Fábio Assunção diz que morte de Migliaccio mostra como idosos são desprezados no Brasil

***FOTO DE ARQUIVO*** SÃO PAULO/SP-BRASIL, 24/01/2019 - Fábio Assunção, ator na Pré-estreia da peça Dogville no Teatro Porto Seguro . (Foto: Zanone Fraissat / Folhapress)

***FOTO DE ARQUIVO*** SÃO PAULO/SP-BRASIL, 24/01/2019 - Fábio Assunção, ator na Pré-estreia da peça Dogville no Teatro Porto Seguro . (Foto: Zanone Fraissat / Folhapress)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os atores de "Tapas e Beijos" (2011-2015), série que será reprisada a partir desta terça (4) na Globo, se emocionaram nesta quarta-feira (29) ao lembrar do ator Flávio Migliaccio, que morreu no dia 4 de maio aos 85 anos. Na trama, ele interpretava o seu Chalita, libanês dono do restaurante Rei do Beirute, onde Fátima (Fernanda Torres) e Sueli (Andrea Beltrão) costumavam comer.

Em entrevista coletiva por videoconferência com o elenco da série, Fábio Assunção disse considerar a morte de Migliaccio política ao levar a reflexão sobre como os idosos são tratados hoje no Brasil. "A gente vê os nossos velhos solitários, invisíveis, desprezados", afirmou. Ele disse também que há muitas pessoas sozinhas atualmente, que não têm espaço no mercado e não são valorizadas.

"Eu queria chamar a atenção para isso. Que bom que o Flávio vai reaparecer na sua melhor forma, levando para o público a sua arte e a sua alegria." Antes do início da entrevista, foi apresentado um vídeo de Flávio nos bastidores das gravações de "Tapas e Beijos", em que ao lado de outros artistas da série, ele canta um samba. "Acho que esse vídeo mostra o Flávio sendo respeitado e valorizado dentro do espaço artístico, e como isso trazia vida para ele", completou Assunção, que dedicou a série ao ator.

Assunção acrescentou que costumava chamar Migliaccio de sir, título dado pela realeza britânica como forma de reconhecimento público. "Se fosse em outro país, ele receberia o título de sir pelo conjunto da obra, pela persistência com a sua arte, pela dedicação de uma vida inteira."

Migliaccio foi encontrado morto em seu sítio em Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro. A morte foi confirmada como suicídio por seu único filho, Marcelo, segundo quem o pai estava em depressão profunda desde o ano passado. O ator deixou cartas à família.

Um dos mais emocionados ao falar sobre a morte foi o ator Érico Brás, que chorou ao relembrar de Migliaccio. Ele afirmou que uma das passagens mais engraçadas que viveu ao lado do ator foi quando eles "fugiram do set de gravações", porque teriam um grande espaço livre entre uma cena e outra, e foram ao cinema ver o lançamento de um filme.

"Ele disse: 'Vamos fugir, almoçar no shopping e assistir ao lançamento de 'Um Conto Chinês' [2011]". E nós demos um drible muito bem dado na produção e fomos. Foi maravilhoso, me senti um filho do Flávio sentado ao lado dele [...] tenho lembranças profundas desse cara, que foi um mestre para mim", afirmou.

Para Andrea Beltrão, Migliaccio era o astro-rei do programa. "Ele era o nosso poço de sabedoria, um ator imenso, que vai deixar muita saudade. Vai ser muito bom revê-lo na série." Ela e o ator também contracenam juntos na série "Hebe", que vai ao ar a partir desta quinta (30), na Globo.

O diretor Mauricio Farias lembrou que teve o prazer de começar na carreira artística ao lado de Migliaccio no filme "As Aventuras de Tio Maneco", de 1971, protagonizado e dirigido pelo ator. Farias era uma das crianças do longa, e disse recordar como Migliaccio já passava essa atmosfera poética e sensível nas gravações.

"Tudo o que ele fez, eu acho que apontou para esse lugar de compartilhar felicidade, de compartilhar conhecimento, compartilhar valores humanistas que ele considerava importante. O Flávio era um cara que pensava em um mundo melhor, e acho que isso é que foi desesperando ele nesse momento", concluiu.


Fonte. Yahoo.com.br


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