O Brasileiro do Ano. Por Paulo Nogueira
Num ano particularmente duro para os defensores da democracia e dos direitos das minorias, Jean Wyllys foi uma fonte de alento e de esperança.
É o chamado exército de um homem só, tal seu vigor ao combater o bom combate, para usar uma expressão consagrada de São Paulo.
Wyllys se movimenta em duas grandes frente. A primeira, e mais importante, é a Câmara dos Deputados. A outra são as redes sociais, nas quais é um mestre.
Na Câmara, ele é um contraponto precioso a deputados que, liderados por Eduardo Cunha, fizeram de lá um descarado comércio de medidas favoráveis à plutocracia.
Adicionalmente, por artimanhas frequentemente indecentes, a tropa de Cunha esteve por trás de medidas que representam o atraso do atraso do ponto de vista social, como a redução da maioridade penal, a manutenção do financiamento privado de campanhas e o assalto a direitos trabalhistas pela terceirização.
Contra tudo isso Jean Wyllys ergueu sua voz na Câmara, e a estendeu incessantemente nas redes sociais.
Foi épica sua reação a um deputado símbolo de um Congresso deplorável, João Rodrigues. Numa discordância, Rodrigues xingou Wyllys de “escória”.
Recebeu, na hora, o justo troco. Wyllys o chamou de fascista, lembrou uma condenação de Rodrigues por apropriação de dinheiro público, evocou um episódio em que o desafeto foi pilhado vendo filme pornô no plenário e avisou: “Não vão me intimidar.”
O vídeo deste confronto entre o progresso e o retrocesso viralizou nas redes sociais, e foi um dos raros momentos de beleza em 2015 numa Câmara monstruosamente feia do ponto de vista moral.
No ano, Jean Wyllys soube também tomar partido quando ficou claro que havia um grupo interessado num golpe para desalojar Dilma.
Muitos de seus pares no PSOL demoraram a perceber o que estava acontecendo, e com isso ajudaram os golpistas.
Ele não. Desde o primeiro momento se postou como um defensor não de Dilma, não do PT, mas da democracia e de 54 milhões de votos.
Deixou claro – talvez mais até do que o necessário – suas críticas à segunda gestão de Dilma. Mas desmarcarou o golpe em curso: mais uma vez, como de hábito, a plutocracia se mexia, e se mexe, para tirar do poder uma administração popular.
Aconteceu com Getúlio, aconteceu com Jango, quase aconteceu com Lula e agora pode acontecer com Dilma. Jean Wyllys enxergou isso imediatamente.
Num país tão injusto socialmente, pessoas como fazem muita diferença. Excluídos e minorias de toda sorte – negros, índios, mulheres, homossexuais, transexuais – têm nele um defensor infatigável.
No annus horribilis de 2015, quando a direita ultrapassou todos os limites da civilidade, Jean Wyllys avultou como um personagem nacional.
Ninguém como ele encarnou tão bem as causas progressistas. O que Eduardo Cunha tem de negativo Jean Wyllys tem de positivo.
E é por isso que ele é o Brasileiro do Ano.
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