Em livro sobre história de conjunto habitacional em Nova Iguaçu, autora conta vida de João do Vale no local


A professora de História e escritora Marize Conceição com a sua obra
A professora de História e escritora Marize Conceição com a sua obra Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Cíntia Cruz

Pouca gente sabe que foi em terras iguaçuanas que o cantor e compositor maranhense João do Vale viveu por 27 anos. E não foi no Centro de Nova Iguaçu. O autor da célebre canção "Carcará" morou de 1969 a 1996 no conjunto habitacional Rosa dos Ventos, que, posteriormente, daria origem ao bairro homônimo.

Toda a história do conjunto habitacional está no livro "Rosa dos Ventos, a estrela miúda de João do Vale", da editora CRV, que será lançado dia 29, às 18h30, no Centro de Convivência Nordestina, no bairro da Luz.

O livro foi fruto de uma pesquisa acadêmica realizada pela professora de História Marize Conceição, na pós-graduação em História Social do Brasil que fez na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1999.

— Sou membro fundadora da Associação de Professores e Pesquisadores de História da Baixada Fluminense (APH-CLIO). Fazíamos a pesquisa e desenvolvíamos um trabalho com os alunos em sala de aula. Começamos a discutir a construção da memória de algumas personalidades que viveram na Baixada, mas que foram totalmente silenciadas e invisibilizadas, como João Cândido, Solano Trindade e João do Vale — conta Marize, que entrevistou 13 moradores para sua pesquisa.

Dez anos depois, o trabalho virou livro. Na obra Marize conta como era forte a identidade coletiva de quem vivia naquele conjunto.

— O bairro cresceu no entorno deste conjunto. Muitos moradores que não puderam continuar pagando suas casas (financiadas pelo BNH) passavam para outras pessoas ou abandonavam e iam viver no entorno. Depois, o bairro foi se desenvolvendo — explica.

O cantor e compositor João do Vale em Nova Iguaçu, onde viveu por 27 anos
O cantor e compositor João do Vale em Nova Iguaçu, onde viveu por 27 anos Foto: Arquivo O Globo / Paulo Moreira / Agência O Globo / 06-12-1990
O livro narra como João do Vale foi morar no conjunto, na época da ditadura militar. Depois de estourar com Carcará, ele entra na mira dos militares e acaba sendo preso, quando se apresentava em uma manifestação camponesa. O artista consegue ser solto, por intermédio de José Sarney, vai para sua cidade natal, Pedreiras, no Maranhão, mas consegue voltar para o Rio e se instalar em Nova Iguaçu com a família. João só deixa a Baixada quando, após o segundo derrame, decide voltar a Pedreiras, onde morre, em 96.

— O livro é a história do conjunto com a construção da história e da memória do João do Vale — destaca Marize.

O nome "estrela miúda" é também uma composição de João do Vale. A professora conta porque decidiu colocar a expressão no título:

— Quase ninguém fala que ele morou em Nova Iguaçu. Quando falam, esquecem a periferia. É importante falar que ele foi um grande compositor de música popular, nordestino, negro, e que morou naquela comunidade, para que ele seja referência. É essa história que conto aos meus alunos.

Professora da rede estadual e do município de Nova Iguaçu há quase 30, Marize sempre esteve atenta à temática racial, principalmente com os alunos em sala de aula. Dois anos antes de desenvolver a pesquisa, se engajou na luta para o reconhecimento do compositor na cidade. Com as diretoras Ana Isabel Couto Ribeiro e Jussiara Jovino Mello, conseguiu que a unidade estadual onde leciona passasse a se chamar Escola Estadual João do Vale. Já com o filho de João, Riva do Vale, e o então presidente da Associação de Moradores de Rosa dos Ventos, Geraldo Magela, conquistou a mudança da Avenida Sul, principal do bairro, para Avenida João do Vale.

— O que acho bacana nos relatos dos moradores é sobre o jeito bonachão de João. Ele andava sem camisa, descalço no conjunto, fazia festas, comida na casa dele, convidava artistas. Inclusive, Chico Buarque frequentava lá — conta Marize.

O lançamento no Centro de Convivência Nordestina, na Rua Luís Sobral, 290. bairro da Luz.

Fonte. Jornal Extra

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