segunda-feira, 20 de abril de 2015

Mauritânia: o último bastião da escravidão

O país foi o último do mundo a abolir a escravidão, e só em 2007 a prática se tornou crime. Entre 10% e 20% da população ainda é escravizada


Estima-se que entre 10% e 20 % dos 3,4 milhões de cidadãos da Mauritânia sejam escravizados, segundo o relator especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de escravidão, Gulnara Shahinian. Uma equipe da CNN viajou ao país sob o pretexto de cobrir a história de um enxame de gafanhotos, já que só tocar neste assunto- ou denunciá-lo- pode levar à prisão ou extradição.
A Mauritânia foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Isso aconteceu em 1981, quase 120 anos depois dos Estados Unidos. E só em 2007 o país aprovou uma lei que criminaliza o ato de possuir outra pessoa. Até agora, apenas um caso foi processado com sucesso.


Os escravos não costumam ser vendidos, mas sim dados como presente de casamento, ou trocados. Pode-se distinguir claramente os donos dos escravos. Um homem usando uma túnica azul-clara com bordados de ouro no peito é quase certamente livre e vem da classe social de donos de escravos, os “mouros brancos”, que são árabes de pele mais clara. Uma mulher com um véu que cubra os cabelos, mas não os braços, é provavelmente uma escrava. Seus braços estão expostos, o que contraria os costumes locais, para que ela possa trabalhar.

Apesar de todos saberem, ninguém comenta em público o assunto escravidão. Quando confrontado, o ministro do Desenvolvimento Rural do país, Brahim Ould M’Bareck Ould Med El Moctar, declarou que seu país está entre os mais livres do mundo. “Todas as pessoas são livres na Mauritânia e esse fenômeno (a escravidão) não existe mais”, disse ele à equipe de reportagem da CNN.





Reportagem arriscada
A maior parte das entrevistas foram feitas às escondidas, muitas vezes no meio da noite e em locais secretos. A única outra opção era fazê-las na presença de um supervisor do governo, que foi designado para o grupo de reportagem pelo Ministério das Comunicações para garantir que o assunto não fosse mencionado. Segundo o diretor nacional de comunicações audiovisuais, Mohamed Ould Yahya Haye, os jornalistas que tentaram investigar temas ligados à escravidão foram presos ou expulso do país.

A Mauritânia é um país africano no meio do deserto. Ocasionalmente, uma aldeia pode ser vista. Na maioria delas, pessoas de pele escura  trabalham como servos. Eles vivem em tendas feitas de trapos, alguns tão pobres que suas tendas parecem carcaças deixadas para apodrecer ao Sol. É impossível, a partir da estrada, saber com certeza see esses homens e mulheres são escravizados ou se são pagos pelo seu trabalho.
A situação varia. Alguns são espancados e alguns não o são. Alguns são mantidos em cativeiro sob ameaça de violência. Outros são acorrentados por métodos mais complicados, levados a acreditar que a sua pele mais escura os torna menos dignos, que é o seu lugar servir mestres de pele clara. Alguns escaparam e vivem com medo de serem encontrados e devolvidos às famílias que os possuem; alguns retornam voluntariamente, incapazes de sobreviver sem ajuda.
A questão é tão enraizada na cultura do país que é necessária uma revolução na educação, como mostra a história de dois homens de mundos opostos que culminou na criação da ONG SOS Slaves.
Abdel Nasser Ould Ethmane nasceu filho de donos de escravos e quando fez sete anos escolheu seu próprio escravo como um presente. Ele nunca questionou se aquilo era ou não errado até começar a ler, estudar e perceber culturas fora da sua. Aos 17 anos, quando voltou para casa depois de estudar em outra cidade, libertou seus escravos. Mas estes, para sua surpresa, não queriam ser livres.
Junto com Boubacar Messaoud, um escravo que conseguiu estudar graças a sua insistência, a ONG vem fazendo um trabalho que envolve diversas táticas específicas para lidar com o problema. Seus funcionários buscam ex-escravos que queiram contar suas histórias e escravos que queiram ser livres. A ONG só pode agir se os escravizados quiserem a liberdade, porque na maioria das vezes, as correntes que os seguram não são físicas.


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