Ministro promete reduzir desmatamento, mas não apresenta meta
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA, (Reuters) - Depois do desmatamento ter alcançado
nos últimos 12 meses o maior nível desde 2008, o ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, prometeu nesta quarta-feira que o governo vai se empenhar na
redução da atividade ilegal, mas não estabeleceu metas ou prazos.
“O que percebemos é que mais importante que estabelecer metas
numéricas é estabelecer uma estratégia. Estratégia inclusive que o primeiro
item é o alinhamento com os Estados, que ficou 100% estabelecido hoje”, disse o
ministro em entrevista depois de reunião com os governadores dos nove Estados
da Amazônia Legal.
Segundo o ministro, a intenção já é ter uma redução do
desmatamento no próximo Prodes, em 2020, “e do ponto de vista de tendência, eliminar
o desmatamento ilegal”.
Os dados do Prodes, sistema de vigilância do desmatamento na
Amazônia, foram apresentados na última segunda-feira e mostram que, entre 1 de
agosto de 2018 e 31 de julho deste ano foram desmatados 9.762 quilômetros
quadrados de mata nativa na região, maior valor desde 2008. O ritmo de
crescimento entre 2018 e 2019, de quase 30%, é também o maior da última década.
Parte da estratégia do governo, alinhado com os governadores,
segundo o ministro, é obter recursos internacionais para desenvolver atividades
econômicas legais na região Amazônica, e isso será levado como posição
brasileira a Conferência das Partes 25 (COP25), em Madri, no próximo mês.
“É necessário que recursos em volume considerável,
compatíveis com a preservação da Amazônia, passem a fluir para países em
desenvolvimento. Há um alinhamento total dos Estados com governo federal para
essa negociação”, garantiu o ministro.
Questionado sobre como o Brasil pretende convencer os demais
países a investirem em ações no atual governo, já que o desmatamento vem
aumentando e o país não deve cumprir a meta que se autoimpôs em 2015, Salles disse
que o Brasil está indo bem.
“Não concordamos que não estamos indo bem. O ano-base é 2005.
O Brasil está indo muito bem na redução de emissões, em tudo. O que não está
indo bem é receber os recursos que foram prometidos e são essenciais.
Precisamos obter os recursos que nos foram prometidos e até agora não
recebemos”, disse Salles, acrescentando que a partir de 2020 os recursos
internacionais prometidos aos países em desenvolvimento para serviços
ambientais alcançariam 100 bilhões de dólares.
A estratégia, no entanto, pode ser difícil de ser implementada.
Até agora, o governo brasileiro criou diversos problemas para investimentos
estrangeiros na questão ambiental e o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer
que ONGs estrangeiras estariam “pondo no bolso” os recursos recebidos.
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro acusou, especialmente os
países europeus, de estarem “comprando a Amazônia” e de quererem retirar a
soberania brasileira na região. O Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e
Noruega para ações de preservação, está paralisado e os dois países retiraram
os recursos previstos em resposta a mudanças feitas pelo atual governo e às
declarações de Bolsonaro, que nesta quarta-feira disse que o Brasil não vai
acabar com a destruição da floresta por se tratar de uma questão “cultural”:
“Você não vai acabar com desmatamento. Nem com queimada. É cultural.”
Salles, no entanto, afirma que o Brasil presta serviços
ambientais ao clima e ao planeta e que se a Amazônia tem um alto nível de
conservação, o apoio dos países ricos precisa se concretizar.
“O grande ator do crescimento no desmatamento na Amazônia é a
ausência de dinamismo econômico na região”, afirmou.
Salles traçou outras três estratégias resolver essa questão,
já faladas anteriormente, e que incluem a regularização fundiária, o zoneamento
econômico-ecológico para definir o potencial econômico de cada área, e uma
agenda de bioeconomia, para incentivar produtos vindos da floresta.
Segundo o ministro, essas questões precisam deixar de ser
ideias para serem “uma atitude concreta, transformando essas ações em um
ambientalismo de resultado.”
A reunião com os governadores também analisou o uso de verbas
oriundos da recuperação de recursos da Petrobras pela operação Lava Jato. O
ministério terá 230 milhões de reais e os Estados, outros 430 milhões. Salles
não detalhou como serão usados os recursos da sua pasta.
Já os governadores, segundo Flávio Dino, do Maranhão, usarão
a verba para ações de prevenção e repressão aos crimes ambientais e também na
legalização fundiária.
“Consideramos que
esses aspectos são a garantia de que a lei será respeitada”, disse o
governador.
Reuters.
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