Leonardo Boff
O confronto que o PL e o presidente a ele filiados propõem como
estratégia política de campanha eleitoral, representa um irremissível erro filosófico. É o maniqueísmo que falsamente imagina haver um princípio dualista, de um lado somente o mal e do outro somente o bem e sempre se confrontando. Eles, os fanatizados, se apresentam como os portadores do bem. Os outros, do mal.
Reflitamos: Toda realidade humana, pessoal e social carregam, misturadas e juntas, as dimensões de bem e as dimensões de mal. Essa
é a condição concreta da realidade histórica: a convivência, junta e
misturada, de ambas as dimensões. Cada um dá primazia a uma destas
dimensões, ou o bem ou o mal,embora não consiga,como uma sombra, me
libertar dela mas posso sempre mantê-lo sob vigilância. Aqui surge o
caráter ético da opção e de suas práticas, seja da dimensão do bem seja
daquela do mal.
Quando um grupo fanatizado e seu líder optam pelo ódio, pelo espírito
de vingança, pela mentira,pela violência, pela magnificação da ditadura
e da tortura, usa do fake news, estes decididamente não podem
reivindicar “nós somos homens do bem”. Eles optaram pelo mal, admitamos, sem conseguir sufocar o bem que
é inerente à nossa natureza pessoal e social. Pois é isso
que,inequivocamente, está ocorrendo com o atual presidente e seus
seguidores, rubros de ódio e engolfados de raiva. Querem o mal para seus adversários pensando fazer o bem ao país. Na verdade,invertem a realidade
Os fanáticos bolsonaristas e seu líder,com características desviantes
por sua falta completa de empatia,pela brutalização de suas
comunicações e perda da dignidade inerente ao cargo que ocupa, propõem
um falso antagonismo. Qual é o verdadeiro antagonismo: é entre a
defesa da vida, a partir daqueles mais vulneráveis ou a completa falta
de cuidado dela, especialmente neste momento sob a pandemia do Covid-19?
É a transparência na coisa pública ou um orçamento secreto, sem
critérios técnicos e faltos de toda equidade na distribuição dos bilhões
de reais? É a busca do equilíbrio e da paz social ou o empenho de
acirrar conflitos, destruir a reputação de autoridades e de políticos
com falsas acusações, dossiês forjados? É defender o pacto social
codificado na Constituição e nas leis ou atacá-lo sistematicamente e
desrespeitar toda e qualquer norma. É ameaçar com uma ruptura
institucional, rompendo o equilíbrio dos três poderes e difamando
especialmente um deles, o STF? É armar o povo com todo tipo de armas
(armas são para matar, seja agredindo seja se defendendo) ao invés de
ensinar a amar, propiciar o diálogo, a conciliação é o ganha-ganha? E
poderíamos aduzir mais dados do antagonismo como a malévola destruição
do processo educativo, a desmontagem da cultura e o incentivo à
discriminação e o ódio contra negros, indígenas, mulheres e de pessoas
de outra opção sexual ao invés de propiciar a convivência pacífica e a
acolhida das diferenças? Pois o grupo fanatizado dos bolsonaristas e de
seu líder promovem exaltam este falso e odioso antagonismo. Existe
em toda política oposição mas não pode se transformar numa
contraposição, a transformação do adversário em inimigo. E o fazem
cotidianamente.
Por fim temos a ver com uma proposta absurda, destituída de
qualquer sentido humano e humanístico. Nenhuma sociedade historicamente
conhecida prosperou e se consolidou sobre a exclusão, o ódio, a
perseguição, a injustiça, a mentira e a afirmação da morte. Formular tal
proposta repugna à inteligência que se rege pela busca da verdade e
afronta a consciência dos valores éticos e morais. Ela pode pela
violência e repressão ser imposta por certo tempo, mas não possui
sanidade interior de poder se firmar.
Esta proposta absurda do confronto entre o bem e o mal como
mote eleitoral pelo PL e pelo o presidente,buscando por tal estratégia
busca a reeleição, está fadada ao franco fracasso. No fundo esta
proposta é suicidária. Como dizia um conhecido escritor brasileiro
citando Shakespeare: eles tomam o veneno pensando que o outro vá morrer
envenenado. Eles estão se envenenando.
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Esta eleição de 2022 possui um claro caráter plebiscitário: ou
optamos pela vida da natureza e pela vida das grandes maiorias
humilhadas,ofendidas, famintas e desempregadas ou optamos pelo poder
que castiga, covardemente marginaliza, destrói a democracia e o Estado
democrático de direito, depreda a natureza, aliena os bens públicos e
prolonga a dependência para impôr um autoritarismo fascistóide, obtuso,
anti-vida, anti-cultura e anti-povo e sempre dependente de um poder
maior e exterior. A seguir esse rumo transformará o nosso país em pária,
no qual as grandes maiorias viverão na exclusão, na marginalização e na
pobreza, senão na aviltante miséria.
Cumpre reconstruir o que foi destruído e aproveitar a ocasião para,
de fato, realizar o sonho de nossos melhores de concluir a refundação do
Brasil, expressão de uma civilização biocentrada nos trópicos. Por sua
magnitude e abundância de bens de vida, poderá ser a fonte de água doce
para saciar as sedes de milhões e a mesa posta para as fomes do mundo
inteiro.
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra,
grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996,
Dabar, México 1996.]
Fonte. ttps://www.brasil247.com
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