda ou emprego.
“Quando falamos sobre HIV,
precisamos lembrar que, antes de ser uma pessoa vivendo com HIV, ela é uma
pessoa. Isso quer dizer que ela tem sonhos, planos, trabalho, família e muitas
outras coisas que acabam sendo colocadas para trás quando a sorologia dela
entra em questão”, explica a diretora e representante do Unaids no Brasil,
Andrea Boccardi.
“O estigma e discriminação sobre
pessoas com HIV sempre retornam à pauta e ao debate público. Então, sim, vemos
que muitas pessoas não têm informação sobre o tema e utilizam palavras
estigmatizantes e preconceituosas em relação às pessoas que vivem com HIV”,
afirma Andrea.
Para Boccardi, a falta de
regulação de discurso de ódio em redes sociais é uma preocupação e pode gerar
consequências para esses grupos, que estão marginalizados.
Nesse caso, os entrevistados
apontam que o debate público saudável e a disseminação de informações e
explicações sobre a temática são coisas que ajudam a combater diretamente a
sorofobia.
“O tabu do sexo unido ao
julgamento moral nos coloca no imaginário popular como ameaças à sociedade e
pessoas que não são merecedoras de viver dignamente. Isso precisa mudar”, diz
Vanessa.
A mídia, de acordo com eles, pode
ser uma aliada nessa jornada.
“Grande parte das pessoas ainda
associa notícias veiculadas sobre HIV com a matéria da revista Veja com o
Cazuza na capa. Não me lembro da última vez que vi uma matéria em capas de
grandes veículos de comunicação, exaltando o bem-estar de pessoas que vivem com
o HIV. Não existe mais uma cara para quem vive com o HIV. As pessoas têm uma
vida linda, quando recebem acesso a terapia de qualidade, sem tratamentos
discriminatórios”, destaca Ueverton.
“A questão é que as pessoas ainda
parecem ter medo de falar sobre o HIV. Existe um medo de falar sem ser
‘associado a conviver com o HIV. O medo do diálogo associativo ainda é um
limitador de diálogos. Você não precisa ser um profissional da saúde ou PVHIV
para falar sobre o tema. O descompromisso da sociedade e os preconceitos
atualmente matam mais que a Aids”, completa ele.
Walter acredita que, mesmo com o
avanço, as informações dependem de divulgação.
“A gente avançou muito no campo
das informações, mas acho que são pouco divulgadas. Faltam campanhas e
investimentos do governo para liberar o acesso a essas informações para todas
as pessoas. A gente ainda tem uma sociedade preconceituosa, porque ainda tem um
estigma muito grande que é causado pela desinformação”, afirma.
“Se eu puder deixar um recado
para todas as pessoas e principalmente para quem já passou por preconceitos,
violências e violação dos protocolos do Ministério de Saúde, eu me coloco à
disposição e o aparato do Grupo pela Vidda Rio+, que é uma instituição que já
lida há 35 anos com combate à epidemia de HIV e Aids no país e luta pelos
direitos das pessoas com HIV”, completa Sabino.
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