domingo, 17 de maio de 2020

Perguntas e respostas sobre a imunidade contra o coronavírus


Profissionais de saúde desinfetam as luvas enquanto realizam testes para diagnosticar o coronavírus
RIO — Os coordenadores do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ Amílcar Tanuri e Orlando Ferreira explicam a seguir os principais pontos sobre a imunidade conferida por anticorpos contra o coronavírus face ao conhecimento atual da Covid-19.
Quem teve Covid-19 está imune?
Uma boa parte das pessoas que contraíram Covid-19 vai desenvolver imunidade, diz Amílcar Tanuri. Mas não se sabe quando nem por quanto tempo. Há sinais de que a maioria das pessoas só desenvolve anticorpos 20 dias após o surgimento dos sintomas. Uma pesquisa francesa sugere que após 28 dias surgem os almejados anticorpos neutralizantes.
Todo anticorpo tem a mesma ação?
Não. O corpo produz centenas dessas substâncias de defesa. Mas apenas uma parte delas realmente impede a infecção ao bloquear a entrada do vírus na célula humana. Para “neutralizar” o coronavírus, o anticorpo precisa se ligar a uma parte específica da proteína S ou espícula. Ela é a “chave” usada pelo vírus para invadir as células.
Há reinfecção?
Aparentemente não. O que existe é a persistência da doença, cujos sintomas podem desaparecer e reaparecer após alguns dias em certos pacientes. Orlando Ferreira diz que o grupo de estudo da UFRJ tem acompanhado pessoas que negativaram e depois voltam a positivar. A quantidade de vírus durante a doença é oscilante. Não é reinfecção, essas pessoas nunca conseguiram se livrar do vírus.
Por que isso acontece?
Também não se sabe. Pode ser consequência do ataque do sistema imunológico contra o coronavírus e da resposta dele. Os sintomas surgem à medida que o corpo perde batalhas e cessam quando o vírus é derrotado.
E quando isso ocorre?
Igualmente não se sabe. Há relatos de pacientes na China e na Itália que reclamam de volta de sintomas ou de sequelas dois meses após a doença e com testes negativos. Não se sabe se esses problemas são decorrentes da ação do vírus ou sequelas.
Os testes sorológicos atuais atestam imunidade?
Não. Eles mostram que uma pessoa foi exposta ao coronavírus. Mas não dizem se ela desenvolveu imunidade.
Por quê?
Porque eles não distinguem e apontam anticorpos que realmente impedem a invasão do vírus, isto é, que detém a infecção. A maioria dos testes rápidos, por exemplo, sequer informa que proteína do coronavírus usa para provocar uma reação. Quase todos, explica Orlando Ferreira, empregam proteínas do vírus mais fáceis de produzir em larga escala. A proteína alvo deveria ser a S, mas ela é difícil de trabalhar e, por isso, não é empregada ainda.
Algum teste detecta esses anticorpos neutralizantes?
Sim, o chamado teste de neutralização. Ele é feito expondo células em cultura ao SARS-CoV-2. Somente soro com anticorpos neutralizantes pode evitar a morte das células. Se o vírus não consegue se multiplicar, é sinal de que há anticorpos protetores em ação.
Por que esse teste não é empregado na população?
Porque não é viável em larga escala. Ele precisa ser realizado em laboratório de segurança de nível três (por manipular diretamente o vírus), demanda cultivo de células e leva cerca de cinco dias. É um teste “artesanal”.
E que exame poderá ser usado para atestar imunidade?
Estão em desenvolvimento testes do tipo Elisa, que podem ser automatizados. Eles buscarão anticorpos específicos para a proteína S. Para isso, é preciso produzir antígenos (partes da proteína viral) que possam ser reconhecidos pelos anticorpos.
Uma vez imune, a pessoa estará protegida por toda a vida?
Não sabemos nem quando surgem esses anticorpos protetores nem por quanto tempo essa imunidade será mantida, se por meses, anos ou por toda a vida. Temos que lembrar que conhecemos pouco o vírus. Ao que se sabe até agora, os primeiros casos na China são de outubro, diz Orlando Ferreira.
Por que uma pessoa que teve Covid-19 e depois deu negativo em teste molecular volta a ficar positiva?
Porque provavelmente ela nunca ficou negativa. Apenas a quantidade de vírus diminuiu e não foi detectada e, depois, voltou a crescer. Mas pode ser também devido à sensibilidade do exame ou problemas na coleta do material.
Quão infecciosa é uma pessoa após o fim dos sintomas?
Não sabemos por quanto o tempo o vírus pode se manter se multiplicando e que quantidade de vírus seria necessária para que pessoa transmita a doença.
E o que isso significa em relação ao prazo de quarentena?
Isso é uma preocupação. O término da quarentena não significa dizer que não esteja transmitindo. Os cuidados de usar EPIs devem ser mantidos. Não se sabe o quão contagiosas são essas pessoas, qual a sua capacidade de transmitir vírus. As pessoas tem que ter essa consciência. Isso é particularmente importante com profissionais de saúde.

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