Muçumano e o judeu que salvam vidas juntos em Israel
Ahmed Eid e Elchanan Fried cooperam em Jerusalém Ocidental
JERUSALÉM - Esta é uma triste história sobre um lugar especial, onde judeus e árabes se reúnem para tratar de vítimas e agressores, incluindo crianças. Os colegas os chamam de Bert e Ernie ou Fried e Eid.
Ahmed Eid, de 65 anos, é um muçulmano da vila de Dabburiya, na Galileia. Elchanan Fried, 41, é um judeu de Petah Tikva, no centro de Israel. Ambos vivem hoje em Jerusalém Ocidental.
Eid usa uniforme e touca hospitalares verdes. Já Fried, a mesma roupa verde e um solidéu. Eid é o chefe de cirurgia do Hospital Universitário de Hadassah, em Mount Scopus. Fried é chefe da Unidade de Terapia Intensiva. Ambos olham o tempo todo para os smartphones. Estão de plantão.
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Desde o mês passado — e durante a atual onda de ataques palestinos contra judeus e as retaliações israelenses, incluindo medidas como atirar para matar — os dois trabalham lado a lado. Em 12 de outubro, dois primos palestinos, com idades de 13 e 15 anos, moradores de Jerusalém Oriental, esfaquearam um garoto judeu de 13 anos, que estava de bicicleta, do lado de fora de uma loja de doces. Eles também feriram um judeu israelense de 21 anos.
A vítima de 13 anos, cujo nome está sendo mantido em sigilo a pedido dos pais, chegou ao hospital em péssimo estado.
— Sem a pressão arterial. O pulso era 40. Começaram a fazer respiração através de aparelhos no local — conta Eid, recordando que correu para a cirurgia e começou a trabalhar.
O parceiro dele concorda:
— Chegou mais morto do que vivo — lembra Fried, que correu para ajudar.
A mesma coisa fez um anestesista palestino da Cisjordânia. Estavam todos trabalhando juntos: médicos e enfermeiros muçulmanos, cristãos, judeus ultraortodoxos e seculares, alguns de Israel, outros de assentamentos judaicos, outros ainda de cidades palestinas.
Quando o paciente foi estabilizado, Eid foi à sala de espera, falar com o pai e acalmá-lo:
— Escuta, seu filho ainda está vivo. Vai ficar tudo bem — conta o médico muçulmano, notando que o pai era um judeu religioso. — Meu nome é Ahmed Eid. Sou diretor da cirurgia — acrescentou ele, emendando com uma brincadeira: “Um Ahmed esfaqueou seu filho, e um Ahmed vai salvar o seu filho.”
Ambos os médicos afirmaram que nunca perguntam se o paciente que entra pela porta é uma vítima ou um agressor.
— Nós não perguntamos quem você é. Nós tratamos o terrorista da mesma forma que tratamos a vítima — afirma Eid.
Fried compartilha da mesma posição:
— Eu raramente concordo com o doutor Eid, mas, neste caso, eu concordo — conta o judeu, fazendo uma piada.
Ambos os médicos sorriem e olham para a hora em seus telefones novamente. Fried descreve o hospital Hadassah como “uma bolha”. O diretor do hospital, Osnat Levtzion-Korach, enfatiza que não há distinção no atendimento.
— Nós tratamos pacientes por prioridade médica. Os mais doentes ou feridos em primeiro lugar. Para nós, isso é óbvio. Talvez, para o mundo exterior, seja difícil de entender.
Naquele mesmo dia, enquanto Fried e Eid tratavam as duas vítimas judias, a quilômetros do hospital Hadassah, no bairro de Ein Kerem, o médico judeu Miklosh Bala foi atender o agressor palestino, Ahmed Manasra, de 13 anos. O primo dele, de 15 anos, foi baleado e morto por um policial israelense, enquanto Manasra foi atropelado por um carro ao tentar fugir. Bala, de 46 anos, é o diretor da unidade de traumato-ortopedia do Hadassah. Perguntado sobre o que sentia ao tratar um menino que esfaqueou um menino, Bala tenta explicar:
— É difícil responder a uma pergunta tão pessoal. Tenho um filho de 13 ano s, e realmente não falo sobre isso com ele. Não entendo o que pode levar um garoto de 13 anos a realizar algo assim. Não acho que posso ser criticado por salvar uma vida. É o mais sagrado entre os sagrados. Apenas não entendo quando alguém me pergunta por que salvei a vida de um agressor. Esse é o meu trabalho
Via o GLOBO
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