Representantes de escolas de samba protestam em frente à prefeitura
RIO — Representantes de escolas de samba do Rio de Janeiro fizeram uma
manifestação em frente à prefeitura da cidade, na tarde deste sábado. O grupo
protestava contra o anúncio do prefeito Marcelo Crivella, informando que haverá
cortes na subvenção de todos os grupos de agremiações que desfilam no Rio.
Integrante da Comissão de Carnaval da Beija-flor de Nilópolis, Cid
Carvalho alertou para a importância que as escolas do Grupo Especial têm para
toda a cadeia produtiva do setor. Segundo ele, as agremiações que desfilam na
Estrada Intendente Magalhães, além de precisarem da subvenção do executivo
municipal, contam com o apoio das grandes escolas.
— É um efeito dominó. Se mexer no Especial, a prefeitura inviabiliza a
apresentação na Intendente Magalhães. Neste momento, nós (carnavalescos do
Grupo Especial) temos uma dificuldade gigantesca para conseguir captar
patrocínio devido à crise econômica que assolou o país — diz ele, para
acrescentar: — O enredo da Beija-flor está indefinido porque depende de
planejamento para saber quanto poderá investir.
Coordenador da Comissão de Carnaval da escola de Nilópolis, Laíla também
criticou Marcelo Crivella:
— Na Beija-flor, temos mais de 140 funcionários que trabalham o ano
inteiro para que o desfile aconteça. Essa manifestação foi organizada pelo
povo. Estou aqui como cidadão do samba. Tenho 74 anos e desde os 8 anos vivo o
carnaval. Eu respiro isso e sei da importância dessa manifestação cultural para
a nossa cidade.
Outro que também mostrou seu
descontentamento com as medidas adotadas por Marcelo Crivella foi o
carnavalesco da São Clemente, Jorge Silveira.
— Eu acho que o prefeito e sua equipe têm um entendimento muito errado sobre tudo que representa o carnaval. Em qualquer país civilizado, manifestações culturais têm forte investimento para que o local possa atrair mais turistas e reforçar sua identidade. E esse problema de distanciamento do executovo com a folia é grave demais — critica.
Concentracao
contra o corte de verbas para o desfile das escolas de samba, anuciado pelo
prefeito Crivella, em frente a prefeitura. - Monica Imbuzeiro / Agência O Globo
Coreógrafo da Comissão de frente da
azul e branco de Nilópolis, Marcelo Misailidis ressaltou a importância do ato.
— Esse é um bom momento para que
possamos explicar para toda a população o quanto é importante esse investimento
num dos braços econômicos da cidade. Para governar, é preciso olhar para muitas
demandas, não apenas as suas como prefeito ou governador. O carnaval já perdeu
subsídios da Petrobras, do Governo do Estado... Agora, a prefeitura, que mais
se beneficia dessa festa, quer cortar tudo isso — revolta-se.
Durante o evento, o comentarista de
carnaval Milton Cunha se reuniu com baianas de várias agremiações e todos
entoaram antigos sambas que fizeram sucesso na Marquês de Sapucaí.
Por volta das 17h, o grupo saiu em
caminhada pela Rua Afonso Cavalcanti, cantando sambas de sucesso, como Liberda,
liberdade.
— O Estado é laico. O Crivella está
traindo o mundo do samba. Durante às eleições, ele se reuniu com todas as
agremiações e prometeu todo apoio. Só servimos para ajudar a eleger o prefeito
e mais nada. Ele tem que pensar como prefeito e não como bispo — diz Verônica
Cristina Gonçalves, de 34 anos, componente da ala das baianas da Mangueira.
Relembre:
O prefeito Marcelo Crivella disse, na
segunda-feira (12), que planeja cortar pela metade a subvenção concedida às
escolas de samba do Grupo Especial a partir do carnaval de 2018. Os recursos
das escolas seriam remanejados para dobrar as diárias pagas por criança às
creches privadas conveniadas com a prefeitura. Nos dois últimos anos
(2016-2017), cada escola do Grupo Especial recebeu R$ 2 milhões da prefeitura.
Com o corte, esse valor passaria para R$ 1 milhão por agremiação, que corresponde ao que cada escola recebeu há dez anos, em 2008.
O prefeito argumentou que precisa dos recursos, e que o corte não iria
interferir tanto no evento se os sambistas forem valorizados.
Via Jornal O Globo
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