Escritor Leonardo Padura descreve "estado de ódio" em Cuba


Em entrevista à Folha de S.Paulo, o escritor e jornalista cubano Leonardo Padura se posicionou contra uma intervenção externa e criticou o fundamentalismo dos dois lados do espectro político.

Leonardo Padura

Leonardo Padura (Foto: Reuters)


247 - O escritor e jornalista cubano Leonardo Padura, uma das personalidades mais influentes de seu país, respondeu às críticas que vem recebendo, após ter afirmado que o embargo econômico dos Estados Unidos é responsável pela crise que aflige a ilha caribenha.

"O estado de ódio implica que seu opositor, aquele que não concorda com suas ideias, é seu inimigo. E com o inimigo se luta, com muitas armas, ou com todas as armas", avaliou o escritor.

"Por exemplo, agora mesmo, por mencionar num artigo que, entre os diversos problemas que gravitaram sobre a crise que hoje se vive em Cuba, está o bloqueio ou embargo norte-americano, disseram que eu sou porta-voz do regime ou algo parecido. Como se o bloqueio ou embargo não fosse uma realidade", prosseguiu.

"E como é o ódio do outro lado? No outro lado do espectro político, obviamente, estão os que consideram que falar de inconformismos, de necessidades, de falta de expectativas de futuro, de perda de esperança, é um ataque ao sistema. Ou que escrever o que eu escrevi durante anos também é, como me disse um funcionário do regime cubano quando o filme "Retorno a Ítaca" [produção de 2014 baseada em romance do autor] foi censurado. Ele me disse que os conflitos dos personagens não eram pessoais, mas com o sistema. Para uma Cuba inclusiva e melhor precisamos de acordos, soberania, liberdade de expressão e pensamento. O fundamentalismo funciona com outras cargas, incluindo o ódio ao outro", completou.


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