Em gravação, Luiz Lima disse 'não ter vontade' de ser prefeito por temer ameaça de colega de partido


O candidato do PSL à Prefeitura do Rio, Luiz Lima 02/10/2020
O candidato do PSL à Prefeitura do Rio, Luiz Lima 02/10/2020 Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Paulo Cappelli
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Em uma gravação feita no começo de setembro, dias antes da oficialização da candidatura de Luiz Lima (PSL) à prefeitura do Rio, o deputado federal disse que não se candidataria para o pleito municipal por ter sofrido ameaças do deputado estadual Alexandre Knoploch, presidente do diretório carioca do partido, e afirmou que passou a usar colete a prova de balas. A conversa telefônica foi gravada por Misael Santos, ex-aliado de Lima que tem atuação política em Nova Friburgo, na Região Serrana. Indagado por Santos sobre a relação com Alexandre Knoploch, que teria criticado o presidente Jair Bolsonaro, Lima, que se apresenta como um candidato alinhado com o Planalto, respondeu.

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— Em relação ao Rio de Janeiro, não me lancei candidato. Foram movimentos de direita que cogitaram essa hipótese, porque os candidatos do PSL, (Rodrigo) Amorim e Knoploch, são, poxa, base do governo do Wilson Witzel. Sempre foram desde o começo. Isso não partiu de mim. Não tenho essa vontade neste momento de ser prefeito do Rio.

Em seguida, Lima concluiu:

— O Knoploch, cara, eu não tenho mais relação com ele. O cara me ameaçou já, para você ter ideia. Eu tenho certeza de que se eu me lançasse candidato no Rio... o Rio tem sete milhões de habitantes, é uma cidade que gosta mais de pessoas do que de partidos. Eu, com nove minutos de televisão (propaganda eleitoral) e recursos do PSL, era capaz de eu ir para o segundo turno e ganhar do Eduardo Paes (DEM). Não tenho dúvida disso. Mas a troco de quê eu ia fazer isso? As pessoas já estão me ameaçando, tô andando com colete. Eu não ando com segurança.

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Na conversa, Lima também classificou como "precipitado" o movimento de Bolsonaro de romper com o PSL no final de 2019 e disse que Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF) foram "desrespeitosos" com a legenda durante a ruptura.

— Bolsonaro está tendo que se aliar a partidos do centrão para ter força. Deputados que estão com Bolsonaro não entenderam que não adianta ter 1,3 milhão de seguidores se não têm força dentro do Congresso. Por exemplo, quem virou ministro foi o (deputado federal licenciado) Fábio Farias (PSD), que tem 10 mil seguidores. Infelizmente, o nosso sistema político impede que o presidente tenha individualidade no governo. Achei muito precipitada a atitude do Bolsonaro de romper com o PSL antes das eleições municipais, porque, quando o prefeito é eleito, ele pode mudar de partido a hora que quiser, entendeu?

Procurado, Luiz Lima lamentou o vazamento da conversa que ocorreu dias antes da oficialização de sua candidatura, em 12 de setembro, e disse que a fala sobre Knoploch, hoje seu coordenador de campanha, não traduziu todo o contexto implícito.

— Lamento muito uma pessoa gravar uma conversa privada. Mostra uma deselegância profunda e obsessão pela busca do poder. Jamais imaginava que essa pessoa (Misael Santos) iria gravar uma conversa. Quando falo em "ameaça" sofrida, se traduz em tom de indiginação ou algo parecido. Não era ameaça física. Nunca me senti em perigo ou algo assim.

Luiz Lima e Alexandre Knoploch também se manifestaram por meio de nota conjunta:

"O deputado federal Luiz Lima, candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, e o deputado estadual Alexandre Knoploch, presidente municipal do PSL, repudiam a divulgação de uma conversa realizada em tom estritamente privado, e, em um momento em que Luiz Lima está subindo nas pesquisas e com total condição de chegar ao 2º turno. Em respeito aos eleitores e a opinião pública, as duas partes frisam que qualquer desavença política, temporária, faz parte da democracia partidária. Desde 12 de setembro de 2020, data da convenção do partido, existe a convergência de ideias em prol da candidatura de Luiz Lima.”

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