Família diz que tinha monstro dentro de casa: estudante de medicina é acusado de ter abusado de quatro crianças, entre elas, as irmãs de 3 e 9 anos
Uma história de abusos em família, como nunca foi vista em
Teresina, Piauí, está mobilizando a opinião pública. Um jovem estudante de
medicina, de 22 anos, está sendo acusado de estupro de vulnerável após relatos
dos próprios parentes à polícia de que ele teria estuprado duas primas, uma
delas hoje com 13 anos, e duas meninas de 9 e 3 anos, que são irmãs dele. Todas
já relataram esta semana os acontecimentos diretamente à Justiça, com o
acompanhamento de psicólogos. Diante da notícia de que Marcos Vitor Aguiar
Dantas Pereira teria fugido para o exterior, o advogado Ricardo Araújo, que
representa as vítimas, diz que o Ministério Público vai pedir a prisão
preventiva do estudante e possivelmente fazer um comunicado internacional de
buscas pelo suspeito à Polícia Federal. A madrasta de Marcos Vitor e a irmã
dela, mães das crianças, já o tratam como foragido.
O caso veio à tona depois de anos de convívio de Marcos
Vitor com as meninas. Quando ele tinha apenas 8 anos, o pai dele foi viver com
P.L. (que pediu para não ter o nome identificado). O casal de classe média, que
mora na Zona Leste de Teresina, teve duas filhas, que teriam sido vítimas do
irmão. A família acredita que as investidas tenham começado quando ele era
adolescente, mas ninguém nunca percebeu nada. Nos depoimentos feitos no
tribunal, as crianças contaram que ele se trancava com elas no quarto e tocava
nelas
Marcos Vitor se mudou para Manaus há cerca de dois anos,
para cursar medicina. Os relatos começaram a ser expostos à família em julho
deste ano, depois que uma prima contou ter sofrido abusos dele. A filha da
advogada Priscila Karine Coelho Campos, irmã da madrasta de Marcos Vitor, faz
tratamento psicológico desde os 6 anos, teve mudanças de comportamento e chegou
a tentar suicídio. Hoje com 13 anos, a adolescente contou o que havia
acontecido.
Ela relatou que foi abusada pelo primo pelo menos entre os 5
e 10 anos e que ele tocava em suas partes íntimas. Os abusos, relatados pela
jovem, teriam começado durante uma viagem com toda a família das duas irmãs ao
Uruguai. Priscila conta que depois de contar à família sua filha começou a
apresentar melhoras.
— A menina tomava antidepressivo desde pequena, vivia
triste, calada. E ninguém entendia por quê. É uma monstruosidade. A partir daí,
a madrasta dele começou a desconfiar que o mesmo poderia ter acontecido com as
filhas. Ela perguntou a ele que confessou o crime, mas desde então não foi mais
visto — diz o advogado Ricardo Araújo, que trabalha como assistente do
Ministério Público no caso.
O pai de Marcos Vitor é empresário e, depois que o escândalo
teve início, ele e P.L. se separaram. O rapaz ainda não compareceu para depor
na Polícia Civil do estado. As crianças foram ouvidas na Justiça para que não
tenham que ser submetidas duas vezes a um depoimento extremamente
traumatizante.
— Ele sempre foi criado como filho, ia em viagens da
família. Quando ele passou para medicina em Manaus, minha família organizou
tudo para ele ir. Depois que minha sobrinha contou o que ele fazia, minha mãe
disse para ficar de olho nas minhas filhas. Questionei minha filha de 9 anos,
mas pensei "ele não faria isso com a própria irmã". Sempre morou
junto, ninguém via nada de diferente. Ela me confirmou, chorando. Depois minha
filha de 3 anos também confirmou — conta a madrasta.
De acordo com Araújo e com a madrasta, Marcos Vitor
confessou o crime por meio de mensagens trocadas com ela por aplicativo de
celular.
De acordo com Araújo e com a madrasta, Marcos Vitor
confessou o crime por meio de mensagens trocadas com ela por aplicativo de
celular.De acordo com Araújo e com a madrasta, Marcos Vitor confessou o crime
por meio de mensagens trocadas com ela por aplicativo de celular. Foto: Arquivo
pessoal.
Num longo relato, atribuído a ele, o estudante diz:
"Essa foi uma parte obscura da minha vida que me envergonha muito e que eu
nunca queria voltar. Não existe nada que justifique o que aconteceu, nada que
me exima. Eu só posso pedir perdão para você e toda a família que me acolheu
muito bem. Eu faço o que for preciso para tentar reverter todo o impacto
negativo que eu causei, o que for preciso para deixar esse passado de lado. Eu
tenho minhas irmãs e para mim pode-se dizer que elas são minha vida. Eu não
posso ver uma criança na UBS que eu digo o quanto tenho saudade delas",
que acrescentou que seu sonho era levar as irmãs para estudarem nos EUA, para
construírem uma carreira que ele mesmo não teria tido a oportunidade. Na mesma
conversa, ele ainda teria completado: "Eu vou entender se não me
perdoarem, eu também não sei e me perdoaria, mas quero que saibam que aquele
não sou eu".
Desde então, Marcos Vitor está em local ignorado. As
mensagens foram entregues aos investigadores. Procurado pela reportagem, seu
advogado afirmou não poder comentar sobre o caso, pois tramita em segredo de
justiça.
'Ninguém desconfiava'
O advogado diz que toda a família está em choque porque
Marcos Vitor era considerado um jovem impecável, educado, respeitador,
inteligente e estudioso. Nas redes sociais, costumava defender rigor contra
crimes semelhantes ao que agora é acusado. Dizia que amava as irmãs acima de
tudo e que gostaria de levá-las para estudar no exterior.
— Ele admitiu para a madrasta que abusou das crianças. Há
ainda outras que não são da família mas que ainda não quiseram falar por
vergonha. Ele falou que se arrependia do que tinha feito e que este era um lado
obscuro que ele tinha há muito tempo. Depois disso desapareceu. Já teve gente
da família, por parte do pai, que está protegendo ele dizendo que ele foi para
outro país fazer um curso e só volta quando a situação se acalmar. Já disseram
até que ele tinha tentado suicídio, mas é mentira — relata Araújo.
— Ninguém desconfiava, ele não bebia, não fumava, tinha
sempre namorada fixa. Namorou por vários anos, terminou quando foi para Manaus
e já tinha outra namorada lá. Não era de ir para festa, não ficava em cima das
crianças. Na minha família inteira ninguém pensava que ele poderia fazer isso.
As meninas dizem que foram incontáveis vezes — afirma Priscila.
As mães das crianças reclamam da demora para o andamento do
processo. Por isso resolveram expor o caso nas redes sociais.
— Nos disseram que por ele ser primário demoraria pelo menos
cinco anos para que tivesse processo viável de prisão. Foi um dos motivos de
termos decidido postar. O depoimento das meninas seria só daqui a três anos,
agora elas já foram ouvidas. Iria dar tempo dele se formar. Entrei em contato
com o CRM (Conselho Regional de Medicina) e disseram que só perde o registro em
caso de relação entre médico e paciente. A gente tinha que fazer alguma coisa
porque ele iria ser médico e estuprador de crianças — diz Priscila
Fonte. Jornal Extra
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