domingo, 22 de dezembro de 2019

Seria Crivella um neochaguista?

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O prefeito que está indo embora, insisto, fez uma revolução por minuto no Rio.

Pergunte a um paulista, que costuma tratar o carioca com certa emulação, o que acha do sucesso, em certas praias deste balneário, da crítica que Marcelo Crivella faz à administração Paes por só se preocupar com obras e se “esquecer das pessoas”. A primeira reação dos “mano” seria indagar: “Pô, meu, como ser contra obras?” Depois, emendariam com algum deboche, tipo: se carioca fosse peru, escolheria como festa preferida o Natal, quando a ave é submetida ao martírio.
O prefeito que está indo embora, insisto, fez uma revolução por minuto no Rio. Enquanto Fernando Haddad, moço de fino trato, debatia-se com o fechamento da Av. Paulista para carros no domingo, ou na limitação da velocidade do trânsito nas marginais do Tietê, Eduardo Paes tocava obras importantes por aqui, como os BRTs e VLTs e a recuperação da Zona Portuária, sem falar em quase 500 escolas e clínicas da família. A prefeitura do Rio investiu, no ano passado, 19% do Orçamento, o dobro da taxa de São Paulo (9,1%).
Mas, num clima nacional de nojo e asco com a atividade política que resultou numa enxurrada de brancos e nulos, nosso alcaide falante — e mais ainda seu insosso candidato — não soube convencer as pessoas de que obras geram renda e emprego. Paes também não soube explicar que Rio e Estado do Rio, apesar do mesmo nome e sob a administração do mesmo partido, o fedorento PMDB, viviam realidades distintas. O samba do crioulo doido fez com que, nesta eleição, se discutisse muito mais segurança pública, cuja responsabilidade maior é de Pezão e Temer (não necessariamente nessa ordem), do que, por exemplo, os problemas das favelas.
Na verdade, cuidar das pessoas, como insiste a propaganda de Crivella, é tudo de bom, tarefa nº 1 de qualquer homem público. Só que há formas e formas de se fazer isso. Há peixe e vara de pescar. Esse discurso, aliado à ligação dele com a Universal, que, como todas as igrejas, tem a compaixão e a caridade como mantras, permite supor que um eventual governo Crivella flertaria com o assistencialismo e o clientelismo. Se eu estiver certo, ele, o candidato de fala pastoral, está mais perto do “chaguismo” do que do “lacerdismo” ou “brizolismo”. Como lembra Marly Motta, nossa historiadora maior da política fluminense, os governos Carlos Lacerda (1960-65), Chagas Freitas (1971-75) e Leonel Brizola (1983-87; 1991-95) “tornaram-se referência constante para os candidatos e os eleitores da cidade do Rio, os quais buscavam identificações com um conjunto de realizações no campo social e econômico, e com o compartilhamento de valores e crenças”.
Veja esse antigo projeto do Cimento Social do Crivella. A ideia é generosa: ajudar as famílias a concluírem suas casas com estabilidade estrutural e condições sanitárias, além de velar pelo entorno. Mas isso é um pingo num oceano, embora, para quem foi beneficiado, seja um presente de Deus. Esse tipo de ação, que estreita as relações do político com o eleitorado, que por sua vez se torna credor de voto ao benfeitor, foi notável durante o chaguismo e ficou conhecido no mundo da sociologia como a “política da bica d’água”, a de paliativos. Imagina o sucesso que era a instalação de uma bica nos anos 1970, quando a maioria das favelas ainda não tinha água encanada, e cujo drama Joaquim Antônio Candeias Junior (1923-2009) imortalizou nos versos: “Lata d’água na cabeça/Lá vai Maria, lá vai Maria/Sobe o morro e não se cansa/Pela mão leva a criança/Lá vai Maria.”
Marly Motta reconhece que a tentação teórica de aproximar o crivellismo do chaguismo é grande. “Mas há poréns: Chagas era um chefe com longa tradição na política carioca, senhor inconteste da máquina política que ajudou a montar na cidade. Nunca passou, no entanto, pelo teste das urnas em eleição direta para o Executivo.” Faz sentido.
Fonte, Anselmo Gois.

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