O que leva nomes como Xuxa, Ivete Sangalo e ex-aliados a pedir o "Fora Bolsonaro" Da esquerda à direita, passando pelos “isentões”, a indignação cresce nas redes enquanto se aproximam as manifestações
Nesta quinta-feira (1º), por exemplo, a apresentadora Xuxa Meneghel se somou ao coro em oposição ao governo, ao compartilhar uma convocação para atos do #3JForaBolsonaro no sábado, em todo o país. “Use máscara”, alertou, como forma de confirmar sua presença.
O posicionamento de Xuxa pelo “Fora Bolsonaro” repercutiu entre opositores do governo, como o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), que comentou em sua publicação. “Muito bem! Vamos derrubar Bolsonaro com gente na rua.”
O cantor Tico Santa Cruz, da banda Detonautas, também apoiou a apresentadora. “Vamos derrubar o genocida corrupto! Não se trata de ideologias, se trata de salvar vidas”, disse.
Como apontou Tico, o movimento que pede o fim do governo Bolsonaro concentra cidadãos e até mesmo políticos de todas as esferas ideológicas.
No centro da insatisfação, a má condução da pandemia e escândalos de corrupção, que começam a eclodir no seio do governo; especialmente a partir de investigações da CPI da Covid. Bolsonaro, desde o início da pandemia de covid-19, negou a ciência, rejeitou vacinas, promoveu e incentivou aglomerações e divulgou mais de 2 mil mentiras sobre a doença, inclusive desaconselhando o uso de máscaras.
Antigos afetos
Entre os antigos aliados de Bolsonaro que hoje o rejeitam, está o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP). Líder do grupo de direita Movimento Brasil Livre (MBL), que apoiou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, Kataguiri chegou a figurar como uma figura central dos novos políticos aliados à extrema-direita de Bolsonaro.
Ele assinou o chamado superpedido de impeachment contra o presidente. E mais do isso, também discursou no ato político, encerrando a fala com um vigoroso “fora, Bolsonaro
“É algo histórico que está sendo feito com todos os pedidos de impeachment que foram protocolados contra o presidente”, disse, ao lado de políticos de esquerda e lideranças de movimentos sociais.
“É algo maior que está sendo feito, algo histórico, com todos os pedidos de impeachment já protocolados contra o presidente criminoso, corrupto Jair Messias Bolsonaro”, continuou o parlamentar.
“Os pedidos (de impeachment) são todos justos e que possuem sua causa legítima e que vão sim, ao final das contas, derrubar esse que até agora é o presidente que mais promoveu morticínio, genocídio contra a população brasileira, contra os cofres públicos e utilizou a máquina pública para blindar os próprios filhos”, concluiu.
Assim como Kim, outra parlamentar que abandonou o governo é Joice Hasselmann (PSL-SP). Militante do bolsonarismo, Joice foi líder do Planalto na Câmara no início do mandato. Hoje, aponta a pecha de genocida ao presidente.
“Genocida é a palavra. Bolsonaro jogou bombas no nosso país. Eu fui líder desse ogro, desse monstro. Nunca mais, mas nem com uma arma na cabeça, esse homem leva um voto meu”, disparou. “Ele jogou duas bombas em nosso país. Ele matou pessoas. Não é que foi negligente, ele matou.”
Celebridades
Assim como Xuxa, famosos também deixam claro seu posicionamento. Entre os resultados desastrosos de Bolsonaro diante da covid-19, está a taxa de mortalidade 4,4 vezes superior ao resto do mundo. Em 2021, o Brasil é o país com mais mortes por covid-19 no planeta.
Desde o início do surto, em março de 2020, apenas os Estados Unidos superam. “Vacina no braço, mascara no rosto e fora Bolsonaro”, disse a atriz Paolla Oliveira, ao compartilhar uma imagem com covas, uma floresta devastada e os dizeres: “Bolsonaro genocida; humano e ambiental”.
A lista de opositores ao presidente e defensores da vida e da ciência é grande. Inclui as cantoras Anitta, Ivete Sangalo, Gal Costa, Duda Beat, as atrizes Alessandra Negrini, Taís Araújo, entre muitas outras, e até mesmo os ex-participantes do Big Brother Brasil Juliete Freire, Gil do Vigor e Kerline.
“É sobre FORA BOLSONARO sim! A favor da democracia, da economia, da saúde, da educação, do senso COLETIVO”, afirmou Anitta. ” Não é natural. Não é uma mentira. É estarrecedor pensar sobre as milhares de vidas ceifadas e dores irreparáveis em torno dessas perdas. Não é sobre partidos, é sobre humanidade”, concordou Ivete Sangalo, em outra postagem em uma rede social. “Muitos me questionam quando a crise vai acabar e o Brasil voltar a crescer, portanto, decidi responder: quando [Jair] Bolsonaro e a sua turma saírem do poder”, finalizou Gil do Vigor, que é economista.
Impeachment
Com mais de 100 pedidos de impeachment, o “super pedido” visa aglutinar os supostos crimes de Bolsonaro em apenas um documento, assinado por todos. A pressão das ruas pode contar para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), desengavete o pedido e encaminhe para votação.
A advogada Marcelise Azevedo, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), considera a reunião de posicionamentos em torno do novo pedido de impeachment importantam.
“São tantas correntes, das mais diversas, uma articulação difícil. Isso é muito bom. É bom quando a articulação precisa de muita conversa, muitas cabeças. Essa é a essência da democracia e dos movimentos sociais”, disse.
“O fato deste pedido juntar tantas cabeças, tantos pensamentos e entendimentos é simbólico. Simboliza tudo que o Bolsonaro não é e não quer: diversidade, pluralidade, várias pessoas pensando. Tudo que ele não gosta. Ele se coloca de uma maneira autoritária e demonstra quem ele é. No momento em que trazemos para a convergência tanta gente diferente, mostramos quem somos e como queremos que o país se construa. Então, Bolsonaro é isso. As pessoas se enganaram, se alguém se enganou, quis se enganar com uma pessoa que sempre mostrou quem é”, completou.
A também jurista da ABJD Marisa Barbato completa, em live do Grupo Prerrogativas, transmitido pela TVT.
“Não podemos permitir que esse barco continue andando com alguém que quer afundar ele. Todos que estão juntos com Bolsonaro estão com a mesma ideia política. Pessoas que estão lá por oportunismo, ou ideologia, tem que mandar embora também. É fora Bolsonaro e também fora governo Bolsonaro”, disse.
Pela vida
O professor de Direito da Universidade de Fortaleza e membro da ABJD Marcelo Uchôa também destacou a relevância das mobilizações pela queda de Bolsonaro, seja nas ruas, ou no Congresso. Ele argumenta que o pedido de impeachment deve ter andamento.
“Tem um presidente que está insistindo, reiterando em crime de responsabilidade. Nós vamos deixar isso perdurar? Não é justo que isso aconteça. Não é isso que vai acontecer. E eu acho que essa frente que se cria em torno do impeachment deve inclusive mudar a narrativa. Não se trata de pedir ao Arthur Lira, que receba e dê o encaminhamento ao pedido de impeachment. É exigir ao Arthur Lira que faça a parte dele e entenda que as pessoas que estão ali gritando têm legitimidade para isso, têm o direito constitucional de apresentar a sua queixa para os deputados”.
Uchôa reafirma, ainda, a responsabilidade de Arthur Lira. “Portanto, ele tem a obrigação legal, moral, constitucional de receber aquele pedido e encaminhar para os pares. E nós vamos para a luta política sim, até derrubar esse presidente que já faz muito tempo que não deveria estar no comando do país.”
Colaborou Cláudia Motta
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