O drama de Davi: um ano após viralizar, menino da Cidade de Deus que sonhou ser modelo vive em condições precárias


Davi Brito e Pitada, sua gatinha, na frente da casa em que vivem, na Cidade de Deus

Davi Brito e Pitada, sua gatinha, na frente da casa em que vivem, na Cidade de Deus Domingos Peixoto/Agência O Globo

Desamparo e miséria impactaram objetivos da família do adolescente, que perdeu irmão há um mês, por atropelamento.

Um ano depois de chamar a atenção pela pureza, inocência e profundidade, os olhos de Davi Gonçalves da Rocha Brito estão tristes. Num piscar, sumiu de vista, devido a desamparo e pobreza, o sonho do menino carioca que viralizou na internet após ter sua expressão comparada à da afegã Sharbat Gula, eternizada na capa na National Geographic pelo fotógrafo Steve McCurry em 1985. Pouco antes de completar 13 anos, na última quarta-feira, o garoto teve um baque pela perda do irmão mais novo, Wallace (11), que foi atropelado. A irmã, Monique, de 14 anos, sofreu o mesmo acidente, levou cinco pontos na perda e lidou com falta de memória devido a um estresse pós-traumático. Edilene Gonçalves, a avó, dia a dia enfrenta a geladeira vazia. Sem emprego, a matriarca de 46 anos alimenta a família com doações. Recentemente, donativos da ONG Nóiz aliviaram. E o trocado dado por um porteiro que trabalha perto da Cidade de Deus, onde vivem, somou.

— Eu levei currículos a escolinhas de futebol aqui de perto de casa e ainda não tive resposta. Preciso muito trabalhar. Está tudo muito difícil. Foi aniversário do Davi e nem conseguimos pensar nisso porque meu neto morreu. Eu só chorava. É aquela tristeza — emociona-se ao telefone e se desespera, antes de a equipe de reportagem visitá-los na comunidade.

Em casa, quando escuta a avó falar do irmão, Davi se afasta e vai brincar com os três gatos que estão na frente do barraco. Uma dela está prenha. Então serão, ainda, alguns bichinhos para a família dar conta. Numa casa de três cômodos com poucos móveis, ele volta à sala depois que o assunto muda.

— A gente ainda está muito abalado — a avó reforça.

O menino não emite muitas palavras, só faz que "sim" ou que "não". Expressou-se mais ao ouvir repórter e fotógrafo perguntarem o nome da gatinha: Pintada. Davi não é dado a fotos e tem uma timidez notória. É de celular e televisão que ele gosta. E de bichos. O falecido irmão capturava cobras pelas redondezas e ficou conhecido como Caçador.

E o fato de a família não ter quem leve a criança a ensaios fotográficos prejudicou o desenrolar da carreira. André Mello, fundador da ONG Nóiz, foi seu tutor por um período, já que atuou como olheiro do menino na época da viralização de sua imagem. Wallace Lima, um dos fotógrafos que fez cliques na fase da repercussão, conta:

— O André o acolheu, e a ONG fez de tudo para dar uma ajuda.

FonteJornal Extra


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