Como o filho de um pastor tenta salvar a dívida milionária da igreja do pai e de outros templos
A equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro está diante de um impasse: um dispositivo em um projeto de lei aprovado pelo Congresso que perdoa aproximadamente R$ 1 bilhão de dívidas tributárias de templos religiosos e isenta o grupo de pagamentos de contribuições previdenciárias. O presidente tem até o dia 11 para decidir se sanciona a íntegra e mantém o perdão ― o que afaga líderes evangélicos, que representam parte de sua base eleitoral ― ou se veta o trecho, em aceno ao compromisso com as contas públicas.
O montante, de acordo com cálculo da oposição, seria suficiente para pagar o auxílio emergencial de R$ 600 a 1,6 milhão de pessoas. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional recomenda a rejeição da proposta.
A questão, entretanto, já esteve em outro momento sob escrutínio do presidente. De acordo com apuração do jornal Estado de S.Paulo, em abril. O presidente pediu ao secretário especial da Receita Federal, José Barroso, uma solução para as dívidas tributárias de igrejas. O pedido foi feito em um momento em que o próprio presidente já fazia constantes alertas sobre as dificuldades financeiras do País.
A conversa sobre a busca de uma solução ocorreu em reunião no Palácio do Planalto que contou com a presença do deputado Davi Soares (DEM-SP), filho do pastor missionário Romildo Ribeiro Soares. Mais conhecido como R. R. Soares, o pai do deputado fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus, que é considerada uma dissidência da Igreja Universal do Reino de Deus. A igreja de R. R. Soares — que é cunhado de Edir Macedo — tem uma dívida de R$ 127 milhões com a Receita Federal, de acordo com informações obtidas pela Agência Pública por meio da Lei de Acesso à Informação, referentes a agosto do ano passado.
Constar na dívida ativa da União, como é o caso do templo de R. R. Soares, o impede de conseguir certidão de regularidade fiscal. O documento é exigido geralmente para obtenção de licenças, participação em licitações e também para obtenção de créditos em bancos.
Disposto a solucionar essa fatura, Davi Soares viu a oportunidade em um projeto de lei apresentado em abril deste ano pelo deputado Marcelo Ramos (PL-AM). A proposta tinha como objetivo central regulamentar cobrança de dívidas e destinar esse dinheiro ao combate à pandemia do novo coronavírus, mas ganhou duas emendas que isentaram os templos religiosos do pagamento do pagamento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), de multas por não pagar a CSLL e os anistiam de autuações por não pagar a contribuição previdenciária.
Ao justificar as emendas, Davi Soares argumentou que o fisco faz cobrança indevidamente por interpretar de maneira errada a lei vigente. “Tais autuações acabam por praticamente inviabilizar a continuidade dos relevantes serviços prestados por tais entidades”, diz trecho do texto da emenda. Em 15 de julho, quando o texto foi aprovado na Câmara, o deputado afirmou que apresentou as emendas “para corrigir esse problema”.
“Para fazer justiça às instituições que fazem o maior trabalho social do Brasil, para não dizer do mundo, a recuperação de milhares de pessoas, mesmo fazendo esse trabalho, nós estamos sendo tratados como empresas com fins lucrativos, sendo que quase 90% de todas as instituições religiosas no Brasil mal sobrevivem”, disse. “O que estou fazendo aqui é sinal de justiça. Ninguém está criando benefício algum. Nós estamos executando a lei aprovada por esta Casa, mas que a casa fiscal maior do Brasil recusa-se a cumprir. Ela rasga a Constituição, interpreta-a do seu próprio jeito”, completou.
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