Livre elege Joacine Katar Moreira, uma activista negra
Doutorada em Estudos Africanos, Joacine Katar Moreira deixou
a Guiné-Bissau e veio viver para Portugal para um colégio interno quando tinha
oito anos. É cabeça-de-lista do Livre por Lisboa e foi eleita deputada este
domingo.
O colégio que frequentou era das espanholas Irmãs
Dominicanas da Anunciata e Joacine não se identificava com as restantes
meninas, muitas delas retiradas às famílias em contextos de dificuldades
económicas ou maus-tratos, o que não era o seu caso, explicou em entrevista ao
Diário de Notícias. Joacine conta que gostava muito de ir à escola, mas, quando
chegou a Portugal, foi colocada de novo no segundo ano porque era o que se
fazia habitualmente às crianças de origem africana. Esta contrariedade
motivou-a a esforçar-se nos estudos, o que não a impedia de passar “o tempo
todo a questionar tudo”.
A primeira vez que concorreu pelo Livre foi nas legislativas
de 2015. Ocupava o 22º lugar na lista de Lisboa, o que acabou por lhe garantir
uma certa “invisibilidade”. Em 2019, tornou-se na primeira mulher negra a
encabeçar a lista de um partido a eleições legislativas. Foi convidada para
entrevistas e programas de televisão e foi estrela nas acções de rua. A gaguez
que a acompanha desde pequena não a inibiu. No colégio, essa condição também
nunca a impediu de apresentar as festas de Natal ou de ler em voz alta sempre
que era necessário.
Gaguez não é mental
Foi a partir do nascimento da filha que Joacine percebeu que
não podia tentar esconder ou disfarçar a situação. “Eu gaguejo quando falo, não
gaguejo quando penso. O que é um risco enorme na Assembleia são os indivíduos
que estão lá e que gaguejam quando pensam”, disse recentemente no programa
Gente Que Não Sabe Estar, da TVI, apresentado por Ricardo Araújo Pereira.
JOACINE KATAR MOREIRA FUNDOU E É PRESIDENTE DO INMUNE -
INSTITUTO DA MULHER NEGRA EM PORTUGAL, QUE NASCEU EM 2018. DESCREVE-O COMO UMA
“ENTIDADE ANTI-RACISTA” E “FEMINISTA INTERSECCIONAL” QUE QUER INTERVIR NA
SOCIEDADE E PRODUZIR CONHECIMENTO SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DAS MULHERES NEGRAS. A
CRIAÇÃO DE QUOTAS ÉTNICO-RACIAIS É UMA DAS MEDIDAS DO LIVRE, ASSIM COMO A
RECOLHA DE DADOS ÉTNICO-RACIAIS SOBRE A POPULAÇÃO NOS CENSOS E A ALTERAÇÃO DA
LEI DA NACIONALIDADE, DE FORMA QUE TODOS OS CIDADÃOS QUE NASÇAM EM PORTUGAL SEJAM
AUTOMATICAMENTE PORTUGUESES.
A ideia de regressar à Guiné passou-lhe pela cabeça, mas por
pouco tempo, mas Joacine sente que Portugal é que é a sua terra e disse-o em
entrevista ao jornal i. A primeira viagem que fez foi precisamente à terra
natal para visitar a avó, com dinheiro que poupou quando ainda estava no último
ano da licenciatura. Agora o próximo destino: a caminho do Palácio de São
Bento.
Baseado num texto originalmente publicado a 4 de Outubro
Fonte. https://www.publico.pt/
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