Lula foi um exemplo também como preso político
"Mesmo em cativeiro, sua alma esteve mais livre do que
a de seus algozes. Suas atitudes, a de transformar o negativo em positivo e a
de expressar gratidão permanente, foram os traços marcantes de Lula na
prisão", escreve Leonardo Attuch, em apresentação para a nova edição do
livro "Lula e a Espiritualidade".
(Apresentação da nova edição do livro "Lula e a
espiritualidade") – A obra de Luiz Inácio Lula da Silva como líder
sindical, fundador de partido político e presidente da República já foi cantada
em prosa e verso. Dezenas de milhões de brasileiros saíram da pobreza, o Brasil
viveu seu maior ciclo de crescimento com inclusão social e passou a ser
respeitado no mundo todo como uma das grandes nações do planeta.
O que não se poderia antever era o exemplo que Lula viria a
dar como preso político, condição em que foi colocado no dia 7 de abril de 2018
para não disputar uma eleição presidencial que, segundo todas as pesquisas, venceria
com relativa facilidade.
No cárcere, Lula suportou os 580 dias de injustiça com
altivez e dignidade, mas sobretudo com uma determinação: a de transformar
qualquer emoção negativa em positiva. Foi isso o que ele nos disse na
entrevista que concedeu à TV 247, pouco depois de deixar a cadeia. “Eu, quando
cheguei lá, me dotei da necessidade de não permitir que a prisão me abalasse.
Tudo o que as pessoas diziam que era ruim, eu transformava em algo positivo. E
assim eu fui levando. Isso me fez viver razoavelmente bem”, disse ele.
Esta afirmação de Lula carrega profunda sabedoria: a de que
é possível transformar toda e qualquer adversidade num trampolim para o
progresso, seja ele material ou espiritual. Não por acaso, Lula também afirmou
em diversas ocasiões que deixava a prisão melhor do que entrou. Tanto é
verdade, que aqueles que o visitaram relataram entrar tristes na masmorra de
Curitiba, mas saírem alegres e revigorados pela conversa com Lula.
Como no ditado popular, o ex-presidente soube fazer do limão
que lhe entregaram uma doce limonada – ou mesmo, talvez melhor ainda, uma bela
caipirinha. Em vários momentos, Lula
expressou o sentimento de gratidão por todos os homens e mulheres que estiveram
ao seu lado, na Vigília Lula Livre, ao longo desses 580 dias de sequestro pelo
estado brasileiro. Lula não reclamou do destino, jamais choramingou pelos
cantos, nem permitiu que o ódio o dominasse.
De certa maneira, mesmo em cativeiro, sua alma esteve mais
livre do que a de seus algozes – muitos deles, prisioneiros das mentiras que
criaram. Essas duas atitudes, a de transformar o negativo em positivo e a de
expressar gratidão permanente, são também ações essencialmente religiosas e
estão presentes nas tradições budistas e zen. Não no sentido de seguir dogmas,
cumprir rituais ou obedecer a qualquer ortodoxia, mas simplesmente de saborear
a magia do universo e a beleza de cada dia – mesmo os dias mais feios e
terríveis, como aqueles que o Brasil momentaneamente atravessa, sob o comando
do fascismo que nos envergonha diante do mundo civilizado.
Não fosse a prisão, não teria havido Vigília – e Lula talvez
não tivesse tantos motivos para agradecer. Não fosse a injustiça, o Brasil não
conheceria Lula nesse seu novo “lugar de fala”: o do preso político, como já
foram, em outros tempos, grandes personagens da História como Nelson Mandela,
Pepe Mujica, Gandhi e Nehru, apenas para citar alguns casos notórios.
Portanto, para nós, do 247, foi motivo de imensa alegria
participar como co-editores, em companhia da Kotter Editorial, deste livro
organizado pelo jornalista e amigo Mauro Lopes, que reuniu artigos de tantos
líderes espirituais que estiveram ao longo do ex-presidente Lula ao longo desta
travessia. Não apenas porque, com ele, estreamos no mercado editorial de
livros, sonho antigo que acalentávamos, mas porque pudemos oferecer ao público
um livro com profundos ensinamentos a partir das percepções que homens e
mulheres de extrema sabedoria tiveram nos seus encontros com este ser humano
singular – e também exemplar – que é Luiz Inácio Lula da Silva.
Que todos possam aprender com sua lição: a de que a vida
deve ser saboreada em todos os momentos.
São Paulo, 18 de dezembro de 2019 .
Fonte. Brasil 247
Leonardo Attuch é jornalista e editor do site Brasil 247 e
da TV 247
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