Matriculadas em escola municipal do Rio, meninas que vivem na rua com a mãe não fizeram aulas remotas por não terem acesso à internet







A família no barraco no Pavão-Pavãozinho: geladeira vazia e sem aulasA família no barraco no Pavão-Pavãozinho: geladeira vazia e sem aulas Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Domingos Peixoto, Luã Marinatto e Marcos NunesTamanho 


Em meios a sorrisos e peraltices, as irmãs Thainá Paula Rodrigues Araújo, de 6 anos, e Gabriela Paula Soares Gama, de 8, passam a maior parte do dia brincando de escola. Entre as ações do faz de conta estão riscos, desenhos e livros que são folheados diariamente. Alunas da Escola municipal Edna Ferreira Poncioni, na Lagoa, onde o ensino remoto deveria estar a todo vapor, as meninas ainda não assistiram a uma única aula online. O motivo é simples. Segundo Ana Paula Rodrigues Gama, de 46 anos, mãe das crianças, a família, que reveza como endereço uma calçada no Centro do Rio e um barraco sem porta ou janelas na comunidade do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, não tem recursos para comprar celular ou computador.









Ana Paula e as filhas varrem a calçada em que vivem, no Centro do RioAna Paula e as filhas varrem a calçada em que vivem, no Centro do Rio Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

A história das três foi contada pelo EXTRA nesta quinta-feira e sensibilizou a internet. Ana até busca regularmente na escola o material didático disponibilizado pelo município para os alunos que não estão acompanhando o estudo online, mas as crianças sentem falta das aulas. Enquanto isso, mesmo com o ensino fundamental incompleto - estudou apenas até o 7º ano-, ela ainda consegue ajudar as meninas nas tarefas escolares.






As crianças na sala de condições precáriasAs crianças na sala de condições precárias Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

- Elas vivem falando dos amiguinhos e da professora. Enquanto a aula estiver remota, minhas filhas não conseguirão assistir. Me informaram que só dia 18 será presencial e aí elas irão - aguarda Ana Paula.


Antes da pandemia, Ana acordava cedo e, às 6h30, caminhava 20 minutos, passando dentro de um túnel, para levar as duas filhas até o colégio. Para manter a rotina mesmo sem aulas, ela continua acordando as meninas antes das 7h.






Ana Paula prende a toalha de Magali, a favorita de TaináAna Paula prende a toalha de Magali, a favorita de Tainá Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Fora da escola, a vida da família também não é fácil. O revezamento de endereços feito há pelo menos um ano - uma marquise na Avenida Graça Aranha, ao lado da Cinelândia, e o barraco precário na favela - é explicado pela fome. Quando está no Centro do Rio, Ana e as filhas recebem doações diárias de quatro a cinco quentinhas. A comida é levada pra casa e dividida entre as três e o filho Renan, de 26 anos, que é pedreiro e ainda paga pensão para dois filhos menores. Já quando está no morro, às vezes, todos têm apenas uma única quentinha para dividir para quatro pessoas. Nesta quinta-feira, por exemplo, Ana só tinha em casa um quilo de fubá, um pouco de feijão, café e sal.


ARQUITETURA HOSTIL: Construções para excluir população em situação de rua são criticadas por profissionais


- Fiz o pouco que tinha para minhas filhas. Comprei fiado um pacote de linguiça por R$ 4,60. Estou há dez dias sem ir para rua, e a Tainá já emagreceu mais de um quilo, porque muitas vezes come só uma quentinha que é dividida pra todos. Já fiquei 18 dias sem gás e o que me salvou foram as quentinhas que a gente recebeu de doação na calçada e no Largo do Carioca - conta Ana.






Ana Paula no vão sem janela da residênciaAna Paula no vão sem janela da residência Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Após a publicação da matéria, a Secretaria municipal de Educação enviou a seguinte nota:


"A Secretaria Municipal de Educação do Rio informa que oferece meios para que todos os alunos assistam às aulas, seja presencialmente ou remotamente. O Programa Conectados, por exemplo, garante acesso ao aplicativo Rioeduca sem cobrança de dados. Com isso, estudantes e professores da Rede Municipal podem acompanhar as atividades pedagógicas gratuitamente. Os que não conseguirem acessar o aplicativo Rioeduca em Casa, por não terem celular ou outro dispositivo, poderão usar as ilhas de conexão, que funcionam em unidades escolares e em equipamentos da Prefeitura e têm computadores com acesso à internet.





A SME também disponibiliza as atividades por meio impresso aos estudantes. Neste casos, os alunos ou responder deverão buscar o material quinzenalmente na Unidade Escolar de forma agendada e seguindo os protocolos sanitários para evitar aglomerações.

Fonte. Jornal Extra

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CANCRO MOLE