Parlamento venezuelano aprova lei de anistia para opositores presos
Controlado pela oposição, o Parlamento da Venezuela aprovou em primeira instância, nesta terça-feira, uma lei de anistia para opositores presos.
O governo de Nicolás Maduro promete bloquear sua execução.
"Aprovado" - anunciou o presidente do Legislativo, o ferrenho antichavista Henry Ramos Allup, em meio a aplausos e gritos de "liberdade", após um ardoroso discurso, no qual advertiu os chavistas de que "vão sair do poder democraticamente".
"Este governo em sua agonia (...) não poderá continuar se sustentando de costas para a realidade nacional, nem que nos coloquem na cadeia, nem que ameacem com fuzis, nem que atropelem, nem que chantageiem", afirmou Ramos Allup, elevando o tom da tribuna, antes de submeter a lei à votação.
Minutos antes, Diosdado Cabello, número dois do chavismo e ex-chefe parlamentar, também falou na tribuna.
"Aqui, vocês podem fazer o que quiserem, mas essa lei de impunidade não vai ser exercida, nem vai ser executada. Não vai haver liberdade para os assassinos", garantiu.
"Esta lei é a continuação do golpe de Estado, ampara qualquer ato da oposição venezuelana para tirar o governo (...), para acabar com a revolução", manifestou Cabello no Congresso.
Pelo fato de a oposição ter maioria qualificada, acredita-se que a votação em segunda instância deve acontecer já nos próximos dias. Em seguida, será necessária a promulgação do presidente Maduro, que já anunciou seu veto.
"Esta lei visa a pôr um fim a uma era de prisão e perseguição por razões de pensamento distinto. Não podemos falar de justiça enquanto houver presos e exilados políticos", disse a deputada de oposição Delsa Solórzano, ao apresentar o projeto, em meio a gritos de "liberdade" de familiares de opositores presos que compareceram à tribuna de convidados.
Do lado do governo, o deputado Elías Jaua qualificou o projeto de lei de "amnésia criminosa".
"Este autoperdão só tem precedentes com genocidas (...) Isto não vai unir a Venezuela, mas aprofundar a fratura social", afirmou Jaua no púlpito.
"É esperado um longo caminho para esta lei. A libertação dos presos precisa da resolução do conflito institucional que vive o país", declarou à AFP o constitucionalista José Ignacio Hernández.
O analista explicou que Maduro poderia enviar o projeto para a revisão da Sala Constitucional, o órgão mais poderoso do Supremo Tribunal de Justiça (STJ). Segundo a oposição, o STJ serve ao governo, o que poderia produzir outra frente de tensão no marco da crise institucional.
O objetivo da anistia é beneficiar 75 dissidentes presos. O texto começou a ser debatido dois anos depois dos protestos violentos em que foi detido o opositor radical Leopoldo López. As manifestações terminaram em 43 mortos.
O governo rejeita a anistia, alegando que beneficiará "terroristas" e "assassinos", como consideram López. Ele foi condenado em setembro passado a quase 14 anos de prisão, acusado de incitar a violência nos protestos de 2014 que exigiam a saída de Maduro do poder.
'Aqui não vai ter golpe!'
A anistia é o projeto emblemático da maioria opositora no Congresso, mas a prioridade, segundo anunciaram ao se instalarem em 5 de janeiro, é a proposta de uma via legal para encurtar o mandato de Maduro. O herdeiro político de Hugo Chávez foi eleito em abril de 2013 para, a princípio, um período de seis anos.
Henry Ramos Allup e o restante da oposição reconhecem que nem a proposta para a mudança de governo nem a anistia serão aplicáveis se não for realizada uma reforma nas instituições-chave, entre elas o STJ.
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